Por: Clerisvaldo B. Chagas, Crônica Nº 880

DIA
DE ELEIÇÃO
Logo cedo
os mesários chegaram às sessões para um dia de trabalho diferente e cansativo.
Os relógios mexem nos ponteiros que parecem tão ansiosos quanto os candidatos
exaustos de uma campanha ferrenha. É o dia da prova dos nove. Lá no sertão o
homem do campo diz que é a hora de mostrar “quem tem roupa na
mochila”. Os transportes já se encontram em ações plenas, cortando
fazendas, sítios e comunidades em busca do eleitor desconfiado. Muita gente nem
dormiu tentando driblar a vigilância irredutível da Justiça, este ano. Os
espertos trocaram as batidas malas pretas por outros depósitos mais leves e
camuflados. Os olhares atentos dos que vendem disputam os horizontes dos
caminhos, as baixadas desiguais, as veredas de bodes, os lombos dos lajeiros...
Nas ruas pavimentadas rodam os carrões negros da polícia, o automóvel carimbado
do juiz, as motos ligeiras dos que devem. Mostrando a festa da democracia,
ganham às ruas os coloridos que alegram o pleito e ornamentam o todo. As praças
estão apinhadas e os “santinhos” sem milagres forram a dureza dos
paralelepípedos.
Mário
Silva, prefeito eleito de Santana do Ipanema, AL. Foto: (sertão24horas).
Quando a
lei endurece o povo cala. Povo calado é um perigo para o que botou a alma no
fogo do chamego. Movimentam-se grupos de matutos; formam-se fila nas
repartições; espumas descem pelos copázios desafiando a lei seca; e à tardinha
vai encostando com o resultado nervoso das urnas eletrônicas. A contagem
eficiente acelera o passo e os novos reis do dinheiro público vibram com a
vitória. Os vencidos desparecem como ratos abandonando o navio. Os vitoriosos
enchem as ruas de correligionários numa alegria sem par. Sons de campanha
vibram noite adentro, misturados às latinhas que também irão alegrar os
catadores da manhã. Os destronados somem. Somem por encanto furando a noite
rumo às fazendas distantes ou às mansões recuadas das capitais. Pelegos
apressados rasgam as propagandas dos carrões de luxo dos seus amos e a fila da
elite continua a debandada. A cidade não dorme com a zoada imposta pela
novidade recente.
A ressaca de hoje, segunda-feira bem chegada, vem trazendo sorriso novo
para a vitória e poeira fina para a derrota. Acabamos de viver um espetáculo de
democracia. Assim foi o nosso DIA DE ELEIÇÃO.
Clerisvaldo
Braga das Chagas nasceu no dia 2 de dezembro de 1946, à Rua Benedito Melo ( Rua
Nova) s/n, em Santana do Ipanema, Alagoas. Logo cedo se mudou para a Rua do
Sebo (depois Cleto Campelo) e atual Antonio Tavares, nº 238, onde passou toda a
sua vida de solteiro. Filho do comerciante Manoel Celestino das Chagas e da
professora Helena Braga das Chagas, foi o segundo de uma plêiade de mais nove
irmãos (eram cinco homens e cinco mulheres). Clerisvaldo fez o Fundamental
menor (antigo Primário), no Grupo Escolar Padre Francisco Correia e, o
Fundamental maior (antigo Ginasial), no Ginásio Santana, encerrando essa fase
em 1966.Prosseguindo seus estudos, Chagas mudou-se para Maceió onde estudou o
Curso Médio, então, Científico, no Colégio Guido de Fontgalland, terminando os
dois últimos anos no Colégio Moreira e Silva, ambos no Farol Concluído o Curso
Médio, Clerisvaldo retornou a Santana do Ipanema e foi tentar a vida na capital
paulista. Retornou novamente a sua terra onde foi pesquisador do IBGE –
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Casou em 30 de março de 1974
com a professora Irene Ferreira da Costa, tendo nascido dessa união, duas
filhas: Clerine e Clerise. Chagas iniciou o curso de Geografia na Faculdade de
Formação de Professores de Arapiraca e concluiu sua Licenciatura Plena na AESA
- Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde, em Pernambuco (1991). Fez
Especialização em Geo-História pelo CESMAC – Centro de Estudos Superiores de
Maceió (2003). Nesse período de estudos, além do IBGE, lecionou Ciências e
Geografia no Ginásio Santana, Colégio Santo Tomaz de Aquino e Colégio Instituto
Sagrada Família. Aprovado em 1º lugar em concurso público, deixou o IBGE e
passou a lecionar no, então, Colégio Estadual Deraldo Campos (atual Escola
Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva). Clerisvaldo ainda voltou a ser
aprovado também em mais dois concursos públicos em 1º e 2º lugares. Lecionou em
várias escolas tendo a Geografia como base. Também ensinou História,
Sociologia, Filosofia, Biologia, Arte e Ciências. Contribuiu com o seu saber em
vários outros estabelecimentos de ensino, além dos mencionados acima como as
escolas: Ormindo Barros, Lions, Aloísio Ernande Brandão, Helena Braga das
Chagas, São Cristóvão e Ismael Fernandes de Oliveira. Na cidade de Ouro Branco
lecionou na Escola Rui Palmeira — onde foi vice-diretor e membro fundador — e
ainda na cidade de Olho d’Água das Flores, no Colégio Mestre e Rei.
Sua
vida social tem sido intensa e fecunda. Foi membro fundador do 4º teatro
de Santana (Teatro de Amadores Augusto Almeida); membro fundador de escolas em
Santana, Carneiros, Dois Riachos e Ouro Branco. Foi cronista da Rádio Correio
do Sertão (Crônica do Meio-Dia); Venerável por duas vezes da Loja Maçônica Amor
à Verdade; 1º presidente regional do SINTEAL (antiga APAL), núcleo da região de
Santana; membro fundador da ACALA - Academia Arapiraquense de Letras e Artes;
criador do programa na Rádio Cidade: Santana, Terra da Gente; redator do diário Jornal
do Sertão(encarte do Jornal de Alagoas); 1º diretor eleito da Escola Estadual
Prof. Mileno Ferreira da Silva; membro fundador da Academia Interiorana de
Letras de Alagoas – ACILAL.
Em sua trajetória, Clerisvaldo Braga das Chagas, adotou o nome artístico Clerisvaldo B. Chagas, em homenagem ao escritor de Palmeira dos Índios, Alagoas, Luís B. Torres, o primeiro escritor a reconhecer o seu trabalho. Pela ordem, são obras do autor que se caracteriza como romancista: Ribeira do Panema (romance - 1977); Geografia de Santana do Ipanema (didático – 1978); Carnaval do Lobisomem (conto – 1979); Defunto Perfumado (romance – 1982); O Coice do Bode (humor maçônico – 1983); Floro Novais, Herói ou Bandido? (documentário romanceado – 1985); A Igrejinha das Tocaias (episódio histórico em versos – 1992); Sertão Brabo CD (10 poemas engraçados).

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