Publicado
em 04 de agosto de 2015
: por Redação
Texto de
Romero Cardoso superou concorrentes de todo o País.
Professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Romero Cardoso foi o vencedor do concurso de texto promovido pelo parque cultural "O Rei do Baião" em Cajazeiras-PB.
Intitulado "Lembranças
do Ídolo", o concurso homenageou o compositor e radialista Rosil
Cavalcante, que completaria 100 anos de idade em dezembro deste ano.
Rosil morreu
em 1968, deixando mais de 100 composições que foram gravadas por cantores, com
Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Marinês e outros.
Segundo a
coordenação do concurso, foram inscritos 77 trabalhos de autores com origem em
vários estados brasileiros. Após a avaliação, a mesa julgadora elegeu a crônica
“A ação implacável das secas em aquarela nordestina”, de Romero Cardoso, como a
melhor.
A 2ª colocada
foi Maria Inez Santos, de São Miguel do Oeste (SC), com a crônica intitulada
“Inesquecível Cavalcanti”. A 3ª na classificação ficou com Carlos Brunno Silva
Barbosa, de Valença (RJ), com a crônica intitulada “Conversa (A) Fiada com o
jovem louco da praça enquanto a campina fica ‘Mais Grande’ no horizonte
distante”.
CONFIRA NA
ÍNTEGRA A CRÔNICA VENCEDORA:
A ação
implacável das secas em Aquarela Nordestina
Na História da
Música Popular Nordestina há lugar de destaque para a abordagem brilhante que
Rosil de Assis Cavalcanti (Macaparana, 20 de dezembro de 1915 – Campina Grande,
10 de julho de 1968) enfatizou no que se refere ao drama representado pelas
secas no Nordeste Brasileiro, através de belíssima canção regional intitulada
Aquarela Nordestina, composta em parceria com Maria das Neves Coura Cavalcanti.
Em 1958,
Marinês e sua gente gravaram Aquarela Nordestina, seguidos por outros geniais
intérpretes, a exemplo de Luiz Gonzaga, registrada em 1989, ano de sua morte em
dois de agosto e Elba Ramalho, que a gravou em 1981, entre outros artistas de
renome.
Disputado
programa radiofônico transmitido pela Rádio Borborema de Campina Grande,
comandado pelo Capitão Zé Lagoa, Rosil Cavalcanti em pessoa, contava com
presença marcantes de artistas regionais, incluindo os precursores da gravação
de um dos mais cultivados hinos nordestinos.
A estiagem que
calcina a terra é invocada para cantar a paisagem da região supliciada pela
ação intransigente do vento aliseo nordeste que, em consonância com a
participação orográfica representada pelo Planalto da Borborema, em cuja
vertente sudeste nasceu Rosil Cavalcanti, em Macaparana (PE), assinalam
indelevelmente marca efetiva no quadro natural do nordeste seco.
Aquarela
Nordestina desperta ideia de pertencimento, destacando aspectos bastante
familiares ao nordestino vítima das secas, pois ao longo dos primeiros versos
descreve com invulgar perfeição a situação de aflição que atinge inexorável da
fauna dependente de água para sobreviver.
A fauna e a
flora eram indissociáveis no cotidiano do povo dos outrora sertões esquecidos,
quase apêndice da própria existência, tendo em vista a relação direta com
costumes e tradições decantadas no legado musical deixado por Rosil Cavalcanti.
Hoje a situação difere radicalmente, tendo em vista o esvaziamento do campo e a
confirmação de uma nova realidade.
Em Aquarela
Nordestina, a intensidade das secas é registrada em razão que áreas não tão
afetadas pela ação inclemente das estiagens são registradas, como o Brejo,
região que em Pernambuco assinalou o nascimento do célebre compositor, bem como
o agreste.
O destaque
florístico contido na música de que acauã no alto do pau ferro canta forte
dimensiona a intensidade da calamidade cíclica, pois o nome vulgar atribuído a
essa espécie vegetal é usado para várias árvores da Família Fabaceae, da mata
atlântica latifoliada semidecídua, sendo encontrada em áreas de transição, como
a que onde Rosil Cavalcanti veio ao mundo.
A seca, em
Aquarela Nordestina, não se restringe ao nordeste semiárido. Em diversos
momentos da História Nordestina, como nos anos de 1877 e 1879, há registros de
que a seca extrapolou seus limites geográficos e se espraiou por espaços
privilegiados, levando inconformismo e desespero, efetivando-se flagelos às
desvalidas populações interioranas da grande região Nordeste.
Patrimônio
valiosíssimo da cultura de um povo forte e altivo, Aquarela Nordestina
ultrapassa gerações e não perde seu valor em razão que eternas pérolas
perpetuar-se-ão desafiando as brumas do tempo e as imposições de modelos falsos
de conduta que não respeitam a grandiosidade de culturas forjadas na
autenticidade.
FONTE:
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