quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O MOSSOROENSE

Por: Lúcia Rocha

  UM JORNAL QUE FAZ ESCOLA

Hoje, 17 de outubro, o terceiro jornal mais antigo em circulação na América Latina, O Mossoroense, está comemorando 140 anos. Idealizado por Jeremias da Rocha, fundador da imprensa mossoroense. 
                                  
O Mossoroense tem sido ao longo do tempo, uma verdadeira escola para os profissionais da imprensa da cidade, alguns foram mais longe, como o jornalista e escritor Dorian Jorge Freire, que começou a escrever ainda menino, filho e neto de jornalista, com atuação na imprensa paulista.        

Comigo também não foi diferente e explicarei como se deu a vocação e como surgiu a oportunidade de fazer parte do jornal centenário, de onde parti para outros vôos.   


O jornalismo sempre foi uma paixão, desde criança, quando comecei a ler jornais. O Brasil vivia sob o regime militar e a família não via com bons olhos aquela escolha. Aos dez, a coisa foi ficando mais séria, porque mudamos para a Rua Mário Negócio, para bem próximo da casa de seu Lauro Escóssia, então diretor de O MOSSOROENSE.        

Criança, logo a gente se apegou com as netas de seu Lauro: Florina - escreve-se Florina mesmo, sem o D - Cláudia e Valéria. As brincadeiras se juntavam ao papo com seu Lauro, ainda em atividade e sempre com um jornal à mão. Ou teclando na máquina, geralmente de bermuda e sem camisa.  

        
Na minha família havia dois primos ligados diretamente à profissão: Assis Cabral, na Rádio Difusora, como noticiarista e depois comentarista esportivo; e Canindeh Alves, locutor e diretor de algumas emissoras de rádios. Ainda criança, por diversas vezes vi Canindeh usando uma máquina de datilografia na casa dele. Seus dedos deslizavam no teclado, parecia um pianista. Impressionava aquela agilidade.

       
Aos doze, achei que estava na hora de dar o primeiro passo rumo ao jornalismo e ingressei, por conta própria, na escola de datilografia de Rogério Dias, a Dat Rápida, pertinho de casa. Digo por conta própria, porque apenas comuniquei em casa e pagava com dinheiro ganho com a venda de balas na escola de mamãe. Rogério Dias lembra bem disso.        

Obediente a família, tive que me contentar com os cursos que a UERN oferecia e cursei Ciências Sociais. Ao final do curso, incentivada por minha sobrinha Teresa Cristina, única pessoa que me incentivava a fazer jornalismo,  escrevi-me com ela no vestibular da UFRN, eu para jornalismo e ela, arquitetura. Somente Teresa sabia. Aprovada, todos ficaram sabendo pelo Diário de Natal, isso em 1987. Naquela época, o único profissional com graduação em atividade em Mossoró era, registre-se, a areiabranquense, Aglair Abreu, egressa da UFRN.

        
Depois de adulta, jamais alimentara o sonho de entrar numa redação. Portanto, devo em primeiro lugar, meu diploma e o ingresso no jornalismo a Teresa, residente na Suécia há alguns anos.         

Ao final daquele ano, 1987, a professora da disciplina História do Jornalismo, Otêmia Porpino, comentou que no Curso de Comunicação da UFRN, não havia nada a respeito de um dos jornais mais antigos em atividade, que é o nosso O Mossoroense. Então, passou como trabalho da disciplina naquelas férias, a tarefa de colher a história do jornal.  

         
Foi então que se deu o meu ingresso num veículo de comunicação,nas páginas do centenário O Mossoroense, pela bondade do então diretor, Emery Costa.        

A sede do jornal já era na Travessa O Mossoroense, o mesmo já pertencia ao grupo liderado pelo então deputado federal, Vingt Rosado e comandado pelo seu primo e genro, médico Laire Rosado.

         
Quando procurei Emery, ele abriu todas as portas do jornal para a pesquisa e ofereceu um espaço para fazer reportagens.                     

Tornei-me uma espécie de repórter especial durante todo aquele ano de 1988,  escrevendo uma página aos domingos, com reportagens longas, sobre os mais diversos assuntos, desde a chegada de ultraleves, como também uma entrevista com a saudosa Neuma da Mangueira, em passagem pela cidade.Essas reportagens eram feitas aos domingos, acompanhava-me o fotógrafo do jornal, Nequinho. Eu levava o material para Natal e passava a semana datilografando, errando, rasgando páginas, reescrevendo até chegar a sexta-feira, quando pegava a estrada para Mossoró.

