Por: José Romero Araújo Cardoso(*)
RESUMO
O presente trabalho teve por objeto de estudo a caprinovinocultura em assentamentos rurais do município de Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte, analisada sob a ótica das teorias da sustentabilidade de Sachs e do desenvolvimento sustentável do semi-árido de Mendes. Os dados foram obtidos através de pesquisa direta junto a 77 produtores nos assentamentos de Hipólito (Vilas I e II), Lorena, Mulunguzinho, Cabelo de Nêgo e Cordão de Sombra (Vilas I e II). Para a apresentação dos dados, utilizou-se da análise tabular e descritiva. Os resultados obtidos demonstraram que não obstante o baixo nível tecnológico, a ausência de ações públicas nas áreas de capacitação dos produtores e de extensão rural, a caprinovinocultura é a atividade que proporciona maior renda aos assentados, no quadro geral de pobreza em que estes se encontram. Enquanto recomendações para melhorar o nível de vida das populações assentadas, com menos agressão à natureza, frisa-se que nesta atividade em assentamentos rurais haja condição de processar-se mudança do nível tecnológico quanto ao manejo, profilaxia sanitária e suporte forrageiro e que sejam implementadas a cooperação entre os produtores e ação de políticas públicas que beneficiem o setor.
ABSTRACT
This work aimed to study the caprine and sheep culture in the nestings of agrarian reform located in Mossoró, Rio Grande do Norte based on Sach’s sustainable development theory and Mende’s studies about brazilian semi-arid. The data had been gotten through direct research with 77 producers in the nestings of Hipólito (Villages I and II), Lorena, Mulunguzinho, Cabelo de Nêgo and Cordão de Sombra (Villages I and II). To introduce the data it was used tabular and descriptive analysis. The obtained data had demonstrated that although the low technological level and the absence of public actions in the fields of producers’ capacitation and rural extension, the caprine and sheep culture is the work which provides the best income to the producers who live in those poor areas. To improve the producers’ life quality, without activities which causes damage in the nature,we recommend changes in the technological level, sanitary profilaxie, feed resources, cooperation links among the producers and public policies actions whick can make benefits to the caprine and sheep culture.
Palavras-chave: Caprinovinocultura – assentamentos rurais – sustentabilidade rural
I – Introdução:
O presente trabalho teve por objeto de estudo a caprinovinocultura em assentamentos rurais do município de Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte, analisada sob a ótica das teorias da sustentabilidade de Sachs e do desenvolvimento sustentável do semi-árido de Mendes. Os dados foram obtidos através de pesquisa direta junto a 77 produtores nos assentamentos de Hipólito (Vilas I e II), Lorena, Mulunguzinho, Cabelo de Nêgo e Cordão de Sombra (Vilas I e II). Para a apresentação dos dados, utilizou-se da análise tabular e descritiva. Os resultados obtidos demonstraram que não obstante o baixo nível tecnológico, a ausência de ações públicas nas áreas de capacitação dos produtores e de extensão rural, a caprinovinocultura é a atividade que proporciona maior renda aos assentados, no quadro geral de pobreza em que estes se encontram. Enquanto recomendações para melhorar o nível de vida das populações assentadas, com menos agressão à natureza, frisa-se que nesta atividade em assentamentos rurais haja condição de processar-se mudança do nível tecnológico quanto ao manejo, profilaxia sanitária e suporte forrageiro e que sejam implementadas a cooperação entre os produtores e ação de políticas públicas que beneficiem o setor.
ABSTRACT
This work aimed to study the caprine and sheep culture in the nestings of agrarian reform located in Mossoró, Rio Grande do Norte based on Sach’s sustainable development theory and Mende’s studies about brazilian semi-arid. The data had been gotten through direct research with 77 producers in the nestings of Hipólito (Villages I and II), Lorena, Mulunguzinho, Cabelo de Nêgo and Cordão de Sombra (Villages I and II). To introduce the data it was used tabular and descriptive analysis. The obtained data had demonstrated that although the low technological level and the absence of public actions in the fields of producers’ capacitation and rural extension, the caprine and sheep culture is the work which provides the best income to the producers who live in those poor areas. To improve the producers’ life quality, without activities which causes damage in the nature,we recommend changes in the technological level, sanitary profilaxie, feed resources, cooperation links among the producers and public policies actions whick can make benefits to the caprine and sheep culture.
