Por Rangel Alves
da Costa*
Ao entardecer
– e como costumeiramente fazia -, colocou a cadeira de balanço debaixo do
sombreado de uma mangueira, depois sentou, mirou o olhar na mesma direção, e se
fez triste. Uma tristeza sem lágrimas, sem transformações na face, mas com
olhar que espelhava uma saudade imensa.
Não longe
dali, num encontro casual de fim de tarde, a mocinha parecendo distante de tudo
foi despertada pela voz de um velho amigo. O senhor perguntou se podia sentar a
seu lado ali no banco da praça e ela concordou sem palavras. Estava com a voz
embargada demais para pronunciar qualquer coisa.
Então ele
indagou:
“Por que está
assim tão triste, minha filha? Vejo dor no seu olhar, sofrimento na sua feição,
uma tristeza infinita em todo o seu ser. Mas por que está assim?”. E ela respondeu,
num esforço imenso para pronunciar qualquer coisa:
“Nada, meu bom
amigo, nada. Estou apenas no normal de minha vida, que é a tristeza. Não sei o
que seja alegria nem tenho motivos para sorrir. Aliás, também não sei o que
seja sorriso. Para dizer a verdade, igualmente nem sei o que seja tristeza,
pois apenas sei ser assim do jeito que sou. Para estar triste, ao menos deveria
ter instantes de alegria. Mas não, sempre fui assim”.
Então o velho
falou calmamente: “Que bom que você não é nem está triste. Imaginei que sofria
quando a avistei, mas que bom que não é tristeza. Sabe que você fica ainda mais
bela assim, com esse olhar distante e esse lábio parecendo trêmulo? Então
existe uma boa recompensa em ser assim, parecendo tomada de tristeza. Ando muito
contente e até sorridente demais com o que tenho conseguido na vida, mas
gostaria muito de ficar um pouco assim como você. Será que poderia me dizer
como ficar do jeito que está agora?”.
Naquele
momento a mocinha não despertou para a real intencionalidade da pergunta do
velho amigo. Acaso prestasse mais atenção perceberia que ele havia perguntado
sobre o que a fazia ficar triste daquele jeito. Ele queria apenas compreender
as motivações daquela tristeza toda. Mas ela pediu para que o questionamento
fosse repetido. E ele sintetizou:
“Na verdade eu
gostaria de ser do seu jeito, com um aspecto um pouco diferente do que é
normalmente encontrado nas pessoas. Será que pode me ensinar a de vez em quando
ficar assim, silencioso, solitário, com o olhar fixo no nada, com a feição
melancólica?”. Então ela deixou escorrer um pinguinho de lágrima ao responder:
“O retrato na
parede. Aquele retrato de meu pai e minha mãe que me acompanha e não sai do meu
olhar. E aquela voz. Aquela voz me chamando de filha, e a outra voz me dizendo
para não tomar sereno na porta da frente. E, e...”.
“E a
saudade!”. Completou o velho amigo, agora também passando a mão nos olhos
molhados. E os dois permaneceram silenciosos e entristecidos por muito tempo.
Ela sem voz para falar, ele sem ter o que dizer. Apenas tristes. E com uma
tristeza tão grande que sequer percebiam que poesia bela e triste é o sol
sumindo afogueado sumindo entre as nuvens.
E quando a
noite caiu, eis que a janela foi fechada para que o negrume envolvesse o quarto
inteiro. Não era a mocinha nem o velho, nem a mulher da cadeira de balanço, mas
alguém com outros motivos de entristecimento.
Na escuridão,
ouvindo uma inexistente velha canção, se jogou na cama e entre os cobertores
começou a soluçar. E, como fazia sempre, chorava até a madrugada chegar. E
depois adormecia sonhando que era feliz e amada. Acordava no desespero da
solidão, então chorava ainda mais. E um choro tão triste que parecia velando um
coração desesperançado e sem mais razão de viver.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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