Por: Rangel Alves da Costa(*)
Não há ouvido
que não esteja atento para o que gosta de ouvir. E também não há ouvido que não
se finja de surdo diante daquilo que não lhe seja agradável, proveitoso,
elogiável.
Não há orelha
que não se largueie ao sentir que nas proximidades alguém lhe joga confetes ou
tece louvores a seu respeito. Contrariamente, dificilmente alguém vai se
aproximar para escutar insultos, escárnios, desmoralizações.
Como o ser
humano sente prazer em ser reconhecido positivamente, sua audição parece ter
uma sensibilidade especial para ouvir tal reconhecimento. Já soa bem ouvir um
belo cumprimento, uma saudação educada, que dirá um aplauso verbal.

Os enamorados
que vacilam procurando palavras bonitas para agradar sua pretendida, deveriam
ter na ponta da língua algumas poesias românticas. Mesmo que não entenda nada
de poética amorosa, dificilmente alguém vai ficar chateado ou sentir amolação
ao ouvir Vinícius, Cecília, Florbela Espanca.
Mas não
precisa recitar clássicos universais sob pena de o outro querer saber mais
sobre a vida e obra do autor e tudo ir por água abaixo. Explicar Shakespeare
não é pra todo mundo. Para fugir de aperreios de última hora, talvez seja até
melhor ser o mais verdadeiro possível e puxar do bolso um versinho de sua
inspiração. Porém, sem ser açucarado demais.
Gesto que
sempre dá bom resultado é chegar diante da pretendida com uma flor ou mesmo um
buquê e dizer que achou as flores tão bonitas quanto ela. Entrega com um leve
beijo e depois acrescenta que jamais poderia encontrar um jardim com roseira tão
bela e perfumada. É um tanto infantil, porém não corre o risco de ser
correspondido com outro gesto que não um sorriso. E daí em diante...
As palavras
não precisam ser rebuscadas, cheias de floreios, acima da normalidade
comunicativa. Também não necessitam ser escolhidas a dedo, decoradas ou
forjadas para repassar uma ideia. Corre-se o risco de tornar sem sentido um
diálogo que pode ser prazeroso e generoso entre todos. Certamente que muitos
gostam da simplicidade das coisas, e tal fato já demonstra que uma brisa labial
é sempre melhor recebida que uma ventania verbal.
As palavras
simples, doces, meigas e sinceras sempre encantam. Não há ser vivente que não
fique desarmado quando ouve do outro uma palavra graciosamente sentida no
âmago. De repente, da pedra sai uma flor, do penhasco se derrama a
bromélia, da escuridão vai surgindo a mansa luz. Por isso que a natureza se
enche de prazer ao ouvir o cantar dos passarinhos, o farfalhar das folhagens. E
a natureza humana?
Shakespeare já
disse que seja como for o que penses, creio que é melhor dizê-lo com boas
palavras. Mas muito cuidado, ainda que as palavras sejam as mais bem
intencionadas, pois a intencionalidade repentina tem o dom de expressar o
indesejado. Sempre será preciso refletir antes de dizer qualquer coisa. Neste
sentido já asseverou Goethe que as pessoas tendem a colocar palavras onde
faltam ideias.
Creio que nem
seria preciso dizer o quanto reflete negativamente no outro ouvir aquilo que
não esperaria no momento. O problema é que é forçado a ouvir sem saber qual a
verdadeira intenção de a pessoa ter pronunciado. Isto porque a palavra pode
ferir como um raio sem que o sujeito tenha o mínimo intento. Às vezes, por um
descuido, a palavra sela de pronto uma inimizade.

Será preciso,
pois, evitar riscos ao tentar agradar um e outro com palavras impensadas. Tem
gente que acha muito normal encontrar um amigo e dizer que o mesmo está muito
mais forte. Também é muito normal que o amigo entenda que o outro o chamou de
gordo. E quem é que gosta ser chamado gordo, largo, barrigudo?
Por isso mesmo
que na dúvida prefira o silêncio. No amor, na falta da melhor palavra para a
ocasião prefira o silêncio. Certamente que a voz da mudez, no olho apaixonado
mirando o olho que quer, ecoará tão fortemente que o coração se sentirá
compreendido demais.
Por fim,
refletindo nas palavras de Madre Teresa de Calcutá: “Todas as nossas palavras
serão inúteis se não brotarem do fundo do coração. As palavras que não dão luz
aumentam a escuridão”. “As palavras de amizade e conforto podem ser curtas e
sucintas, mas o seu eco é infindável”.
Biografia
Poeta e
cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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