quinta-feira, 18 de abril de 2013

UMA FLOR É UMA FLOR? (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)

UMA FLOR É UMA FLOR? 

O que é uma flor?

Os livros dizem ser a flor a estrutura reprodutora característica das plantas denominadas espermatófitas ou fanerogâmicas; o órgão reprodutor das plantas; o órgão reprodutor das angiospermas, constituído por dois conjuntos de folhas (cálice e corola) que protegem as estruturas masculinas (androceu) e/ou femininas (gineceu).

Desse conceito geral, será uma flor apenas uma flor?

Certamente que sim. A flor é e sempre será apenas uma flor. Não significa, contudo, que tenha sempre de ser considerada assim, apenas como o órgão reprodutor das plantas, até porque tal característica é o que menos prevalece diante de quem a enxerga.

Ainda que seja um biólogo, dificilmente olhará para a flor e no instante pensará apenas estar diante de uma estrutura vegetal. Avistará, isto sim, e como uma pessoa de sentimento, o encantamento, a beleza, a singeleza tão própria de cada flor. A sedosidade de suas pétalas, sua cor, seu brilho, seu perfume, o que a imaginação permitir no instante.

Então, a flor está além da flor em si?

Repita-se que a flor sempre será uma flor, mas com o poder de transformação diante da presença e do olhar de cada um. Como afirmado, geralmente as pessoas não procuram nem saber qual árvore fez nascer aquelas pétalas enfeitadas de vida e beleza. Do mesmo modo, nem olham para os espinhos, ainda que alongados e pontiagudos. Só lhes interessa a outra flor, aquela que prefere enxergar.

Seria, então, duas flores em uma?

Não. Uma única flor numa única flor. A flor vegetal, a flor mato, a flor da planta. Aquela crescida no sereno da noite, que recebe o orvalho da madrugada, que precisa de sol para ganhar cor e textura. Aquela em cuja boca se sacia o beija-flor, que recebe a abelha para beijar seu pólen, que é zelosa e prazerosamente cuidada pelo jardineiro. E que o apaixonado furtivamente arranca-lhe do galho.

E esta flor diante da outra flor, surgida no instante em que é avistada?

A flor continua a mesma, porém transformada pela intenção, pelo olhar, pelo desejo, por tudo aquilo que ela tem o poder de transmitir. Ora, tem gente que olha para uma flor e nela avista a face da mulher amada; tem gente que ali encontra versos de amor encantadores; tem gente que a sente como sinal de tristeza, de angústia, de abandono. Aquela mesma flor lhe surge murcha, jogada ao chão, jazendo em canteiros.

Esta é a outra flor?

Sim, esta é a outra flor diante da mesma flor. E se transformará mais ainda acaso seja recolhida da planta e levada com outra destinação. Qual a intencionalidade de quem arrancar a flor da planta, e com galho e tudo, e toma um rumo desconhecido? Talvez vá para a janela da mulher amada, quando a flor simbolizará o amor, a paixão, o desejo. E muitas palavras estarão ali numa pequena rosa.

Talvez caminhe solene e triste para a despedida de alguém. Não pode comprar uma coroa, então segue com aquela flor para colocar ao lado da pessoa querida que vai partir. É a simbolização da morte também existente em cada flor; é a tentativa de aplacar a tristeza e o desalento com o símbolo maior da existência, como a dizer que continuará como um jardim na saudade.

Ou talvez um amargurado que passe pelo jardim para recolher a face distante e depois siga até o banco da praça para chorar suas amorosas dores; um poeta sem inspiração que vai colocá-la sobre a mesa e inventar um verso de espinhos; um noctívago errante que pretenda colocar uma rosa nos cabelos da jovem e bela prostituta.

Quanto a mim, levaram meu jardim e meu roseiral. Queria apenas uma, uma única flor, mas não tenho mais. Por isso escrevo tendo ao lado um jarro com flor artificial. Plástico. Ainda assim sinto um suave perfume. Será que vivo a ilusão insana do velho jardineiro sem jardim?
Sem flor para cuidar, começa a acariciar espinhos.

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.

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