        
O sábado era na redação, acompanhando todo o processo. Entregava as páginas datilografadas para Cosme, que montava a página. Cada letra uma barrinha de chumbo, o jornalismo estava bem distante do advento do computador.

          
No domingo saia em campo, com outra pauta. Até hoje nunca tive pauteiro. Sempre deram total liberdade para escrever sobre qualquer assunto e jamais os diretores do jornal procuraram saber a pauta, o assunto. Assim, naquele ano de 1988, fiz uma página sobre a participação da mulher na política e entrevistei a então candidata a prefeito da cidade, a pediatra Rosalba Ciarlini. Que chegou a perguntar se a entrevista seria mesmo publicada.                 

Ficou acertado com Emery que não haveria salário e nenhuma ajuda de custo para o deslocamento nos finais de semana Natal-Mossoró-Natal, enfim, período maravilhoso que jamais deixarei de agradecer a Deus pela oportunidade, por Ele ter usado cada funcionário do jornal para encaminhar-me no ingresso da profissão tão desejada e sonhada.

          
Foi assim, com o espaço oferecido por Emery que meu texto foi se desenvolvendo, acredite! Os primeiros professores e incentivadores foram dois funcionários cujo currículo é a escola da vida e o próprio jornal, Guerra e Cosme, o Vovô. Pessoas éticas e por demais gentis, que ao modo de cada um, davam dicas e falavam de outros colaboradores que passaram pela casa. Um deles me chamava bastante atenção, Dorian Jorge Freire, que só vim a conhecer pessoalmente muito tempo depois.           

Naquele ano de 1988, lembro bem de um jovem, menor de idade,que atuava na página policial. Cid Augusto, que passava a manhãs colhendo informações de delegacia em delegacia, juntamente com o fotógrafo Luciano Léllys. Quando chegava ao jornal, Cid sentava e retirava da cintura um revólver, que deixava na mesa, bem junto da máquina, enquanto dedilhava as noticias, geralmente em torno de roubo de galinhas, briga de vizinhos, acidentes, num tempo de uma Mossoró mais pacata. Depois Cid procurou o conhecimento acadêmico na UFRN, fez mestrado, hoje um dos melhores textos da imprensa potiguar e diretor do jornal.            

Lamento que as empresas não mais oferecem oportunidades de estágio, mesmo sem remuneração, porque correm o risco de processos na justiça do trabalho.


Eu até pagaria, se fosse o caso, se pudesse voltar no tempo para remunerar o jornal, pela oportunidade que me deu.         

No ano seguinte, passei a escrever no semanário Dois Pontos, de Natal, de onde sai para a TV Cabugi, depois São Paulo. Aos poucos estou disponibilizando todo esse material de reportagens no blog.

        
Tenho a maior satisfação em dizer que passei por três instituições centenárias. O Colégio Sagrado Coração de Maria, Colégio Diocesano e jornal O Mossoroense.             

Sinceramente, não sei qual rumo seria dado o meu destino se não tivesse aceitado o convite de Emery Costa para fazer ‘qualquer coisa’ no velho e bom jornal centenário O MOSSOROENSE, uma grande escola para muita gente que atua na imprensa. A mesma escola por onde passara Dorian Jorge Freire, talvez o melhor texto do jornalismo brasileiro, com atuação na imprensa de São Paulo e com quem me espelho não somente no texto, mas na ética e na condução da carreira profissional, acima de tudo.

         
Guerra e Vovô bem sabem disso. Por diversas vezes falei pessoalmente o quanto eles são importantes para mim. Mas sempre que dizia isso em entrevistas, os colegas supriam essa informação. Injustamente, por sinal. Temos excelentes colegas que desenvolvem a profissão muito bem, independente de possuir o diploma.

         
A formação acadêmica é ótima, foi bom demais ter passado pelos bancos da universidade, porém, caráter, dignidade, amor à profissão e um bom texto, quem não trouxe do berço, pode adquirir na faculdade da vida, basta ter bom senso e ler bastante.         

O melhor goleador capacita-se mais a cada treino. Seja num time de várzea ou numa grande equipe. Assim também deve ser no jornalismo. 

Lúcia RochaJornalista e cientista social

http://www.luciarocha.com.br/2012/10/o-mossoroense.html 

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