Foto: João Brito Jr/ O Olho
Repórter: Nataniel Lima Publicado por: Nataniel Lima 22/04/2015 07h00 - Atualizado em 22/04/2015
Teresina perde
média de 50 pessoas por ano para o suicídio. Estudo do sociólogo Benedito
Carlos aponta que entre 2001 e 2010 mais de 500 pessoas tiraram a própria vida
na capital
Corda. Produto
tóxico. Arma de fogo. Solidão. Sofrimento. Depressão. Essas são algumas das
possibilidades e meios pelos quais passa uma pessoa que tira a própria vida. Um
assunto ainda muito sensível e delicado de ser falado ou divulgado. No entanto,
as estatísticas de casos de mortes por suicídio apontam a gravidade do tema e
necessidade de discussão pela sociedade.
Segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS), anualmente mais de 800 mil pessoas tiraram
intencionalmente a própria vida. O estudo afirma, ainda, que a cada 40 segundos
uma pessoa comete suicídio. Para a psicóloga especialista em saúde mental,
Eulaliany Kelly, o suicídio não deve ser caracterizado como doença ou
transtorno mental, mas como um ato.
Eulaliany
Kelly conta que o suicídio não é uma doença ou transtorno, mas um ato/ Foto:
Nataniel Lima
“O suicídio,
na verdade, é um momento em que a pessoa está muito vulnerável. E, diante desta
vulnerabilidade, ela comete o ato que muitas vezes pode ser de fato consumado
ou não”, releva a psicóloga. “Se não é consumado fica como uma tentativa de
suicídio. Essa vulnerabilidade é, muitas vezes, gerada em torno de um
sofrimento psíquico”, pontua.
HOMENS JOVENS
COMETEM MAIS SUICÍDIO EM TERESINA
O sociólogo
Benedito Carlos (foto) é bacharelado em Ciências Sociais e mestre em Educação
pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Doutor em Ciências Sociais pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e professor da UFPI, tem
uma série de estudos sobre o tema. Segundo ele, há uma onda de suicídios
planetária motivada, entre outros motivos, por diversas crises sociais e
econômicas.
“O mundo passa
por crises diversas e cada vez que isso acontece um sintoma é o aumento das
taxas de suicídio. Teresina é uma das capitais mais pobres do Brasil, há poucas
oportunidades de trabalho, lazer, estudo”, aponta o professor como uma das
possíveis causas do significativo número de suicídios em Teresina.
As autoridades
de saúde da capital piauiense precisam reconhecer o suicídio como grave
problema de saúde pública, de acordo com professor. “O crescimento da taxa de
suicídios pode ser interrompido com medidas de baixo custo”, acredita o
professor doutor. “O suicídio jamais foi tratado, no estado, como sério
problema de saúde pública, conforme recomenda a Organização Mundial de Saúde.
Nosso sistema de saúde não possui a menor estrutura para orientar, acompanhar e
assistir os fragilizados pela angústia que cerca o drama do suicídio”.
Como objeto de
estudo para seu doutorado, o professor Benedito Carlos estudou os suicídios em
Teresina na primeira década do século XXI. E, de acordo com seus resultados,
entre 2001 e 2010 mais de 500 pessoas tiraram a própria vida, ou seja, cerca de
50 por ano. No período estudado, foram contabilizadas 11 mortes por dengue, 320
por leishmaniose, 389 por AIDs e 562 por suicídio em Teresina. Os dados foram
coletados no Ministério da Saúde, através do Sistema de Informações sobre
Mortalidade.
O estudo mostra,
ainda, que os homens são os que mais cometeram o ato nos últimos anos na
capital piauiense, sendo 69% de homens (um total de 387 homens) e 31% de
mulheres (175 mortes). Os solteiros também são maioria entre os suicidas. No
período pesquisado, foram 315 mortes de solteiros por lesões autoprovocadas
voluntariamente, 198 óbitos de casados, 17 de pessoas separadas e 16 de viúvos.
