sábado, 23 de maio de 2015

INVEJA

Por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

O historiador e o poeta não se distinguem um do outro pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso. Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido.
                                               Aristóteles

No tocante a origem epistemológica do termo inveja, sabemos que vem do latim “invídia”, de “in” privativo, negativo mais o termo “videre”, significando ver, olhar com maus olhos para algum indivíduo, coisa, instituição, objeto, etc., é o ficar do lado oposto sempre. Evidentemente que isso é um distúrbio de personalidade e ou crise emocional existencial de alguém que pensa que ser dono do pedaço e que sabe tudo e ninguém sabe de nada. O sol só nasce para esse tipo de gente. Pelo menos pensam assim. Ledo engando. É a representação da arrogância individual de gente fraca, despersonalizada e incapaz de ter tudo que quer nas suas mãos sem ter que usar de corrupção no sentido axiológico da palavra. É gente pequena,pobre de espírito. Um Zé arigó qualquer. Poder ser gente também metida a intelectual porque sabe desenhar mal, apenas o primeiro nome que consta no seu registro de nascimento, se é que foi registrado como ser humano em algum cartório oficial. O mundo está cheio dessa tipologia peçonhenta, bem parecido com qualquer  animal venenoso capaz de injetar o seu veneno no organismo de outro animal racional e ou irracional. O poeta irlandês Oscar Wilde¹, cita que “o número dos que nos invejam confirma as nossas capacidades” e acrescenta que “a cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre”, bem como afirma que “as mulheres existem para que as amemos, e não para que as compreendamos” e nos recomenda ainda que “a ambição é o último recurso do fracassado”. Isso é fato, porque o individuo desnaturado tem inveja e sabe muito bem como traquejar seu veneno para destruir e desconstruir outro individuo que não faz de si conta no seio da sociedade, tendo em vista que é gentinha e gentinha não tem sociedade e ou elite para freqüentar, a não ser o venenoso que sai de sua boca de badalo sem qualquer tipo de pudor, seja ele ético, profissional, social, religioso, político, administrativo, sexual, esportivo, etc., porque é gentinha mesmo em todas as suas atitudes e ações. O filósofo alemão Arthur Schopenhauer², tem razão de sobra ao afirmar que “ninguém é realmente digno de inveja, e tantos são dignos de lástima!” e conclui enfatizando de que “dinheiro é como água do mar: quanto mais você toma, maior é sua sede. O mesmo se aplica à fama”. Só visa prejudicar os outros que não se submetem aos seus baixos caprichos pessoais em qualquer sentido da palavra. Gente sem luz própria. O espelho da sociedade lhe dá as costas quando avista sua máscara refletida no côncavo e /ou convexo. Esse tipo de gente tem o sentimento vulgar de desgostos em face do bem e/ou do sucesso alheio. Quer a destruição de alguém que lhe é superior em qualquer sentido de qualquer maneira. Assim sendo, o invejo nunca fica contente com aquilo que tem e/ou possui e/ou recebe, fica sempre revoltado quando contempla benefícios, elogios e/ou sucesso, felicidade de quaisquer formas e/ou tipos atribuídos a outra pessoa, justamente aquela pessoa que lhe é superior em qualquer sentido da palavra. Apenas lhe será igual no tocante a terminologia bíblica do viesse do pó e para o pó voltarás. Esse tipo de gente invejosa leva inevitavelmente à maledicência e à calúnia, únicas maneiras de tentar atingir para destruir a sua presa inofensiva de que nunca tomou conhecimento de sua própria insignificância existencial. Morde, porém não engole. Gente medíocre mesmo, fica de morrer de raiva porque nada significa sua presença para os indivíduos que o conhece na vida diária. Gente medíocre e pequena demais para ser notada onde chega.
                 
