Por Rangel Alves
da Costa*
A lua de
ontem, noite de sexta-feira, estava cheia, imensa, belíssima e misteriosa. E
também perigosa, segundo os crentes nas interferências lunares.
Creio na magia
da lua cheia, no seu imenso poder de atrair, envolver, transformar. Basta um
simples olhar para a sua face e algo misterioso surge diante do olhar. E também
na mente.
No ser humano,
é a mente que mais sofre influência da lua cheia. Como é a mente que irradia
todas as forças e propensões pelo corpo, então todo o ser passa a ser submetido
ao poder daquela luz imensa.
Tento
avistá-la apenas na sua beleza, na sua luminosidade indescritível. E trago tal
grandeza para o romantismo que aflora, para a nostalgia que ressurge, para a
poesia do instante.
Eis que,
indubitavelmente, a lua cheia faz o amante ficar propenso a mais amar, o
saudoso a entristecer ainda mais, o poeta a encontrar versos jamais imaginados
em outras fases lunares.
Eis que a lua
cheia desperta a emoção, sentimentalismo, reencontro. Ninguém é capaz de mirar
tamanha esfera dourada e se fazer de forte ou de alheio ao que ela forçosamente
transmite.
Eis que
ninguém consegue simplesmente mirar a lua cheia e depois retornar o olhar sem
trazer na íris todo um mistério indecifrável, toda uma força que poderosamente
age pelas entranhas adentro.
Nesta noite
não pude, pois numa cidade sem campo aberto ao redor, mas gostaria de ter
esperado essa lua do alto duma montanha ou em cima de uma pedra grande. E abrir
os braços e erguê-los para o alto como se desejasse abraçar toda a luz.
E conversar
com a lua cheia, dialogar com seus segredos e mistérios, me confessar
escravizado diante do poder de sua luz. E somente assim conseguir sair de lá
sem me deixar levar por aquele clarão. E subir e subir, ou descer e descer...
Fico
imaginando quanta ação dessa lua perante homens, animais, águas e todos os
elementos da terra. Tenho a máxima certeza que não há um só elemento sobre a
terra, um só grão de areia, que naquele momento não estivesse sendo afetado
pela força e poder da lua cheia.
Os loucos,
coitados, mais enlouquecidos ainda, transtornados e transformados, envoltos no
dilema de querer subir a qualquer custo até alcançar o imenso anel. E assim
porque atraídos para o amor da lua, para a paixão da lua, para o inexplicável
da lua.
Os loucos,
pobres coitados, tentando a todo custo fugir daquela luz chamejante, buscando
se esconder para não ter de mirar aquilo que se alastra para ferir, machucar,
dilacerar a alma.
Mas não
consegue, pois nada consegue se esconder ou fugir da lua cheia. Os loucos se
amarram a objetos, trancam portas e janelas, correm para esconderijos, mas nada
disso surte qualquer efeito. E de repente já estão do lado de fora, com as mãos
sobre a cabeça, gritando, já sem forças para evitar que ela os chame ao alto.
Sob o clarão
do luar, os apaixonados se ajoelham, os amantes se tornam vorazes, as
inocências só pensam em pecar, os pecados afogueiam os corpos, os copos são
transbordados, os seres se entregam sem medo.
Nas distâncias
das águas os barcos e velas naufragam com a força das ondas, com os movimentos
revoltosos dos azuis. Os cais são povoados por seres estranhos, de pessoas que
vagueiam perdidas, e todas desejosas de ir beber da luz do luar sobre as águas.
E eu nem sabia
mais o que fazer. A noite tão bela, a lua tão cheia, a lua chamando, e fui.
Segui até a janela para novamente voltar o olhar para o alto e ver se na lua
avistava o eu poeta que já havia sido chamado. E tive que reencontrá-lo lá em
cima.
Poeta e
cronista
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