Por Jair Eloi de Souza
A saga
sertaneja traz na sua historicidade, uma diversidade de tipos heroicos, cujo
desempenho e caráter de cada um, constrói uma áurea de bravura inigualável, de
manifestação ímpar. Pois, cada personagem que se torna ícone da cena sertaneja,
tem seu código ético e de honra, baseado numa tradição de gestos de grandeza,
de força, de solidariedade, e de destemor para o que se apresentava diante de
si ou dos outros que viviam às suas cercanias. Por isso, considerados numa
forma sincopada de: “Homem disposto”. Os atos de bravura nos sertões
longínquos, se configuravam quando o “barbatão”* era pego, quando o potro era
domado, quando do desarme de valentão, que desafiava de arma branca em punho
nas feiras livres. Quando sustentava fogo, rechaçando grupelhos de cangaceiros.
No enfrentar felino (onça), que devorava o rebanho. Ou mesmo quando atacava os
povoados ribeirinhos ou nas empenhas de serras.
A afoiteza desses homens construiu uma gesta nordestina, que meandrava não só entre o seu próprio Clã, como contaminava toda freguesia, que por via da oralidade, transmitia de geração a geração com detalhes e nobreza, que raramente era esquecida, vez que tornava-se um parâmetro de vida a ser seguido. Entre esses heróis diferenciados pela força, disposição, açodamento, aptidão, existiam os cabras landuazeiros, tarrafeiros, mergulhadores, batedores de tijolo, lavradores (cortadores de lenha), apanhadores de algodão, enxadeiros, enfim tipos afamados pelo volume das tarefas que realizavam, impossíveis para os homens normais.
Mas, não só eram aloprados nas tarefas, como comiam de forma demasiada. Nos Sertões no Seridó, mais precisamente nas freguesias de Jardim de Piranhas e Timbaúba. Sobressaiu-se pela força, disposição, o gigante Carabodé, também conhecido por Batistão. Pertencia esse aos ramos subsequentes dos Gonçalves, Pedão, e entre o final do Século XIX, e início do Século XX, teve seu permeio de vida campesina, na atividade agropastoril.
Certa manhã, Carabodé, manda um seu filho que estava para casar, tirar num barranco de baixio, um brabo de aroeira, utilizando uma boiada recém amansada. Cravou na ponta da linha grossa a enxada, e atrelou correntes, para que fosse puxada. A boiada frágil, sem força, não conseguira. As horas passavam, e o jovem cada vez se enervava com o insucesso. Lá pras tantas, o pai Carabodé, vai a procura do filho e o encontra chorando de desespero, porque não cumprira a missa. Ao chegar ao local, ordena que o filho afrouxasse a boiada, e levanta o brabo de aroeira, puxando para fora do barranco. Segundo as notícias desse fato, contado pelo meu avô paterno, esse lenho pesava mais de duzentos quilos. Essa é apenas uma das proezas, patrocinada pelo grande Carabodé. Amansando novilha leiteira no curral, levantava bezerro taludo pelas orelhas."
Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço Francisco Borges de Araújo
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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