Por Clerisvaldo B.
Chagas, 7 de setembro de 2015 - Crônica Nº
1.484
(Para Goretti
Brandão e Roninho)
Aproveitando a novela de Roque Santeiro, procurei saber quem fabricava santos, na região. Ao descobrir, fui à casa do homem para convencê-lo a receber uma visita de alunos, com consequência de trabalhos e notas. Sempre levei meus pupilos para inúmeros lugares com a finalidade de despertá-los para a sociedade.
(capuchinhos.com).
No dia e hora
aprazados, chegamos à casa do artesão que, por sinal, ficava na periferia do
Colégio. Fomos recebidos com boa vontade, mas com muita modéstia por aquele
homem que jamais tinha registrado visita semelhante. A garotada invadiu o seu atelier, que
era apenas uma cobertura aberta de telha com chão de barro batido. Alguns
instrumentos maiores estavam ali para ajudá-lo, mas nem uma cadeira havia para
alguém sentar. Uma pobreza absoluta que fazia pena! Os estudantes viam as
coisas e indagavam, entrevistando com educação o exímio santeiro. O homem pobre
não se sentia à vontade ─ percebia-se ─, mas procurava responder com paciência
e acanhamento as indagações.
Havia em um
canto de parede, cerca de trinta ou quarenta santos de madeira, entre trinta e
quarenta centímetros de altura, cada. Nunca havíamos visto tanta perfeição em
um trabalho daquele que parecia não ter sido feito por mãos humanas. Após a
sabatina da turma, foi a minha vez de perguntar o destino da mercadoria. Os
santos eram enviados ao Recife, entregues por preço vil e repassados aos
estrangeiros por pequenas fortunas pelos atravessadores.
Um homem rude
daquele, verdadeiro gênio, deveria ser tratado na sua cidade com honras de
prefeito. Ignorado e invisível, o magnífico artesão fabricava santo para o
mundo inteiro, enquanto no seu lugar, aparecia menos que mendigo.
Quando vejo
grandiosos artistas na minha cidade, escultores, pintores, escritores, sem
apoio da venda de uma peça, sem respaldo para publicar um único livro, lembro
como a ignorância impera. Isso faz lembrar a declaração do papa dos poetas
nordestinos, Severino Pinto da cidade de Monteiro, Paraíba. Elevou o nome de
Monteiro para os quatro cantos do mundo e da sua cidade natal nunca recebeu uma
homenagem: “Tudo dei a Monteiro, Monteiro nada me deu”.
A cultura no
Sertão continua com a mesma qualidade do Santeiro e as infinitas mágoas dos
artistas, semelhantes às do repentista Severino.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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