Palavras-chave: Caprinovinocultura – assentamentos rurais – sustentabilidade rural
I – Introdução:
A caprinovinocultura vem sendo explorada em quase todos as regiões do globo, estando presente em áreas de diferentes climas, solos e coberturas vegetais. Entretanto, essa atividade só apresenta expressão econômica em poucos lugares, sendo geralmente desenvolvida em sistema extensivo e com baixa tecnologia.
Segundo a FAO, apud SEARA (1996), a Austrália, a China e a Nova Zelândia, concentram, respectivamente, 14%, 9% e 5% do efetivo mundial do rebanho ovino. Já os maiores criadores de caprinos são a Índia, a China e o Paquistão, que detém, respectivamente, 20%, 15% e 6,5% do rebanho mundial. Não obstante dispor de condições edafoclimáticas semelhantes ou até mesmos superiores às dos países maiores criadores dessas espécies, o Brasil detém apenas 3,3% do plantel mundial de ovinos e caprinos. Considerando a dimensão territorial e as condições favoráveis ao desenvolvimento da caprinovinocultura, Leite (s/d) afirma que nossos rebanhos são numericamente inexpressivos, principalmente quando comparados com a criação de bovinos, cujo efetivo nacional é da ordem de 150 milhões de cabeças. A introdução de caprinos e ovinos no Brasil, data de 1535, pelos colonizadores portugueses, que aportaram no Nordeste (Maia et al., 1997). Talvez em função disso, o Nordeste em 1999, concentre 93% do rebanho caprino nacional e 51% do rebanho ovino (IBGE, 1999). Para Simplício (s/d), o Nordeste brasileiro semi-árido tem sido assumido, durante séculos, como área de vocação pecuária, especialmente, para a exploração dos ruminantes domésticos. No entanto, ressalte-se os caprinos e ovinos face à característica de adaptação a ecossistemas adversos, o que é fortemente influenciado pelos seus hábitos alimentares.
Ruminantes de pequeno porte, esses animais apresentam significativas vantagens em relação à bovinocultura, principalmente no que diz respeito à área ocupada e manejo. A rusticidade desses animais, bem como a facilidade de adaptação às condições ambientais é outros fatores que contribuem para tornar essa atividade relevante, nas pequenas e médias propriedades rurais do semi-árido.
Nunes (1987) destaca que os custos financeiros de uma vaca equivalem ao de 8 a 20 caprinos, aliado a isso a facilidade de manejo devido ao pequeno porte destes animais, vem despertando nos produtores grande interesse em ampliar a produção de seus rebanhos, objetivando tornar a atividade mais lucrativa.
No Rio Grande do Norte, em 1999, o rebanho caprino era de 296 mil cabeças e o de ovinos de 361 mil cabeças (IBGE, 1999). Segundo o empresário Romildo Pessoa Júnior, presidente da Associação Norte-riograndense de Criadores de Ovinos e Caprinos - ANCOC, o Estado é hoje o maior produtor de leite de cabra do país, com uma produção diária de oito mil litros, totalmente absorvida pelo Programa do Leite do Governo do Estado (www.caprinet.com.br).
Diante do potencial de mercado que se apresenta para os produtos derivados da caprinovinocultura no Estado, a atividade foi introduzida, nos últimos anos, em assentamentos rurais de Mossoró, que por situar-se no semi-árido, apresenta poucas opções de geração de emprego e renda.
Entretanto, não obstante a importância da caprinovinocultura na economia regional, dada a crescente demanda pela carne e pelo leite, pouco se conhece sobre as condições sócio-econômicas e do criatório dos produtores assentados que se dedicam a essa atividade, dentro do contexto do desenvolvimento sustentável, reduzindo com isso a possibilidade que estes teriam de aproveitar as oportunidades sinalizadas pelas demandas do mercado em expansão.
Agravados pelas sazonais crises apresentadas pelas oscilações climáticas, os frágeis indicadores sócio-econômicos e a ecologia do bioma caatingueiro são prejudicados pela falta de orientação quanto a um melhor aproveitamento das aptidões regionais, o que certamente proporcionaria a melhoria da qualidade de vida da população do semi-árido nordestino com menos agressão à natureza.
Dessa forma, este trabalho pretende analisar as características apresentadas pelos assentados e pela caprinovinocultura praticada nos assentamentos de Hipólito (Vilas I e II), Lorena, Mulunguzinho, Cabelo de Nêgo e Cordão de Sombra (Vilas I e II) em Mossoró (Estado do Rio Grande do Norte), embora sem se deter de maneira profunda no âmbito zootécnico, mas na importância sócio-econômica intercalada com a provável adequação desta prática às exigências de conservação ecológica do bioma, entendido aqui como a maior unidade de comunidade terrestre com flora, fauna e clima próprios (Grisi, 1997, p. 2).
