sábado, 27 de junho de 2015

A IMPORTÂNCIA DO AÇÚCAR PARA A OCUPAÇÃO DO LITORAL ORIENTAL DO NORDESTE BRASILEIRO

Por José Romero Araújo Cardoso[1] e Marcela Ferreira Lopes[2] 

Desviar recursos dos lucrativos negócios com as especiarias do oriente foi uma decisão extremamente arriscada para o reino Lusitano, mas ocupar as terras que lhe coube quando da partilha com o Tratado de Tordesilha era essencial, pois as incursões de corsários estrangeiros ameaçavam os domínios portugueses no novo mundo.
          
Ao contrário da Espanha que descobrira metais preciosos em seu quinhão territorial nas Américas, Portugal teve que viabilizar, bem como garantir lucros fabulosos que compensassem o investimento na ocupação territorial brasileira, optando pela empresa agrícola como suporte à sua política mercantilista, a qual teria que se destinar a fabricação de um produto de larga aceitação no mercado europeu.
          
O açúcar surgiu como opção imediata, pois a ausência da concorrência espanhola, tendo em vista que estava dedicada com exclusividade à extração de metais preciosos, viabilizou a colonização brasileira a partir da atividade canavieira no litoral oriental nordestino.
          
Portugal tinha experiência de cultivo e produção de açúcar em ilhas do atlântico. A demanda pelo produto no mercado europeu era algo tão proeminente que há registro que açúcar foi deixado em testamentos por nobres europeus.
          
Clima quente e úmido, com duas estações bem definidas, a presença de solos aluviais (massapê), bem como eluviais, oriundos da decomposição de rochas cristalinas, fomentaram as razões para a escolha do litoral oriental nordestino para a instalação das unidades produtivas, as quais trouxeram consigo a ênfase à formação sócio-econômica-espacial brasileira, assentada em pilares compreendidos pela monocultura canavieira, pelos latifúndios e pelo trabalho escravo, inicialmente indígena, depois africano.
          
A expressão geográfica do domínio canavieiro estendeu-se do sul do Rio Grande do Norte até Salvador, na Bahia. O recôncavo Baiano foi ocupado tanto pela cana-de-açúcar como pela cultura do tabaco, tendo em vista ser esse produto agrícola a moeda de troca por escravos no continente africano.  
          
A presença batava foi fundamental, pois refino e distribuição ficaram a cargo dos holandeses, os quais tiveram no açúcar produzido na colônia portuguesa nas América condição sine qua non para estruturar notável processo de acumulação de capitais.
          
Conforme Sérgio Buarque de Holanda, o quadrilátero principal e característico do engenho de açúcar era formado pela casa grande do senhor de engenho, pela senzala, onde eram abrigados os escravos, espaço insalubre e parecido com as masmorras europeias da era feudal, a capela e a casa de engenho.
          
Ao contrário do que difundiu Gilberto Freyre, esse mundo surgido com a ocupação territorial do nordeste brasileiro não foi marcado pela docilidade em suas relações. Palmares, por exemplo, nunca citado em Casa Grande & Senzala, provou que a fuga de negros para lugares ermos e distantes dos engenhos litorâneos foi um fato que enriqueceu sobremaneira as lutas do povo brasileiro.
          
Os lucros auferidos com o açúcar produzido no litoral oriental nordestino definiram que ainda no século XVI fosse fundada uma série de povoações e vilas. Salvador tornou-se a primeira capital brasileira em razão da importância granjeada pela atividade canavieira.
          
O ônus ambiental faz-se sentir até o presente momento, pois a derrubada indiscriminada de espécies da mata atlântica pode ser elencada como o primeiro grande impacto ambiental brasileiro, tendo em vista que espécies vegetais e animais desse bioma encontram-se em processo de extinção devido a forma como vem sendo agredida desde a gênese da colonização nacional.
          
Correspondendo diretamente às bases da formação sócio-econômica-espacial brasileira, o açúcar tem em suas responsabilidades as diretrizes norteadoras da ênfase às diferenças interclasses que ainda perduram de forma acintosa na sociedade brasileira, a qual insiste em não resolver contradições históricas que multiplicam-se cotidianamente.

[1] José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UERN).

[2] Marcela Ferreira Lopes. Geógrafa-UFCG/CFP. Especialista em Educação de Jovens e Adultos com ênfase em Economia Solidária-UFCG/CCJS. Graduanda em Pedagogia-UFCG/CFP. Membro do grupo de pesquisa (FORPECS) na mesma instituição.

Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso

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