Bem, a maledicência é outro termo de origem latina, vem de “malum”, ou seja, significa mal, que somado com o termo “dicere”, no sentido de dizer e/ou falar. Falar mal de alguém em termos práticos.  Esse tipo de crise existencial individual é a falta de caráter pessoal que conduz direta e/ou indiretamente o individuo a falar mal de seus semelhantes, fabricando fraquezas e/ou defeitos para divulgar e/ou atribuir-lhes. A pessoa maledicente vive desse tipo de prazer e/ou canalhice, em criar e/ou inventar perfídia para revelar verdades inverídicas, pouco favoráveis a outras pessoas, e o faz, cotidianamente, na maior parte das vezes, por ignorância, inveja e até mesmo por ociosidade, não tem nada a fazer a não ser se preocupar em criar fantoche contra a vida alheia. É gente do disse me disse diário. Isso significa mesmo de falta de caridade e prova inconteste da incapacidade própria de reconhecer seus próprios defeitos, canalhices e fraquezas pessoais, profissionais, materiais, espirituais, acadêmicas, sexuais, familiares, sociais, políticas, etc. Esse tipo de gentinha esquece sempre o grande ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo: “quem pode atirar a primeira pedra?”. Tanto é assim o escritor espanhol Francisco Quevedo³, nos informa que “a inveja é assim tão magra e pálida porque morde e não come”, e até porque “virtude invejada é duas vezes virtude”, de modo que “aquele que perde a reputação pelos negócios, perde os negócios e a reputação” e finaliza aconselhando se alguém “disse algum mal de ti? Não o digas tu dele, quanto mais não seja para que a ele não te assemelhes, imitando-o”.
               
E não é diferente o invejoso cometer calúnia contra alguém que não pertence ao seu ciclo medíocre de amizade, inimizade e fogo amigo, se é que isso se pode chamar de amizade fechada e/ou aberta, amizade por acaso e oportunista de plantão. Também o termo calúnia é de origem latina, vem de “calumnia”, do particípio do verbo arcaico, “calvor” e o/ou “caluar”, que significa justamente enganar alguém, e/ou levar alguém a fazer conceito negativo e/ou positivo de outra pessoa por sua conta e risco. É levar pessoas incautas a erro. À calúnia é uma injustiça, disso não se tem dúvida, e além do mais é uma violação da reputação alheia, sem base da verdade, apenas pela vontade cínica, nua e crua em fazer o mal, acarretando prejuízos diversos e nunca reparáveis por maiores que sejam suas desculpas e indenizações de danos morais civis e penais nos termos da legislação em vigor. Pode-se até perdoar, porém, nunca esquecer da angústia e do sofrimento provocado pela injúria, maledicência e inveja. Diante disso, invocamos o pensamento do dramaturgo grego Ésquilo4 que menciona “há poucos homens capazes de prestar homenagem ao sucesso de um amigo, sem qualquer inveja”, isso é um fato, tendo em vista que “raras são as pessoas que têm caráter suficiente para se alegrar com os sucessos de um amigo sem ter uma sombra de inveja”.
                 
O ato de caluniar alguém significa brincar com a vida alheia. E o caluniador faz isso movido pelo ódio e/ou desejo de vingança pelo simples fato de não ter e não ser o caluniado, de modo que esse tipo de gente merece ser repulsado perante todos os membros da comunidade e //ou local que freqüenta. Essa gente é sempre uma pedra de tropeço em sua vulgaridade em fazer maldade com a vida alheia de quem quer que seja. O caluniador nem sempre tem o dever de reparar o mal que cometeu, confessando a verdade, na forma da lei e/ou por mais que lhe custe tal atitude, pois, somente através dela seria possível, embora nunca perdoado e/ou esquecido contra tal pessoa, se poderia recuperar o chamado sentimento da dignidade humana e bem assim o direito de acatamento por parte de outros indivíduos. É inaceitável na vida e na morte o comportamento do invejoso, maledicente e caluniador, inclusive na legislação brasileira, ex-vi o artigo 138, do Código Penal, o ato de caluniar é crime.


¹ Cf.: Biografia de Oscar Wilde. In.: < http://pensador.uol.com.br/autor/oscar_wilde/biografia/ > . Página visitada em, 23/05/2015.
² Cf.: Biografia de Arthur Schopenhauer. In.: < http://pensador.uol.com.br/autor/arthur_schopenhauer/biografia/ >. Página visitada em, 23/05/2015.
³ Cf.: Francisco Gómez de Quevedo y Santibáñez Villegas (Madrid, 17 de Setembro de 1580 -Villanueva de los Infantes (Ciudad Real), 8 de Setembro de 1645) foi um escritor do século de ouro espanhol.
4 Cf.: Biografia de Ésquilo. In.: < http://pensador.uol.com.br/autor/esquilo/biografia/ > . Página visitada em, 23/05/2015.


Enviado pelo escritor Francisco de Paula Melo Aguiar

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