Por Rangel Alves
da Costa*
Tanto a
manipulação como o fanatismo se presta a um só fim: a cegueira perante a
realidade. Mas chegando a isto por estágios diferentes de um mesmo caminho.
Enquanto a manipulação age para distorcer a realidade, o fanatismo vai
aceitando passivamente tal distorção. E não apenas aceita como faz do engodo
uma defesa de fé.
Os conceitos
deixam induvidosos os entrelaçamentos entre manipulação e fanatismo. Tem-se a
manipulação como o ato de persuadir, de convencer o outro para que acate suas
pretensões. Significa influenciar a pessoa de tal modo que esta deixa de
refletir por si mesma e despojar-se de toda crítica pessoal e social, para
fervorosamente abraçar e defender o que lhe é incutido como correto.
A partir daí o
manipulado passe a ter uma falsa consciência de toda realidade, eis que somente
válida aquela que lhe foi imposta. A realidade passa, então, a ser aquela que
lhe foi incutida, mentalmente trabalhada. E o indivíduo que vai aceitando o
jogo do outro, por falta de conhecimento da realidade ou porque fácil demais de
ser atraído e manejado, passa a ser um fantoche, um mero bibelô das pretensões
quase sempre escusas daquele. É o estágio aonde se chega ao fanatismo.
E fanatismo
pode ser conceituado como defesa intransigente de crenças e opiniões. Mas
defesa não de forma racional, correta, a partir de pontos de vista coerentes ou
de teorias, mas de forma vaga e despida de qualquer caráter de plausibilidade.
Ora, o fanático não enxerga além da falsa realidade que lhe foi forjada. Como
um ser que passa a enxergar somente um caminho, sempre numa só direção, sequer
se preocupa com o que se passa ao redor, pois importa somente avistar o que ao
outro interessa. Além disso, cuida também de defender a escolha do caminho
errado. E faz isso com desmedida intransigência.
A pessoa
verdadeiramente cega diante da causa, não aceitando conceito divergente senão
aquele que acredita. O fanático abraça sua causa de tal forma que pouco lhe
importa que esteja sendo iludido, enganado, ludibriado. Por consequência, acaba
valorizando muito mais a causa defendida do que o próprio valor que esta possa
possuir. Não há medida no fanatismo, pois defendido exageradamente, numa
passionalidade tal que a pessoa passa a viver da lealdade àquela crença.
O fanatismo é
fruto da manipulação. Nenhum fanático chega ao patamar da paixão se não for
levado a tal por meios inteligentes, porém sempre ardilosos e maquiavélicos.
Como não é todo mundo que se presta ao fanatismo, vez que a racionalidade, a
inteligência e o senso crítico, não se deixam ludibriar com facilidade, então a
manipulação se volta para aqueles de menor raciocínio, geralmente pessoas menos
cultas, iletradas e em situação de vulnerabilidade social. Entretanto, não é
difícil que pessoas letradas e até críticas se fanatizem por conveniência.
Um exemplo
claro de como pessoas presumivelmente inteligentes se deixam fanatizar
facilmente pode ser avistado no meio político-partidário. Jovens que saíram dos
bancos acadêmicos, profissionais liberais e até intelectuais, de repente passam
a defender bandeiras partidárias com tal fervor que mais parece uma cause de
sustentação da vida. Como acontece no momento presente, onde o PT se tornou
sinônimo de lamaçal e corrupção, não é difícil encontrar aqueles que são
capazes de brigar em nome de sua bandeira, de sua honradez e honestidade. É um
fanatismo que chega às raias da insanidade.
Também a
religião possui o poder sem igual de fanatizar. Por medo dos pecados ou por
instinto de fé, a verdade é que as pessoas muito religiosas, principalmente nas
regiões interioranas mais distantes, são facilmente manipuladas pela própria
religião, através dos sacerdotes. E assim ocorre também com aqueles que se
convertem às novas religiões e de repente se transmudam de tal forma que
parecem ter recebido lavagem cerebral. Os pastores das igrejas evangélicas,
batistas e protestantes, manipulam de tal modo a mente acrítica e fragilizada
dos fiéis que acabam os tornando verdadeiros alienados. Mas os fins da
manipulação nem sempre se voltam apenas para a afirmação da fé, tendo objetivos
muito maiores.
E os objetivos
do fanatismo, principalmente o de cunho religioso, se voltam sempre para a
incapacitação do indivíduo. E quando este não mais responde por si mesmo, mas
tão somente pelo que lhe ordenam, então a própria sobrevivência é negada em
nome do interesse escuso do manipulador.
Poeta e
cronista
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