A problematização, ou seja, a dificuldade com a qual nos defrontamos e que investigamos (cf. Rudio, 2001, p. 94) foi se a caprinovinocultura se apresenta ou não como geradora de emprego e renda, analisando se ela está ou não adequada ao semi-árido e como se caracteriza o potencial de mercado para carne, pele e leite nesta atividade em assentamentos rurais do município de Mossoró. Numa perspectiva de impactar a realidade, avançamos nas indagações, emitindo sugestões que se implantadas irão contribuir para a melhoria de sua produção a fim de atender as exigências de demanda, proporcionando, conseqüentemente, a melhoria da qualidade de vida do pequeno produtor rural em assentamentos.
Por se tratar de uma experiência recente de fixação do homem no campo, os assentamentos rurais precisam ser investigados quanto às potencialidades que podem ser trabalhadas,motivo pelo qual a caprinovinocultura pode aparecer como atividade a acenar viabilidade, justificando-se a pertinência deste trabalho em razão de não existir análises sobre o assunto enfocado neste objeto de estudo em unidades da reforma agrária, dificultando a adoção de políticas públicas que possam incentivar a fortificação da atividade.
Enfatizamos na introdução explicações dos critérios gerais que embasaram a pesquisa, definindo objetivos e hipóteses, para em seguida destacar-se a revisão de literatura abordando a caprinovinocultura e a busca do desenvolvimento sustentável, cujo enfoque centra-se, sobretudo, nas prerrogativas gerais da prática pecuária correlacionada com as principais premissas das propostas teóricas sobre o desenvolvimento sustentável; assentamentos rurais e a importância regional da caprinovinocultura, quando se analisa o potencial do efetivo dos rebanhos caprino e ovino para o Brasil, Nordeste, Rio Grande do Norte e Mossoró, abrangendo no segundo item o estágio atual e as perspectivas futuras da atividade na região, abordando os principais problemas e apontando prováveis soluções para melhorar o nível tecnológico que fomenta a produção e a comercialização destas pelos assentados.
Quanto aos materiais e métodos, fomentam-se cinco tópicos, frisando a caracterização da área de estudo, população e amostra, os instrumentos de coleta de dados, o procedimento no tratamento desses e por fim definição de estudos sobre os assentamentos pesquisados, dando ênfase aos aspectos territoriais e geográficos.
Com relação aos resultados e discussão da investigação determinam-se de início os perfis social e econômico dos caprinovinocultores.
Quanto aos aspectos técnicos do rebanho, destacam-se as características da atividade pecuária, os aspectos sanitários do criatório e as perspectivas de qualificação dos produtores, conforme dados colhidos entre os entrevistados.
O último item contempla análise dos indicadores da comercialização da produção, para em seguida emitirmos opiniões sobre o desempenho da caprinovinocultura em assentamentos rurais do município de Mossoró e sugestões de como melhorá-la.
O manejo sustentável, permitindo que a natureza ofereça condições de vida ao homem e à regeneração dos recursos naturais, é uma preocupação constante. Não se pode criar qualquer espécie animal de maneira inadequada. Especificamente, deve-se criar um número de caprinos e ovinos de acordo com a capacidade de suporte dos lotes nos assentamentos, pois a superlotação provoca um pisoteamento excessivo que vai compactar o solo, frisando ainda que o superpastejo irá levar as espécies forrageiras mais palatáveis à extinção ao longo dos anos, decretando a inviabilidade de qualquer criação doméstica.
Entende-se como exploração sustentável de um ecossistema se sua exploração está dentro dos limites de sua capacidade de renovação, levando-se em conta principalmente à fragilidade do semi-árido neste aspecto.
Analisar as formas assumidas pelo manejo do criatório de caprinos e ovinos nos assentamentos rurais do município de Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte, que fazem o nosso objeto de pesquisa, bem como as condições oferecidas por esta prática pecuária na geração de emprego e renda e sua relação com a natureza, referendam a justificativa ao diagnóstico proposto para esta atividade.
II – Materiais e métodos:
A pesquisa teve como população as famílias dos assentados do Hipólito (Vilas I e II), Lorena, Mulunguzinho, Cabelo de Nêgo e Cordão de Sombra (Vilas I e II), tendo sido considerada a população de acesso apenas aquelas 286 famílias que se dedicavam à produção de caprinovinocultura no momento da coleta dos dados.
