sábado, 6 de junho de 2015

OS NEYMAR: TAL PAI, TAL FILH

Por Rangel Alves da Costa*

Nunca duvidei do acerto na constatação feita em 2010 pelo técnico René Simões acerca do jogador Neymar. Naquela ocasião, o então técnico do Atlético de Goiás disse à imprensa que aquele menino (Neymar) tinha tudo para ser um péssimo exemplo no futebol.

O péssimo exemplo ao qual se referiu René Simões dizia respeito ao comportamento indisciplinar do então jogador do Santos, que ainda iniciando a carreira já demonstrava não passar de um predestinado a reincidir na má conduta. Eis as palavras do treinador:

“Estou extremamente decepcionado. Estou desde garoto no futebol e poucas vezes vi alguém tão mal-educado desportivamente. Sempre trabalhei com jovens e nunca vi nada assim. Está na hora de alguém educar esse rapaz, ou vamos criar um monstro. Estamos criando um monstro no futebol brasileiro”. E ainda: “O que esse rapaz tem feito é inaceitável. Algo precisa ser feito, Neymar tem de ser educado logo. Desse jeito, ele vai virar um monstro”.

O menino cresceu e fez prevalecer sua fama de craque. O monstro ficaria oculto aos cuidados do tempo. Não se pode negar as qualidades futebolísticas do jogador, mas qualidades estas que não foram aprimoradas nos aspectos comportamentais, morais e éticos. O crescimento futebolístico não veio acompanhado de uma postura digna de um craque de uma equipe grande e de um selecionado brasileiro. E o atleta – também fora de campo – deveria respeitar o prestígio alcançado e a verdadeira devoção que muitos lhe dedicam.

Contudo, nunca deu exemplos maiores que precisava dar. Desse modo, para muitos passou a ser fácil criticá-lo e repudiar algumas de suas atitudes e feições comportamentais. Pessoalmente, nunca valorizei jogadores cheios de cortes e penteados para jogar futebol, nunca apreciei jogadores que saem dos estádios para noitadas, baladas, para curtições rodeados de modelos e esbanjando riqueza.


Não é porque é jovem e milionário que se deve aceitar todo tipo de molecagem. O craque do campo deve também dar exemplo na conduta lá fora. Se faz do futebol uma arte, pessoalmente se torna uma tragédia, um exemplo maior de como não deve ser uma pessoa idolatrada. Seu comportamento sempre me fez lembrar o atacante Adriano com suas amizades suspeitas e o ex-Polegar Rafael Ilha e sua vida desregrada e até criminosa.

Talvez em Neymar ainda estejam latentes tanto o médico como o monstro. O médico como um cirurgião da bola, alguém que a molda e a faz tomar vida e encantamento. Mas também aquele monstro citado por René Simões, só que com outra feição. O monstro na molecagem que continuou tendo, no espertalhão que se tornou, no mentiroso que acabou se revelando, no treiteiro que acabou assumindo ser. E agora a Receita Federal e o Ministério Público querem provar muito mais.

Mas tal comportamento parece ser coisa de sangue, de raiz. O mau-caratismo de Neymar filho sempre foi evidente, a conduta trambiqueira de Neymar pai também. Nem um nem outro já demonstrou possuir o menor caráter, integridade comportamental ou lisura nas ações. Jamais li numa rede social qualquer comentário enaltecedor com relação ao pai. De forma unânime, sempre apontam o caráter duvidoso desse misto de pai e empresário e sua sede incontida por dinheiro, seja de forma escusa ou não.

E o que se assoma agora, dentre outras acusações, é a falta de ética profissional e empresarial. Na final do mundial de 2011, quando jogaram Santos e Barcelona e o time catalão meteu quatro a zero na equipe santista, Neymar entrou fingindo ser jogador do Santos, vez que, por baixo dos panos, já havia acertado tudo com o adversário, até recebido uma fortuna por antecipação. Quer dizer, uma atitude inaceitável para um jogador de futebol com a fama por ele alcançada. E tudo maquinado pelo pai.

A transferência para o Barcelona desde muito que rende reportagens escandalosas. O presidente do Barcelona foi a primeira vítima, e agora a Receita Federal e o Ministério Público estão com provas suficientes para enquadrar os dois Neymar. O pai e o filho são acusados de criar empresas de fachada, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, falsificação de documentos, sonegação fiscal, dentre outros crimes. E certamente haverá denúncia criminal.

Haveria de se dizer que Neymar, o filho, pisou na bola? Logicamente que não, pois tudo premeditado e conduzido pela “experiência” do pai. Difícil agora é sair da marcação implacável da justiça, principalmente diante dos últimos escândalos no mundo fuetebolístico. E que seja um gol de letra para o judiciário brasileiro.

Poeta e cronista
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