Os jovens,
entre 15 e 24 anos, são os que mais cometem suicídio (172 pessoas entre 2001 e
2010 em Teresina). Suicídios de jovens entre oito e 14 anos são mais raros na
cidade (oito no período estudado), assim como óbitos autoprovocados
voluntariamente por idosos com mais de 75 anos (nove, ao todo).
FATORES PODEM
SER BIOLÓGICOS E SOCIAIS
Entre os
motivos que levam uma pessoa a cometer suicídio, a psicóloga ressalta uma
multiplicidade de fatores que podem ser de biológicos a sociais. “As causas são
as mais diversas. É qualquer situação que leve o indivíduo a um grande
sofrimento psicológico. Por exemplo, um abuso sexual, violência na família,
perda de emprego, perda de relacionamento”.
Segundo a
psicóloga, é preciso entender que cada pessoa reage diferente aos tipos de
sofrimentos psíquicos. Por conta disso, algumas delas veriam o suicídio como
uma alternativa para aliviar o sofrimento vivido em determinado momento da
vida.
COMO
IDENTIFICAR
“Não dá para
saber se a pessoa é suicida ou não. O que é possível é identificar, de acordo
com o histórico do sujeito, são algumas mudanças comportamentais. Tipo: ele era
uma pessoa extrovertida e da noite para o dia fica uma pessoa de baixo astral”,
conta a psicóloga.
De acordo com
a especialista em saúde mental, a conversa é essencial nesses momentos. “Mas,
para identificarmos mesmo, devemos perguntar. Não vamos saber do outro apenas
deduzindo. É importante que a gente pergunte principalmente se percebermos
alguma mudança que nos faça pensar que aquilo possa realmente acontecer”,
completa.
Eulaliany
Kelly conta ainda que quando se percebe que alguém esta vulnerável deve-se
perguntar se a pessoa está pensando ou se já pensou em tirar a própria vida. “É
importante ressaltar, também, que não há idade, classe social ou raça para o
suicídio”, afirma.
Psicóloga e
especialista em saúde mental fala sobre suicídio/ Foto: Nataniel Lima
COMO PREVENIR
E AJUDAR
Após perceber
a mudança de comportamento de um indivíduo e o indagá-lo sobre seus pensamentos
relacionados a tirar a própria vida, a psicóloga alerta para algumas formas de
prevenção, tais como retirar de perto objetos que possam facilitar a pessoa a
fazer qualquer ato contra a própria vida.
“Cordas,
produtos tóxicos, armas, deixe tudo isso distante da pessoa. E, claro, esteja
sempre com ela. Dando apoio. É uma parte importante isso”, declara. “Dentro da
família é importante que outras pessoas saibam. Pra que todos possam colaborar.
Precisamos construir uma rede de ajuda, especialmente dentro da família”.
Já para o
professor doutor e sociólogo Benedito Carlos, é importante saber que qualquer
pessoa é suscetível a cometer suicídio. “O Estado deve atuar com ações
preventivas para evitar as mortes, porque a maioria não quer morrer, apenas
quer afastar a dor, angústia, o sofrimento. Se forem socorridas, as pessoas
podem dar sentido à vida”, relata o professor.
Para isso
acontecer, o sociólogo afirma que a cidade precisa se preparar para atender os
casos de tentativas de suicídio. “Os gestores de saúde pública precisam criar
equipes multidisciplinares de assistentes sociais, médicos, psicólogos que
façam acompanhamento através de ligações telefônicas, visitas, medicação”,
detalha.
DE SUICÍDA A
“AMIGO HEROI”
Há dez anos,
Paulo Ferreira* tentou tirar a própria vida. O jovem, que na época tinha 16
anos, devido há problemas emocionais e sociais acreditou que seria a melhor
solução para as dificuldades que vivia. “O que me motivou foram os problemas
familiares que vinham aumentando. E eu me via numa situação em que eu não
enxergava uma saída. Sem falar que foi na época que eu me achava diferente por
ser gay”, relata.
Paulo conta
que decidiu tirar a própria vida por se achar uma “aberração” e para dar fim ao
próprio sofrimento decidiu tomar veneno. “Só que eu vomitei e comecei a chorar.
