Por Rangel Alves
da Costa*
Confesso que
tenho estado distante de Deus. Faço minhas preces diárias, dialogo com minhas
crenças, exerço minha fé incontida, acendo velas ao lado do meu oratório, mas
ainda assim ando afastado de Deus. Não do Deus que acredito, com templo erguido
no meu coração e na minha fé, mas do Deus presente nas Escrituras e cujos
ensinamentos ecoam nas Eucaristias.
Não imaginem
que fraquejei minha crença, que abrandei meu catolicismo. Nada disso aconteceu.
Pelo contrário, continuo cada vez mais um devotado filho dos divinos
ensinamentos. Continuo cada vez mais crendo que somente com a fé, a
religiosidade e a obediência aos preceitos cristãos, o homem não será devorado
completamente pelas tentações mundanas e pelos pecados que insistentemente
acenam.
E é por
ser assim e acreditar assim que ando me sentindo distante de Deus. Alguns dias
sem Deus não significa, contudo, estar longe ou na ausência de Deus. Também não
significar abdicar de sua presença durante algum tempo. Nada disso. Estar
alguns dias sem Deus é estar ausente de sua palavra nas missas, nos sermões,
nas leituras sagradas. É não estar buscando sua fé no silêncio do templo.
Assim tenho
permanecido durante os últimos dias, creio que desde pouco antes do Natal.
Durante quase o ano inteiro, assim que pude, e quase sempre ao entardecer,
segui até algum templo católico para o ofício de fé. Afirmo, contudo, que minha
intenção não é estar ali para assistir missa, mas em busca de momentos de
meditação naqueles espaços grandiosamente sagrados.
Na verdade,
nunca fui adepto de missa ou de qualquer celebração religiosa, mas sempre fui
assíduo visitante a templos e seus céus imaginários, suas simbologias e seus
mistérios. A igreja me faz bem, dentro de sua ambientação, em meio a anjos,
imagens sacras e símbolos. Todo aquele céu imaginário eleva-me espiritualmente
e torna possível a obtenção de muitas respostas para as dúvidas da alma e do
coração.
Certa feita –
e lembro-me como se fosse hoje -, um velho cliente olhou em direção à minha
estante e avistou uma Bíblia Sagrada. Ele pertence a um desses credos de
templos dominicais e pastores eufóricos e saltitantes que mais se preocupam com
o inimigo de Deus do que mesmo com os ensinamentos bíblicos. Mas este senhor,
sem a preocupação de propagar a primazia de sua crença, perguntou-me algo muito
interessante e que daí em diante venho observando com persistência.
Indagou-me
simplesmente se eu estava frequentando a igreja católica. Respondi que apenas
de vez em quando e que meu interesse maior ao visitar um templo era ter aquele
espaço como local ideal para reflexões e diálogo com a santidade. E eu disse
ainda que toda minha fé era exercida no coração, nas preces diárias e nos
instantes escolhidos para me colocar diante do meu oratório.
Então ele
simplesmente disse que tudo isso era bom, porém eu precisava frequentar mais a
igreja. E acrescentou que sua religião não impedia de dizer o quanto é
essencial ao ser humano exercer sua fé também na casa dos ensinamentos divinos.
Em qualquer templo e sob qualquer credo. E que, no meu caso, necessitava sempre
buscar fortalecimento espiritual na igreja católica.
A verdade é
que dei crédito àquelas palavras, principalmente porque sequer falou sobre sua
igreja, demonstrando que sua preocupação era com a fé e não com o credo. E daí
em diante tornei-me mais assíduo aos templos católicos aracajuanos,
principalmente aqueles do centro da cidade – Capela do São Salvador e Catedral
Metropolitana. E, como afirmado, ao entardecer sempre procuro um destes locais
para o exercício da reflexão, em busca de uma prestação de contas espiritual,
de diálogo com santos e anjos.
Outro dia,
estando na catedral na hora da missa, o sacerdote disse que quem tem fé e
reconhece a importância de Deus na sua vida não deve justificar, sob hipótese
alguma, sua ausência da igreja. A igreja não é lugar de ir apenas de vez em
quando, de frequentá-la somente porque precisa de alguma ajuda ou porque
necessita fazer um pedido especial. A igreja deve ser vista como missão, e de
todos os dias, pois a palavra de Deus deve ser semeada com a constância da fome
e da sede da alma.
Mas desde os
últimos dias do ano que ando distante da igreja. Reconheço minha ingratidão
para com minha própria fé. E ainda ouço aquele senhor dizendo para frequentá-la
mais. Os festejos e as comemorações jamais poderiam justificar tal ausência. A
culpa é exclusivamente minha. E porque desejo, preciso ir, então irei ter mais
Deus do meu Deus.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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