sábado, 3 de janeiro de 2015

TRAIÇÃO E PERDÃO

Por Francisco de Paula Melo Aguiar

Ainda que a traição agrade, o traidor é sempre odiado.
                                   Miguel de Cervantes

A história da humanidade, tem início em Gênesis, primeiro livro da Bíblia Sagrada, que relata a origem e ou nascimento de todos os seres animados e inanimados, racionais e irracionais existentes na face da terra, no ar e no mar, no céu e o inferno. O livro sagrado está cheio de passagens e ou relatos envolvendo personagens históricas laicas e religiosas, inclusive irmãos traindo irmãos. A vida sempre foi assim desde a origem do homem na terra. Tudo teve inicio a partir do momento em que Adão e Eva desobedeceram às ordens de Deus, se anteciparam e resolveram trair a confiança do autor da vida e de tudo que mais existe com ou sem sopro. A serpente teve mais valia perante Eva que induziu a Adão a comer simbolicamente a “maçã”, fruto do Jardim do Édem, proibido por Deus de ser consumido pelo homem. Ante o exposto o pecado foi introduzido entre os seres humanos em sua origem primitiva epistemologicamente falando.


A palavra traição vem do latim “tradutio”, significando entrega, de onde também provem o termo tradição. Assim podemos afirmar sem sombra de dúvidas de que o termo traição tem vários significados e abrange: 1º) a citação ou transcrição, por exemplo, pouco fiel do pensamento alheio em documentos públicos e ou privados, nos meios de comunicação, na internet, nas mídias sociais dos novos tempos informais, dos profissionais do magistério que brincam de ensinar seus alunos, dos médicos que não atendem seus pacientes na forma do juramento feito no momento da formatura, da palavra dada pelos políticos antes das campanhas e de suas rasteiras em modificá-las para trair o eleitorado e toda população, não cumprindo nada, da justiça com dois pesos e duas medidas, tem um tratamento para os ricos e outro para os pobres em seus julgamentos, da corrupção com o dinheiro público, cultura reinante em todos os confins da terra, inclusive no Brasil, porque são tantas as denuncias envolvendo a Petrobrás, dentre dezenas de outros federais, estaduais e estaduais, tem dinheiro para tudo e falta dinheiro para resolver os problemas da população mais carente, etc; 2º) a denúncia de todos os níveis contra companheiros e ou seu abandono na hora da dificuldade em todas as esferas do poder publicado e/ou do poder privado, não se vai muito longe para se ver alguém querendo se tornar ditador de uma associação sindical, desrespeitando os próprios estatutos, quando faz realizar uma eleição e não respeita o seu resultado, e ainda enche o peito que isso é “direito liquido e certo” e é “democracia”, quando o individuo já está há mais de dez, vinte, trinta anos no exercício do quero, posso e mando na referida entidade, chiqueiro de sua casa, todos os associados são desrespeitados ao seu bel prazer, dentre milhares de exemplos de traição pelo mundo afora, inclusive no Brasil, onde o mais sabido quer se perpetuar no poder público e no poder privado a qualquer preço, abuso de confiança, etc; 3º) a revelação de confidências e ou de segredos, trazendo prejuízos a quem os confiou, que no caso da política nacional, estadual e municipal, dentro da visão demográfica brasileira, a nossa gente, sendo sempre surpreendida com pacotes de reformas onde somente os pobres são atingidos em gênero, grau e número, um exemplo disso, o caso do Plano Collor¹, no inicio da década de 90 do século XX e agora com as reformas previdenciárias² anunciadas pelo Governo Dilma Rousseff, que mexe com as regras de concessão de benefícios previdenciários: aposentadoria, pensão e seguro desemprego de toda a classe trabalhadora, porém, a nossa democracia é nova, incipiente, o povo só vai para o meio da rua se for insuflado e ou comandado por algum pseudo “agitador” e ou liderança nova que pretende ser vereador, prefeito, deputado, governador, senador, presidente, o cão que os parta, então por analogia, a democracia brasileira parece com aquela figura masculina afeminada do “Zorra Total”, da TV Globo, quando afirma “está muita recente”, para justificar porque está soltando a franga que tem dentro daquele personagem; sem deixar de lado a obra interminável da transposição do Rio São Francisco; do projeto de reforma agrária abortado, onde pobres camponês são insuflados a invadir terras de latifundiários improdutivos e não oferecem os mecanismos necessários para transformar a zona rural na terra prometida, a terra de Canaã, a fartura, enquanto isso lá falta tudo de “Ordem e Progresso”, símbolo máximo de nossa brasilidade. E isso é motivo de algazarra pelos assistentes daquele quadro todas as semanas naquele programa das vinte e duas horas aos sábados. É assim que governantes e governados cometem auto-traição na historicidade presente de nossa gente. Todo mundo quer tirar vantagem em tudo, só pensa em si mesma e em mais ninguém; 4º) a infidelidade em todas as relações pessoais, profissionais e políticas, isso em termos de compromissos assumidos e nunca cumpridos, acarretando vergonha e acima de tudo degradação para a vítima em termos individuais e ou coletivos, quando a população em geral está direta e indiretamente envolvida. Isso é lastimável, porém, faz parte da conduta humana, com raras exceções.
                       