Pensei comigo: ‘nem para morrer eu presto’. Só que eu procurei um amigo para
relatar o que aconteceu e ele me indicou o CVV, o Centro de Valorização da
Vida. Foi lá onde eu tive a certeza que tive uma segunda chance”, revela Paulo
Ferreira.
Após ter sido
acompanhado por psicólogos, Paulo afirma que se interessou em ser voluntário
porque sentia a necessidade de ajudar com uma palavra amiga outras pessoas que
passam pelo que ele passou.
“A satisfação
não tem tamanho. Você estar ali, ajudando o próximo, salvando uma vida, ouvindo
um desabafo, não tem preço. Somos invisíveis, muitos não sabem nem nossos
nomes, nem quem somos, mas choramos muitas vezes juntos. Sem falar que
esquecemos um pouco dos nossos problemas”, conta o voluntário do CVV.
Paulo conta
que seus pacientes e dos outros voluntários costumam chamá-los de “amigos
heróis” e “anjos”, fato que chega a emocioná-los.
*O nome do
personagem foi alterado para proteger a sua identidade.
MITOS SOBRE O
SUICÍDIO
1 - As pessoas
que falam sobre o suicídio não farão mal a si próprias, pois querem apenas
chamar a atenção.
2 - O suicídio é sempre impulsivo e acontece sem aviso.
3 - Os indivíduos suicidas querem mesmo morrer ou estão decididos a matar-se
4 - Quando um indivíduo mostra sinais de melhoria ou sobrevive a uma tentativa de suicídio, está fora de perigo.
5 - O suicídio é sempre hereditário.
6 - Os indivíduos que tentam ou cometem suicídio têm sempre alguma perturbação mental.
7 - Se um conselheiro falar com um cliente sobre suicídio, o conselheiro dará a ideia de suicídio à pessoa.
8 - O suicídio só acontece “àqueles outros tipos de pessoas,” não a nós.
9 - Após uma pessoa tentar cometer suicídio uma vez, nunca voltará a tentar novamente.
10 - As crianças não cometem suicídio dado que não entendem que a morte é final e são cognitivamente incapazes de se empenhar num ato suicida.
3 - Os indivíduos suicidas querem mesmo morrer ou estão decididos a matar-se
4 - Quando um indivíduo mostra sinais de melhoria ou sobrevive a uma tentativa de suicídio, está fora de perigo.
5 - O suicídio é sempre hereditário.
6 - Os indivíduos que tentam ou cometem suicídio têm sempre alguma perturbação mental.
7 - Se um conselheiro falar com um cliente sobre suicídio, o conselheiro dará a ideia de suicídio à pessoa.
8 - O suicídio só acontece “àqueles outros tipos de pessoas,” não a nós.
9 - Após uma pessoa tentar cometer suicídio uma vez, nunca voltará a tentar novamente.
10 - As crianças não cometem suicídio dado que não entendem que a morte é final e são cognitivamente incapazes de se empenhar num ato suicida.
De acordo com o
professor, todos os mitos listados acima são falsos.
AJUDA ESTÁ A
OITO NÚMEROS DE QUEM PRECISA
Para ouvir uma
palavra amiga em momentos difíceis o Centro de Valorização da Vida (CVV) atende
a qualquer momento do dia através do número (86) 3222-0000. Recentemente, a
Prefeitura Municipal de Teresina, lançou um projeto de prevenção ao suicídio.
Trata-se de um
ambulatório chamado de “Provida”, voltado para o atendimento de pessoas com
ideias suicidas ou que já tentaram o suicídio. A Prefeitura de Teresina mantém
o serviço no Lineu Araújo, das 8h às 12h e das 14h às 18h, de segunda a
sexta-feira, com uma equipe formada por um médico e dois psicólogos. O
atendimento inicial não precisa de marcação de consulta.
http://www.oolho.com.br/noticias/noticia/the-deve-se-preparar-para-atender-casos-de-tentativa-de-suicidio-diz-doutor-em-sociologia
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