sábado, 27 de junho de 2015

A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES SOCIAIS PARA O PROCESSO DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO

Por José Romero Araújo Cardoso[1] e Marcela Ferreira Lopes[2]

Espaço geográfico é produto direto da ação do homem transformando o meio ambiente natural em segunda natureza, cujos condicionantes encontram-se na forma como estão estabelecidas as relações sociais de produção e a disponibilidade técnica em um dado momento histórico.
          
Durante exatamente um século, desde que a geografia moderna foi sistematizada como ciência até o advento da ênfase crítica calcada no materialismo histórico e dialético, a real dimensão acerca do processo de produção do espaço geográfico foi obliterada de forma consensual pelos teóricos da geografia tradicional e da geografia teorético-quantitativa.
          
Enfatizar o real sentido sobre o significado de espaço geográfico suscitaria bases reflexivas acerca das diferenças existentes em uma determinada sociedade, razão pela qual buscar compreendê-lo enquanto sinônimo de conquistas, caso da teoria do espaço vital formulada pelo alemão F. Ratzel, bem como notável alienação através da teoria do espaço absoluto do norte-americano Richard Hartshorne, apareceram como a saída para desviar a atenção no que se refere a importância desse conceito-chave para a ciência geográfica.
          
Importante categoria de análise presente na proposta da geografia crítica, as relações sociais de produção aparecem como catalisadoras no que tange as reflexões pertinentes às contradições sociais.
          
A forma como indivíduos aparecem enquanto beneficiados ou excluídos cristaliza-se através do espaço construído. Suntuosas mansões e barracos em favelas podem ser explicados através de como se dão as relações sociais mantidas pelos seres humanos através da produção econômica.
          
Detentores dos meios de produção, favorecidos pela forma como infraestrutura e superestrutura se articulam a fim de garantir privilégios, estão situados em posição privilegiada na pirâmide social. Resultado disso é a sofisticação do espaço produzido, marcado pela proeminência em razão da apropriação dos frutos do trabalho da grande maioria. A teoria marxista sintetizou esse processo denominando-o de mais-valia.
          
Em contrapartida, devido à ausência de condições materiais a fim de fomentar a sofisticação do espaço construído, em geral, as pessoas que apenas dispõe da força de trabalho vai ter suas moradias caracterizadas pela incipiência das formas estruturais.
          
Observa-se através das rugosidades que perduram no tempo e no espaço que os diversos modos de produção caracterizados pelas notáveis diferenças inter-classes ostentaram os desníveis provocados pelas diferenças apresentadas através das relações sociais de produção.
          
No escravismo antigo ou colonial as moradias dos patrícios e dos escravos, bem como dos senhores de engenhos ou de cafezais e a mão-de-obra negra, casos brasileiros, sintetizaram a forma como o espaço geográfico apareceu notavelmente diferenciado.
          
No feudalismo, cujas expressões encontramos através da permanência no espaço atual de castelos suntuosos, as relações sociais de produção, impostas principalmente através de rígidos preceitos religiosos, estavam alicerçadas nas diferenças entre servos, clero e nobreza.
          
No capitalismo, a relação valorização X marginalização espaciais estão diretamente relacionadas à estrutura montada a forma de garantir privilégios, notabilizando esquemas históricos que engendram diferenças.
          
Milton Santos, geógrafo brasileiro para quem o estudo apresentado pelas condições espaciais esteve ligado a sua proposta teórica a tal ponto que rendeu-lhe o prêmio Vautrin Lud, considerado o Nobel da geografia, exponencializou sobremaneira a importância das relações sociais de produção para o processo de produção do espaço geográfico como indispensável fator que explica diretamente a existência de diferenças em uma sociedade.   

[1] José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UERN).

[2] Marcela Ferreira Lopes. Geógrafa-UFCG/CFP. Especialista em Educação de Jovens e Adultos com ênfase em Economia Solidária-UFCG/CCJS. Graduanda em Pedagogia-UFCG/CFP. Membro do grupo de pesquisa (FORPECS) na mesma instituição.

Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero de Araújo Cardoso

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