Por Rangel Alves
da Costa*
Quando se ouve
falar em decadência logo surge à mente a noção de queda, declínio,
empobrecimento. Neste sentido se diz que determinada pessoa está em decadência,
que os valores morais e éticos da sociedade entraram em decadência. E também
que aquilo que se mostrava tão pujante e promissor, de repente declinou de seu
progresso e caminha para o reles do nada.
Os teóricos e
historiadores sempre abordaram acerca da ascensão e queda de impérios, nações e
civilizações. Neste caso, a decadência significa o exaurimento do poder
político e, consequentemente, da própria sociedade. A prosperidade vai dando
lugar à fragilidade, os governantes perdem credibilidade, a economia fracassa,
a sociedade começa a padecer de todos os males. E povos fragilizados e
decadentes tornam-se alvos fáceis de invasores, como ocorreu com os bárbaros
lançando mão de reinos inteiros.
Assim, a
decadência presume uma mudança de situação, uma ruptura negativa, um descenso.
A burguesia entra em decadência à medida que perde sua fonte de riqueza, privilégios
e influências. As cidades entram em decadência quando perdem os sistemas
produtivos que sustentam o seu desenvolvimento. As organizações entram em
decadência quando não conseguem acompanhar as exigências sociais e os novos
ditames do mercado.
Contudo, não
se tem como verdadeira a noção simplista de que toda potência ou todo demasiado
poder tenderá ao declínio, pois tudo que se eleva demais está propenso a cair.
Em alguns casos assim mesmo acontece, pois impérios foram varridos do mapa
quase que inesperadamente. Mas noutros casos não. Nestes, o poderio chega a um
limite que não mais admite forçar crescimento. Contudo, ou se mantém apenas
instável, com flutuações, ou vai diminuindo seu poder a um nível esforçoso de
sobrevivência.
As sociedades
se inserem nas ora denominadas linhas de reconhecimento, eis que possuem
feições próprias e os seus colapsos são provocados por fatores pontuais, como
aqueles que afetam a economia, a subsistência alimentar da população, as
catástrofes climáticas e ambientais, dentre outros. Contudo, diferente ocorre
com as pessoas, que podem provocar em si mesmas todas as decadências humanas. E
igualmente nos governantes, agentes públicos e políticos, que podem fazer
decair todos os valores morais e éticos.
A decadência
política está visível no declínio da decência política, e decaimento este fruto
de práticas que maculam a imagem não só dos agentes envolvidos como dos poderes
aos quais correspondem. Atos de improbidade, corrupção, má-gestão, desvios,
falcatruas com dinheiro público, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro,
pagamento de propina, tudo isso leva ao declínio da decência, mas não a
decadência dos envolvidos. E tanto é assim que a própria sociedade, através do
povo eleitor, corrobora com a continuidade de tais práticas.
A sociedade não
só referenda o declínio da imoralidade pública e da indecência política como,
ela própria, se chafurda em verdadeiros lamaçais. Ao manter no poder pessoas
envolvidas com escândalos e corrupções, logicamente que a população está
pactuando e até aceitando tais ações. Ao referendar nas urnas os acusados de
ilícitos e roubalheiras, certamente que está dizendo o que deseja como futuro a
partir da escolha política. E ela mesma deixando de se reconhecer como agente
de mudanças para ir cavando a sepultura dos submissos.
Uma sociedade
tal, onde as pessoas parecem totalmente alheias às virtudes, aos princípios
humanistas, aos primados éticos e morais, e no lugar da boa e justa escolha se
permitem entregar-se aos desvãos, indubitavelmente que terá um desonroso destino.
Ora, impossível um futuro promissor aos que se prometem e se comprometem
somente com o que não presta, com o que é imoral, indecente, pernicioso, em
confronto direto com o respeito próprio. Pode causar estranheza, mas grande
parte das pessoas não se respeita mais, faz da vida uma imundície e ainda
procura atrair o próximo para sua desonra.
Logicamente
que os povos não convivem socialmente preservando sempre os bons costumes, as
éticas nas relações e as moralidades nas condutas, pois tudo na dependência de
um determinado contrato social mais proibitivo, permissivo ou liberalizante.
Por consequência, dificilmente se tem conhecimento de um povo que viva
resguardando o sentido bíblico do pecado, em todos os sentidos. Mas não é
difícil encontrar povos que parecem se alimentar da verdadeira degeneração.
E a
degeneração comanda o sentido da vida moderna. A decadência – em todos os
sentidos – não é mais um conceito a ser estudado, mas observável em cada lugar,
diante das feições, em muito da existência humana. E não adianta pretender
justificar a sórdida decomposição social a partir da ideia de que novos tempos
trazem novos costumes. Ora, as pessoas existem para conduzir a si próprias e
não para serem conduzidas pelo imprestável. E o que mais se observa são sujeitos
que abdicaram de viver decentemente.
Os sinais do
presente são devastadores. Não foi para chegar a esse extremo de decadência que
caminhou a humanidade. Mas ela, através de pessoas, chegou ao insuportável.
Basta ver quantos se mostram satisfeitos e realizados com as músicas de
“sofrência”, os sons aterradores nas malas abertas dos carros, os paredões com
aqueles barulhos que são a própria feição da decadência humana. Eis aonde
chegou o povo dito civilizado.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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