sábado, 6 de junho de 2015

IGNORÂNCIA

Por Francisco de Paula Melo Aguiar

Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.
                                           Sócrates 

É preferível ignorar a ignorância oficial e oficiosa de quem quer que seja o agente passivo e ou ativo com capacidade de provocar calúnia, difamação e injúria, contra gente inocente, ética e não corrupta, nem rouba e nem se deixa aliciar. É verdade, o termo ignorância é uma palavra de origem latina, vem de “ignorantia”, proveniente do prefixo “in”, mais o radical de origem grega “gnos”, que significa conhecimento. Assim sendo, ignorância quer dizer, ausência e ou falta de conhecimento sobre determinado tema, seja ele: educação, direito, economia, administração, medicina, engenharia, capacidade criativa, religiosidade, cultura, esporte, literatura, corrupção, formação de quadrilha, simulação de negócios públicos e ou privados, etc. Ignorância é a ausência parcial e ou total da falta de conhecimento sobre determinada área do saber humano, seja ele licito e ou ilícito. E sendo assim, Jean de La Fontaine, cita que “nada há de mais perigoso do que um amigo ignorante, mais vale um sábio inimigo”. É verdade, quando o individuo conhece um tópico sobre determinada área do saber humano, nada sabe sobre outros temas e ou tópicos da mesma área e bem assim das demais áreas do saber pesquisado e organizado, cientificamente falando. Sempre foi assim o entendimento sobre o saber da humanidade, inclusive sobre si mesma. Vejamos, por exemplo, o caso do sábio Sócrates quando ele afirma que “Só sei que nada sei”,  isso há cinco séculos antes de Jesus Cristo. É isso mesmo, o amigo de Sócrates teve a liberdade necessária para ir ao templo do grande Apolo em Delfos só para perguntar quem era o mais sábio dentre todos os gregos de sua época. É verdade, a literatura nos informa de que Apolo respondeu em cima da bucha que Sócrates era o maior sábio grego. O rebuliço foi grande demais diante de tal afirmação, porém, o próprio Sócrates já afirmara que não sabia de nada: “só sei que nada sei”. O que vale dizer que ele mesmo se achava ignorante e ponto final. É isso mesmo, não queria jamais se comprometer que sabia de alguma coisa, preferiu ser ignorante, que entrar na seara alheia do saber e do conhecimento de atos e fatos humanos. Um ignorante nada sabe, portanto não tem conhecimento e muito menos ciência própria do que aconteceu, do que acontece e do que acontecerá. É ignorante? Sim! Então não faz mal a ninguém porque nada sabe. É uma espécie de lavar as mãos diante do fato de ser ignorante, nada sabe. Um ignorante,  jamais poderá ser um sábio diante de uma sociedade mascarada, hipócrita, corrupta e analfabeta. No caso de Sócrates, o “deus” Apolo, enganou-se, mesmo sabendo de que uma divindade jamais poderá se enganar. É um “deus”, só fala a verdade passada, presente e futura. O que é certo é entendido como errado e o que é errado é entendido como certo. É como se fosse por analogia a própria maiêutica socrática¹, que tem como significado “dar a luz”, isso mesmo, “parir” um individuo. É a arte de partejar. Entenda-se a maiêutica socrática como sendo a técnica e ou  método pelo qual  se pressupõe que a verdade está latente na cabeça de todo ser humano, podendo, portanto, aflorar aos poucos, gradativamente, na medida em que se responde a uma série de perguntas simples, quase ingênuas, porém perspicazes. É o sair da alienação e criticar o que está errado na sociedade. A educação crítica é transformadora e a educação reprodutora dos costumes certos e ou errados da sociedade é alienadora. É a hegemonia da cultura de que o poder público fez, faz e fará tudo certo e não tem nada errado. Não se tem dúvida de que a verdade se encontra na mente de cada indivíduo ². Segundo René Descartes, quando se é demasiado curioso de coisas praticadas nos séculos passados, é comum ficar-se ignorante das que se praticam no presente. E Sócrates para não ter que desmentir o “deus” Apolo, a quem ele obedecia em gênero, grau e número, teve que se manter calado, como ignorante o resto de sua vida sempre procurando a sabedoria que alegava que não tinha, tudo para não desmentir a divindade e ser punido com toda arrogância que lhe era peculiar. É melhor ser ignorante em tais condições do que sem condições tentar realizar algo impossível diante dos olhos da sociedade real, que diante da cegueira popular não compreende o momento vivenciado porque cão com a boca prendendo o osso não tem como criticar para pedir reformas estruturantes em todas as áreas da sociedade antiga, moderna e contemporânea. Isso é auto-aplicável na vida diária das pessoas e das instituições públicas e privadas.  É o ato pelo qual o individuo se esconde atrás de empregos e acomodações contratuais, coisas de gente pequena, sem visão de futuro para si e para a coletividade. Assimila que é melhor acomodar-se e ficar calado do que ter que abrir a boca e receber represália em termos de punição verbal e material por asseclas de plantão e mantidos pelo erário.
                
