Por José
Ronaldo*
Seu Elias
Daniel, homem pacato, doce e sereno, sinônimo da força negra revigorada na
energia solar do nosso sertão abrasador. Quando puxava o seu fole de oito
baixos conduzia com maestria “Os negros dos pontões” que fazem anualmente o
translado do rosário numa bonita procissão e que enchem de lágrimas os olhos de
quem assiste aquele espetáculo popular vivido a céus abertos, de passos lentos,
cabecinha inclinada para o lado com o peso do tempo sobre as costas caminha em
noites calmas pela Getúlio Vargas tendo como fundo musical as novenas da matriz
do Bonsucesso. Já de bengala na mão e sobre a cabeça o seu chapéu de massa era
um transeunte quase que invisível aos olhos desta nova geração mais que deixa
um legado cultural riquíssimo para seus amigos, filhos e porque não dizer todos
aqueles que queiram beber da sua fonte inesgotável de sabedoria popular.
Acordamos mais
tristes é verdade porque o pássaro que enfeitava o bando colorido que pousava
no largo da igreja do rosário agora voa sozinho, seu último voo abrindo as asas
para um novo céu com a certeza que cumpriu a sua missão nesta penosa caminhada
terrena. Voa seu Elias Daniel, voa embalado nas valsinhas que o senhor tanto
tocou, voa conduzido por milhares de anjos que neste momento devem estar
fazendo o último túnel de varas coloridas e maracás tilintando para festejar a
sua chegada.
.
Não foi
preciso galgar os degraus do capitalismo para demonstrar riquezas, pois a sua
maior riqueza era a humildade, a serenidade e a religiosidade que se fazia
alicerce para a sua estadia no meio de nós. Era um Daniel, era um ser
iluminado, era um artista rústico que teve o privilégio de subir nos maiores
palcos deste estado e porque não dizer deste país, e o que mais nos impressiona
era a “primazia” mais que acertada no título do trabalho do cantor e
compositor” Luizinho Barbosa” ao denominar este seguimento musical de raízes.
Seu Elias era inocente como uma criança, não havia malicia em seu falar nem a
ganância fruto da ignorância e perdição dos homens do nosso tempo, pois ao
término de cada apresentação sentava-se na espera daqueles que o conduziam sem
dizer se quer uma só palavra.
.
Quantas
lembranças me vem à mente neste instante, das nossas viagens para a capital, ao
BNB Cultural de Sousa PB, as inesquecíveis FENART e os ensaios no CENTRO LIVRE
DE ARTE POPULAR –POMBAL PB. Conheci um Elias Pai, amigo, mestre, sereno que nos
transmitia a paz apenas com um simples toque de olhar, um Elias responsável que
mesmo já tendo a saúde tão debilitada nunca se negou a empunhar o seu fole para
dar sequência a coreografia dos negros dos pontões numa farra quase que tribal.
Voa Mestre Elias Daniel voa e prepara-nos uma valsinha para nos recepcionar na
última viagem que faremos para lhe encontrar.
AUTOR: *Zé
Ronaldo (Professor e Artista Popular).
Enviado pelo
professor, escritor e pesquisador do "Cangaço" José Romero de Araújo
Cardoso
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