VELHOS TANGERINOS* DO SERIDÓ.

Por Jair Eloi de Souza

Grassava o ano de 1958. Quadra chuvosa velhaca. O gado urrava em todos os quadrantes das terras nordestinas. A fome transformava os campos e feudos em verdadeiros depósitos de carcaças. Em abril, espirraram algumas chuvas de manga*, pras bandas do Seridó paraibano (São Bento e Paulista), indo até às cumeeiras da Serra do Teixeira.

Essas chuvas deram motivo, para que as grandes retiradas*fossem organizadas.

No Município de Jardim, se destacavam as figuras de Chico Eloi*, Chico Pedro, Sebastião Camelo, Chico Roque. Eram grandes e bons condutores dos rebanhos. Sabiam a hora de caminhar e de fazer as pausas, para o gado malhar e descansar, matar o enfado, comer resíduos de capim panasco e beber. No nascer da estrela d`alva, café de trempe, alforjes à tiracolo, o aboio reboado já ecoava de estrada afora.

A maioria desse tangerinos, já experientes, pois, foram homens oriundos do “coice da burrarada”, Quando da matutagem do carrego de farinha e rapadura do Cariri e até do Brejo paraibano, oficiavam para o velho Marinheiro Saldanha, que tinha seus vínculos com o Teixeira, de onde viera com os seus, na metade do Séc, XIX.

Nessa faina de condução do gado, esses tangerinos, tinha noção dos trechos a serem percorridos e onde fazer a arranchação. Que geralmente eram em propriedades de amigos do Velho Marinheiro, onde eram servidos com a providencial refeição e dormida no copiar* ou na fresca dos alpendres. Esse era um dos grandes momentos da hospitalidade sertaneja, que tanto Juvenal Lamartine de Faria, decantava na sua obra: “Velhos Costumes do meu Sertão”.

A volta do rebanho, para as terras de origem, dava-se quando a quadra chuvosa do ano seguinte, molhava a terra e as gitiranas já estavam no viço. No Sertão do antanho as coisas eram assim. 

Tangerino*: Homem responsavel pela condução do rebanho no nordeste brasileiro.Este homem deu origem ao nosso vaqueiro. A palavra nasceu do porto de Tanger de onde originou parte do gado vindo para o nordeste.

Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço Francisco Borges de Araújo - Jardim de Piranhas - Rio Grande do Norte

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