Já se passaram vinte e cinco séculos da saga de Sócrates, diante da afirmação do “deus” Apolo, que o definiu como sendo o maior sábio da Grécia. Agora, os problemas de todas as nações, são outros, se tem conhecimento de tudo que acontece em todos os continentes, tendo em vista as novas mídias tecnológicas, quando o fato está acontecendo o mundo já está acompanhando pela internet, rádio, jornal, televisão, pelas redes sociais, etc. O que vale dizer a que a ignorância de nossos dias não existe, por exemplo, porque Sócrates, se declarou ignorante.  Não pelo contrário. Aqui no Brasil, terra de Pindorama, ilha de Vera Cruz  e Santa Cruz, a nossa ignorância é planejada, programada, motivada e incentiva pela oficialidade nos três níveis de governos: federal, estadual e municipal. É uma coisa “sui generis”, sabe-se quem comete corrupção, porém, não se pune na forma da lei, e quando pune com poucos dias estão soltos para cometerem novos crimes na administração pública e privada. É de vaca não reconhecer bezerro. E se comportar assim é motivo de chacota e comemoração por parte das bandas pobres das elites internas e externas que dominam extrativamente o nosso rico, porém pobre Brasil. Descobrem um mina de pedras preciosas e ou coisas semelhantes como por exemplo, levam tudo para o exterior, deixam apenas a erosão do terreno dragado para retirar o minério. Acontece a agressão ao solo e ao meio ambiente. Desaparecem os autores e atores, ninguém vai para a cadeia. Essa é a cultura de nossos dias. Temos um Brasil para a classe dominante e rica e outro Brasil para a classe pobre e responsável de fazer funcionar as máquinas com ou sem manivelas para gerar riqueza da classe dona do capital contra essa mesma força de trabalho, representada pelos trabalhadores, assalariados com um salário mínimo que não dá para manter uma família composta por pai, mãe e dois filhos. Vida de cão essa de ser assalariado em país subdesenvolvido. É deplorável fechar os olhos para tal ignorância, pois, temos três quartos da população brasileira constituída por analfabetos funcionais. Os analfabetos funcionais são os indivíduos que lêem, porém não entendem o que leram e bem não fazem as quatro operações matemáticas. Se não bastasse isso, ainda existe no Brasil mais de dez milhões de pessoas totalmente analfabetos, não sabem nem ler e muito menos escrever. Não tem casas para morar e vivem de subempregos e ou cometendo atos ilícitos nas grandes e pequenas cidades, como sempre sem segurança pública capaz de garantir sossego as pessoas ativamente trabalhadoras e pagadoras de impostos diretos e indiretos. É o exemplo da cidade de Santa Rita, pertence a área metropolitana apenas no papel.
               
A corrupção é a materialização da falta de ética e ignorância de um povo. Temos noticias de sua prática em todos os níveis de gestão pública e privada na Terra do Pau Brasil. Infelizmente, em termos tecnológicos o nosso país ainda está vendo navio, pois, precisamos de quatro trabalhadores para produzir o mesmo que um trabalhador produz nos Estados Unidos da América. E não é muito diferente em relação a outros países, pois, precisamos de três trabalhadores para produzir o mesmo que um sul coreano, e de dois trabalhadores para um argentino, chileno e ou russo. São essas as noticias estatísticas são divulgadas. Os investimentos estruturantes e industrializantes ainda são precários, falta inclusive à força energética em termos de eletricidade limpa para gerar tal progresso sonhado e nunca concretizado. Tudo não passa de promessa de campanhas políticas. Vivemos sempre em crise em termos energéticos. Parece uma brincadeira, se temos as maiores quedas de água do mundo em termos fluviais. E Platão tem razão ao afirmar que “não há nada bom nem mau a não ser estas duas coisas: a sabedoria que é um bem e a ignorância que é um mal”. O saber aqui não é referenciado como sendo uma metodologia para praticar corrupção em seus diversos aspectos e tipologias. Os sábios do passado viviam voltados para o saber que levasse ao bem comum do corpo e do espírito. Riquezas materiais não eram seus objetivos filosóficos laborais, temporais e vivenciais.
               
Assim sendo, a idéia do método e ou prática maiêutica, criada no século IV a. C, por Sócrates, inspirado na profissão de parteira de sua mãe Fanerete, segundo o próprio sábio confessa no diálogo Teeteto³, isso significa outro tipo de conhecimento que não é o conhecer para praticar e ou parir corrupção.
                
A ignorância entre nós ainda é tão grande que parece mais como um retardamento mental por parte de nossas classes dominantes. Lao-Tsé, nos ensina que: “quem conhece a sua ignorância revela a mais profunda sapiência. Quem ignora a sua ignorância vive na mais profunda ilusão”. Isto é verdade, contra fatos não se tem argumentos contrários. As classes dominadas também não ficam para trás, se envolvem com partidos de esquerdas, que alienam a classe operária e aí a coisa fica preta, de modo que a ignorância do povo ainda é tão grande que exime direta e indiretamente da responsabilidade moral, o que é uma falta de ética, que necessariamente leva a corrupção e que tem como conseqüência a riqueza fácil de determinados grupos de passagem pela gestão dos negócios do poder público que parece mais um balcão de negócios, do que a gestão do bem público. Apesar de tudo nem todo analfabeto é ignorante, pois, esse tipo de individuo sabe quando está sendo roubado, portanto, através dos meios de comunicação tomam conhecimento da prática de lavagem de dinheiro público e dos desvios de condutas dos homens escolhidos para lhes representar em todas as esferas do poder constituído. Não temos dúvidas de que “os ignorantes, que acham que sabem tudo, privam-se de um dos maiores prazeres da vida: aprender”, é a grande lição herdada do Provérbio Popular, com tais ensinamentos. É verdade, povo subdesenvolvido é o maior obstáculo para se atingir o desenvolvimento em termos nacionais. Não temos dúvidas de que “existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância”, segundo Sócrates. Vivemos ainda no país que faz políticas públicas como se faz distribuição de favores e ou esmolas para pedintes de rua, emocionalmente transtornados, em fase terminal.

¹ Cf.: InfoEscola. In.: < http://www.infoescola.com/filosofia/maieutica/> . Página visitada em 04/06/2015.
² Cf.: Conceito de Miêutica. In.: < http://conceito.de/maieutica> . Página visitada em 04/06/2015.
³Cf.: Teeteto. In.: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Teeteto> . Página visitada em, 04/06/2015.


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