Os assentamentos que serviram de população para a pesquisa continham, no período da coleta de dados (12 de abril de 2001 a 15 de junho de 2001), 504 famílias ao todo, sendo que destas 56,75% se dedicam a caprinovinocultura. Considerando o número de produtores e a característica da investigação foram aplicados 77 questionários, assim distribuídos: a-) Hipólito (Vila I), 05 questionários; b-) Hipólito (Vila II), 02 questionários; c-) Lorena, 03 questionários; d-) Mulunguzinho, 26 questionários; e-) Cabelo de Nêgo, 16 questionários; f-) Cordão de Sombra (Vila I), 13 questionários; g-) Cordão de Sombra (Vila II), 12 questionários.
O critério de seleção das famílias pesquisadas foi do tipo aleatório.
A coleta de dados foi feita através de pesquisa direta com a aplicação de questionários com 39 perguntas fechadas e abertas.
Os dados coletados foram apurados manualmente e, posteriormente, organizados em tabelas e gráficos, utilizando-se para a análise tabular do emprego da proporção. Segundo Toledo e Sovalle (1995), a proporção de indivíduos em uma dada categoria é definida através do quociente entre o número de indivíduos pertencentes a essa categoria e o número total de indivíduos considerados, devendo as categorias ser mutuamente exclusivas e exaustivas.
III – Conclusões e sugestões:
Intercalando sócio-economia e meio ambiente, constatou-se neste trabalho que o perfil do produtor rural e sua qualidade de vida denotam características inerentes à região semi-árida, personificadas em nível de escolaridade incipiente. Assim, quase a metade dos entrevistados declarou ser analfabetos ou apenas assinar o nome, registrando percentual de 49,4%, o que motiva a condução da atividade mais ao nível da experiência do que propriamente à facilitação em se adotar tecnologias mais adequadas ao efetivo desempenho desta prática pecuária.
A importância da criação de animais de médio porte na geração de emprego e renda foi verificada através do destaque que lhe foi concedido pelos assentados (46,7%). O item caprinovinocultura, ficando um pouco acima das culturas de subsistência (45,5%), enquanto atividade que proporciona maiores ganhos, embora relativo, confere à atividade status proeminente, não obstante estar atrelada a uma economia bastante simples, carecendo de incentivos mais enfáticos.
A pastagem nativa encontra-se em um percentual de 34% explorada até 15 hectares, comprometendo a preservação da caatinga em vista que os recursos naturais do bioma se constituem na principal forma de sobrevivência dos assentados, não oferecendo sustentabilidade sócio-econômica e ecológica.
A pesquisa revelou que os produtores assentados são originários, em sua maioria, com percentual de 50,6%, da zona rural de outros municípios do Estado do Rio Grande do Norte ou de outros Estados, tangidos pela ausência de perspectivas, cuja experiência com a caprinovinocultura excede duas décadas, com 75,3% frisando este tempo de trabalho. A maioria (88,3%) não conta com incentivos financeiros por parte da esposa ou companheira, aumentando os encargos quanto a dispor de renda mais efetiva para garantir a sobrevivência. Neste indicador revelou-se que cerca de 83,1% dos caprinovinocultores assentados sobrevivem com o limite estipulado pelo Governo Federal como indispensável à sobrevivência, levando-se em conta que, quando da pesquisa, o salário mínimo vigente era de R$ 180,00 (cento e oitenta reais). Deve-se destacar que há significativa participação percentual (15,6%) dos que sobrevivem com rendimentos mensais de até R$ 50,00 (cinqüenta Reais), ou seja, no patamar máximo de pobreza.
Cerca de 17% do percentual total tem renda mensal superior a R$ 200 (duzentos reais), sendo que a maioria também não dispõe de proventos da seguridade social, frisando-se que entre os beneficiários que declararam possuir pessoas favorecidas com aposentadorias, majoritariamente (62,5%) assinala-se apenas um indivíduo contemplado com este direito social.
No que diz respeito aos indicadores referentes aos aspectos técnicos do rebanho, a caprinovinocultura é praticada principalmente por ser uma atividade pecuária com a qual os produtores se identificam, bem como por ser mais fácil para vender e apurar dinheiro e mais adequado o criatório na região.