Na Bíblia Sagrada encontramos a traição praticada pelos pais de José, segundo nos informa Genesis³, capítulo 45, versículos 1 a 16, onde “então José não se podia conter diante de todos os que estavam com ele; e clamou: Fazei sair daqui a todo o homem; e ninguém ficou com ele, quando José se deu a conhecer a seus irmãos”, ato continuo “e levantou a sua voz com choro, de maneira que os egípcios o ouviam, e a casa de Faraó o ouviu”, ele clamar diante dos seus irmãos “e disse José a seus irmãos: Eu sou José; vive ainda meu pai? E seus irmãos não lhe puderam responder, porque estavam pasmados diante da sua face”, isso mesmo “e disse José a seus irmãos: Peço-vos, chegai-vos a mim. E chegaram-se; então disse ele: Eu sou José vosso irmão, a quem vendestes para o Egito’, o que fica evidente esse fato no livro da origem do mundo, de modo que “agora, pois, não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá; porque para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós”, e adiante que “porque já houve dois anos de fome no meio da terra, e ainda restam cinco anos em que não haverá lavoura nem sega”, e afirma que “pelo que Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra, e para guardar-vos em vida por um grande livramento”, é aí que José admite perdoar quando afirma “assim não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus, que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como regente em toda a terra do Egito”, de modo que José, dentro de sua humildade, além de perdoar a traição que sofreu por parte de seu pai e de seus irmãos, disse-lhes: “apressai-vos, e subi a meu pai, e dizei-lhe: Assim tem dito o teu filho José: Deus me tem posto por senhor em toda a terra do Egito; desce a mim, e não te demores; E habitarás na terra de Gósen, e estarás perto de mim, tu e os teus filhos, e os filhos dos teus filhos, e as tuas ovelhas, e as tuas vacas, e tudo o que tens”, e além do mais profetizou que “e ali te sustentarei, porque ainda haverá cinco anos de fome, para que não pereças de pobreza, tu e tua casa, e tudo o que tens”, porém, ficou muito alegre em reencontrar os seus irmãos, sua família, apesar de ter sido vendido como mercadoria a estranhos, quando cita: “e eis que vossos olhos, e os olhos de meu irmão Benjamim, vêem que é minha boca que vos fala”, e continua falando “e fazei saber a meu pai toda a minha glória no Egito, e tudo o que tendes visto, e apressai-vos a fazer descer meu pai para cá”, de modo que perdoou o que lhe fizeram “ e lançou-se ao pescoço de Benjamim seu irmão, e chorou; e Benjamim chorou também ao seu pescoço”, e o livro dos livros registra: “e beijou a todos os seus irmãos, e chorou sobre eles; e depois seus irmãos falaram com ele”, jamais José renegou seus irmãos, mesmo diante da traição, tudo porque seus irmãos são carne da mesma carne e sangue do mesmo sangue, família é família em qualquer situação, salvo pequenos comportamentos de gente pequena ainda vivente na face da terra, “e esta notícia ouviu-se na casa de Faraó: Os irmãos de José são vindos; e pareceu bem aos olhos de Faraó, e aos olhos de seus servos”, reconhecendo como algo natural e legitimo o reencontro dos irmãos com José “e disse Faraó a José: Dize a teus irmãos: Fazei isto: carregai os vossos animais e parti, tornai à terra de Canaã”, enfatizando “e tornai a vosso pai, e às vossas famílias, e vinde a mim; e eu vos darei o melhor da terra do Egito, e comereis da fartura da terra”. O que significa dizer que ninguém se esconde dos olhos de Deus na face da Terra e o reencontro sempre é possível como também é o possível o perdão entre os homens. Sem perdão, nunca teremos paz. O perdão elimina de uma vez por todas a distância existente entre os humanos de ideologias opostas, sempre será assim.
                         
