quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

E AGORA JOSEPH, NETO DE JOSÉ? (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

E AGORA JOSEPH, NETO DE JOSÉ?

O poema “E agora, José?”, ou simplesmente “José”, de Carlos Drummond de Andrade, foi escrito em 1942. Em busca do significado da própria existência, com agudeza pessimista, o José drummondiano, ainda que poeticamente eterno, envelheceu.

Era um tempo de preocupações, de solidão e abandono após o regozijo da vida, redundando num ser reconhecendo a si mesmo e seus limites. Muito se passou, com José passando a figurar apenas no ideário poético, enquanto surgiam outros Josés diante de outras realidades, com novas visões de mundo. E certamente já não mais tão preocupado com o próprio destino.


E do José, no passo das gerações, foram nascendo filhos, e depois os netos. Só que agora, em obediência aos modismos na grafia dos nomes, o neto daquele José primeiro, o José drummondiano, se chama Joseph. E aquele poema, transformado em seu nome, um Joseph adolescente de sonhos escondidos, seria assim reescrito:

E agora, Joseph?
A balada acabou,
o bicho apagou,
a galera sumiu,
a night minguou,
e agora, Joseph?
você que é um nada,
que sarra da turma,
você que paquera,
tira onda, arrebenta
e agora, Joseph?

Tá sem mina
tá sem que dizer
tá numa de nada
já não pode virar
já não pode queimar
sarrar já não pode,
a night gelou,
nadica de dia
a garupa não veio
não veio o rolo
e tudo fumou
e tudo chapou
e tudo zerou
e agora, Joseph?

E agora, Joseph?
seu choromingado
sua quinzira danada
sua alucinação
seu nome no livro
seu débito a pagar
seu medo de tudo
sua adolescência
sua inocência – e agora?

Com tristeza danada
quer voltar a viver
vida tá difícil
quer embriagar
mas o litro secou
quer pedir a dose
dose não há mais.
Joseph, e agora?

Se você trabalhasse
se você corresse
se você mudasse
se você pensasse
se você agisse
se você quisesse
se você amasse...
Mas você não ama
você é nada, José!

Perdido no mundo
procurando saída
sem fé nem promessa
sem casa que vá
para descansar
sem ter um amigo
que estenda a mão
chamando Joseph!
Joseph, para onde?


Acontece de ser assim. Infelizmente. A juventude escolhendo os espinhos e as pedras do caminho. E no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho... Ah, como disse, e tanto disse o poeta.
  
(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.

Poeta e cronista
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