Provavelmente em razão da rusticidade e prolificidade, bem como maior adaptação às condições edafoclimáticas do semi-árido e à vegetação nativa, os caprinos despontam com maior ênfase, destacando 65% do percentual total da composição do rebanho. Entre caprinos e ovinos há destaque para o número de fêmeas, ocupando percentual total de 84,4%. Os números totais denotam ainda a importância da caprinocultura, quase o dobro da ovinocultura, reiterando a tendência verificada no município, não obstante o declínio verificado entre os anos-base (1995/1999).
A chapada do Apodi por ter muitas plantas consumidas pelos caprinos, a exemplo da catanduva, cipós, sabiá, mororó, jurema etc., ainda é mais indicada para a caprinocultura. A preferência dos ovinos é para áreas em que prevalecem as gramíneas, de fáceis alcances.
Provavelmente a ausência de ocupação pode explicar o contraste referente à responsabilidade pelo trato dos animais. O próprio produtor é quem cuida dos animais, o que na tradição regional é feito pelas mulheres. Se considerar a participação destes produtores individualmente e em associação com as mulheres e os filhos observa-se que o somatório é de 71% do percentual total.
A incipiente renda mensal pode explicar ainda a razão pela qual apenas vermifugação e mineralização são utilizadas na profilaxia sanitária do rebanho, bem como ao fato de não haver registro de vacina utilizada, enquanto nenhuma medida tomada ocupa percentual altíssimo de 75,3%.
A profilaxia sanitária de qualquer criação de animais domésticos de médio porte tem que incluir instalações propícias, ou seja, apriscos bem estruturados e cuidados imprescindíveis, como queima de umbigo dos recém-nascidos com iodo ou outro desinfetante. O avanço das discussões referentes à preservação do meio ambiente envolve novas posturas com relação a esta prática pecuária, principalmente quanto ao saneamento ambiental. Limpeza e desinfecção das instalações, equipamentos e utensílios utilizados com certeza refletem na qualidade da produção.
O rebanho, ainda em formação, não possibilita à maioria dos produtores utilizar o método de castração, visando a engorda e melhores lucros com a venda dos animais. Constatou-se poucos machos e muitas fêmeas, como frisado anteriormente.
A utilização de tecnologias a fim de que haja melhor aproveitamento do plantel não teve verificação. O que se observa é a adoção de um manejo reprodutivo extremamente simples, preponderando o convívio direto do reprodutor com as matrizes, não havendo ainda efetiva preocupação com anotações primárias referentes ao ciclo de vida dos animais, o que com certeza dificulta controle mais categórico destes. Esta providência poderia garantir melhor aproveitamento econômico da produção e, conseqüentemente, maiores lucros com a atividade pecuária.
O suporte forrageiro para o rebanho se restringe ao uso da caatinga bruta e a utilização de restolhos de culturas agrícolas, penalizando duramente, com o superpisoteio dos animais, o frágil ecossistema e sua capacidade de suporte.
Poços profundos e a canalização de água via adutora são as formas usuais de dessedentação dos animais, sendo a primeira a responsável pelos mais alardeados problemas, ligados à salinização natural da região, bem como a inexpressiva vazão em m3 por segundo, de acordo com queixas dos próprios produtores rurais.
A prestação de serviços de assistência técnica e extensão rural teve efetivação mais por parte de projetos extensionistas de Instituição de Ensino Superior que propriamente pelo responsável legal do assentamento de famílias nos projetos de reforma agrária, tendo se concentrado em sua maior parte a realização desta na própria comunidade. Neste indicador a ESAM se destaca, com 40% das respostas.
A grande maioria dos assentados que não pôde participar de eventos extensionistas manifesta o desejo de ser contemplada com palestras, cursos ou treinamentos, cujo percentual de afirmações foi de 94,8%.
Os indicadores da comercialização da produção demonstram que a exata dimensão mercadológica não está sendo efetivada. Menos da metade dos produtores (48,1%) declararam que realizam a venda da produção e um percentual significativo (51,9%) ainda não consegue ofertar seu produto final, sugerindo-se, com o devido incentivo institucional, a criação de abatedouros cooperativos.
A preponderância da forma de comercialização está na venda dos animais vivos (96%), cujos negócios são realizados principalmente na própria comunidade (89,6%).
Os meses de maio (10,4%), junho (27,3%), julho (25,9%) e agosto (19,5%), conforme os entrevistados, são os mais propícios à comercialização dos animais.