No Novo Testamento vamos encontrar Jesus Cristo sendo traído por Judas, cujo nome passou a ser uma espécie de sinônimo de traição, mesmo assim o mestre o perdoou. Até São Pedro traiu o Divino Mestre, conforme menciona São Lucas, Capítulo 22, versículo 61: “O Senhor voltou-se e olhou diretamente para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra que o Senhor lhe havia dito: Antes que o falo cante hoje, você me negará três vezes”. Disso não temos dúvida.
                        
Não foi diferente na História do Brasil, através da figura de Domingos Fernandes Calabar4 (1600-1635), que nos deixou triste lembrança ao pretender desmembrar parte do território nacional para o domínio holandês. Isso é crime de alta traição, todos os crimes cometidos contra o Estado Nacional.
                          
Em síntese, o José5 que fala o livro de Genesis, aqui praticamente transcrito, capítulo 45, versículos 1 a 16, da Bíblica Sagrada, não é o José, esposo de Maria, a mãe de Jesus Cristo. É outro José, aquele que foi vendido pelos irmãos como escravos por seus irmãos. E isso representa sofrimento na escravidão consentida pelos irmãos de José, porém, mesmo assim, ele perdoou-os, exemplo de pessoa a ser seguido em todos os tempos pela humanidade. E isso não é coisa para ser feita por gente fraca, que briga e fica mal diante de qualquer coisa que lhe aconteça de ruim. Deus sempre esteve presente na vida de José no Egito e fora do Egito.  Tanto é assim, que José passou a ser o instrumento número um para salvar o povo e sua família da grande seca, relatada pelo documento divino. Aconteceu o reencontro com seu pai e com os seus, viveram felizes para sempre. Todos nós precisamos deixar que Jesus Cristo resolva todos os problemas de nossas vidas, é a ela que devemos nos entregar de corpo e de alma, sem hipocrisia histórica ou escatológica. Somente assim todas as nossas feridas passadas, presentes e futuras, serão curadas, desaparecem os sofrimentos materiais e imateriais. Uma vez derramados os nossos sentimentos na presença de Jesus Cristo, de verdade e sem hipocrisia, tudo será resolvido e sem demora. Sabemos que nem sempre conseguimos esquecer o que aconteceu em nossas vidas de ruim provocada por outras pessoas. Devemos sempre lembrar os fatos, porém, sem odiar quem direta e ou indiretamente  o causou. Não vamos esperar sentir voluntariamente vontade de perdoar alguém, pois, essa vontade jamais virá em nossas vidas, tudo porque o perdão é uma tomada de decisão impar e unilateral de cada um de nós, depende de muito esforço, porém é por demais libertador, levando-se em consideração de que Jesus Cristo é o profeta do amor, da cura dos doentes, da humildade, enquanto que a traição surge diante do conflito de ideais e do ciúme do ser e do ter de cada individuo.

¹ Cf. < http://pt.wikipedia.org/wiki/Plano_Collor > - Página visitada em 03/01/2015.
³ Cf. < https://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/45 > . Página visitada em 03/01/2015.
4 Cf. < http://www.e-biografias.net/domingos_fernandes_calabar/ > . Página visitada em 03/01/2015.
5 Cf. < https://www.youtube.com/watch?v=dMlygEcI4LI >. Página visitada em 03/01/2015.


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