A carne dos animais abatidos, geralmente de forma rudimentar, também é negociada nos assentamentos em seu maior percentual (82,6%). Esta forma de comercialização só é realizada quando se excede a subsistência do produtor e sua família. O couro também é comercializado preferencialmente na própria comunidade (69,6%).
A quantidade de animais que comercializam por mês revela que a prática pecuária ainda é insignificante na geração de renda, restringindo-se às necessidades urgentes dos caprinovinocultores. Nenhum animal é comercializado mensalmente por 59% dos produtores assentados, enquanto 36% só conseguem vender entre 1 e 3 ruminantes domésticos de médio porte por mês e apenas 4% conseguem ultrapassar a venda de mais de 10 animais mensalmente.
A obtenção de financiamento para desenvolver a caprinovinocultura foi frisada pela maioria da população (88,3%). Este indicador em consonância com a adoção de tecnologias, sobre as quais não houve constatação com efetiva saliência quando da pesquisa, poderá se responsabilizar pelo sucesso da prática pecuária, se houver efetivo direcionamento por parte dos produtores rurais e maiores interesses dos órgãos responsáveis, incentivando e fiscalizando os rumos do repovoamento rural no sertão.
Ressalta-se ainda que o extensionismo rural também se constitui em condição sine qua non para a melhoria da caprinovinocultura e da qualidade de vida da população assentada que se dedica a esta prática pecuária, bem como ao sentido ecológico da preservação ambiental.
Não atendendo a estas exigências, decretar-se-á a inviabilidade dos projetos de reforma agrária, inserindo-se nesta a prática pecuária que direciona o nosso objeto de pesquisa, levando-se em conta que, apesar da atividade se adequar ao semi-árido observa-se que o manejo extremamente primitivo não tem efetivamente se responsabilizado pela geração de emprego e renda, representando uma forma de mera subsistência nos assentamentos rurais pesquisados.
Como sugestões para melhorar a qualidade e a produtividade da produção pecuária nos assentamentos rurais recomenda-se a adoção de medidas profiláticas e sanitárias de fácil manejo, tais como o tratamento do umbigo dos recém-nascidos, a fim de evitar infecções, a vermifugação do rebanho e a higienização adequada das instalações que abrigam os animais, evitando-se acúmulo de dejetos em larga escala. Implementar a assistência técnica aos assentados, de forma continuada, orientando-os na aquisição dos melhores reprodutores e matrizes, bem como na orientação adequada para a suplementação protéica do rebanho durante o período seco, incentivando o plantio de forrageiras resistentes à seca, como o capim búfel, algaroba, leucena, etc.
Sugere-se ainda que sejam desenvolvidas pesquisas para gênero e sobre a forma como a carne e o couro são manipulados na comunidade, e ainda cálculo de Tabela de custo para saber se realmente a atividade é lucrativa.
A comercialização da produção só poderá se tornar mais dinâmica e eficiente com a organização dos assentados através de ações associativas, buscando formas de cooperação que não prejudiquem a coletividade.
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TOLEDO, G. L.; SOVALLE, I. I. Estatística Básica. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1995.
( 1 ) - Síntese de Dissertação de Mestrado defendida em 08 de julho de 2002
perante Banca Examinadora composta pelos professores Dr. Benedito Vasconcelos
Mendes (UERN ), Drª Taniamá Vieira da Silva Barreto( UERN ) e Dr. Patrício
Borges Maracajá ( ESAM ) , tendo como suplente o Prof. Dr. Luiz di Souza
(UERN), junto ao Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA - UERN,
orientada pelo Prof. Dr. Benedito Vasconcelos Mendes e co-orientada pela Profª
M. Sc. Ana Thereza P. Bittencourt ( ESAM ).
( 2 ) - José Romero Araújo Cardoso - É Professor do Departamento de Geografia -
DGE da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais - FAFIC da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Foi assessor da Fundação Vingt-un
Rosado/Coleção Mossoroense. É sócio-correspondente do Instituto Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Norte - IHGRN, sócio da Associação Paraibana de
Imprensa - API , da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - SBEC e
sócio-fundador do Grupo Benigno Ignácio Cardoso D'Arão.
Contatos: Rua Raimundo Guilherme, 117 - Q. 34 - Lt. 32 - Conjunto Vingt Rosado
- Mossoró - RN - CEP: 59.626-630 - Fone: 084-3314-409.
(*) José Romero
Araújo Cardoso é Geógrafo. Professor-adjunto do Campus Central da UERN. Mestre
em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Contato: romero.cardoso@gmail.com.
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