Comunicação
Pôster
Marcelo Bezerra de Morais[1]
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”- UNESP
morais.mbm@gmail.com
Partindo de algum ponto
Marcelo Bezerra de Morais[1]
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”- UNESP
morais.mbm@gmail.com
Partindo de algum ponto
3 - Um processo
singular
Embora
compreendamos que metodologia não se trata apenas de procedimentos, no GHOEM,
adotamos alguns processos que achamos legítimos para a constituição de
documentos que serão as fontes para a nossa pesquisa. Assim, procedemos da
seguinte forma: elaboramos uma pergunta diretriz que nos guiou durante nossos
estudos, nossa busca; realizamos estudos prévios sobre o tema a ser abordado;
buscamos colaboradores/depoentes que nos cederiam as entrevistas para a
composição dos documentos; elaboramos um roteiro de entrevistas; realizamos as
entrevistas; fizemos as transcrições das mesmas; textualizamos a entrevista
transcrita; retornamos este material para o colaborador com a finalidade de
legitimação do texto criado; solicitamos a assinatura de uma carta de cessão de
direitos; analisamos os documentos constituídos e outros encontrados.
Adotar certos
procedimentos não implica dizer que os mesmo são imutáveis, ou que seu
desenvolvimento seja realizado, necessariamente, nesta sequência, apenas é uma
forma legítima que um grupo encontrou para fazer suas pesquisas, pois, como
toda pesquisa, é um processo, e como tal, ocorrem idas e vindas.
Em nosso
estudo, seguimos os passos acima pontuados: elaboramos inicialmente nosso
objetivo de estudo – já apresentado – e fomos em busca dos nossos colaboradores
de pesquisa. Decidimos procurar por professores que tivessem começado a
lecionar na região antes do ano 1974 e por intermédio da internet, entramos em
contato com duas professoras que haviam ensinado ao pesquisador durante sua
graduação. As duas professoras logo se prontificaram a ajudar: uma, por não ser
da região, buscou por outros professores do Departamento de Matemática da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (onde também está lotada), para
pedir as informações por nós solicitadas, conseguindo com outro professor (que
também foi professor do pesquisador) nomes de cinco possíveis colaboradores:
Raimundo Filgueira, Spíndola, Roberto, “Gracinha” (Maria das Graças) e Luiz
Carlos da Trindade; a outra professora nos indicou seu tio, como outro possível
colaborador, Raimundo Melo. Entretanto, nada mais tínhamos além desses nomes.
Em um segundo
momento, foi possível, pessoalmente, irmos buscar por acervos e outras
informações sobre esses professores. Fomos a 12º Diretoria Regional de Ensino e
Desporto do Rio Grande do Norte (DIRED) em busca de documentos. No entanto, nos
informaram que esta repartição não arquiva nenhum documento, todos se
encontravam alocados nas escolas. Mas, ao explicarmos o objetivo de nossa
busca, nos encaminharam para falar com uma professora, pois essa trabalhava, há
muito tempo, com Educação na região. Ao nos encontrarmos com essa professora,
ela nos apresentou a alguns outros nomes que poderiam colaborar com nossa
pesquisa, mas também sem saber nos dar maiores detalhes, foram eles: Luzimar
Firmino, “Zé Maria moreno”, “Zé Maria Galego”, Carlos Andrade (mais conhecido
por “Esquerdinha”) e Neto.
Guiados por
estudos paralelos ou conhecimentos pessoais, sabíamos que algumas escolas, em
seus acervos, poderiam nos ajudar sobre esses possíveis colaboradores, seriam
elas: Escola Estadual Jerônimo Rosado, por ser a maior e uma das mais antigas
escolas públicas da região; o Colégio Diocesano Santa Luzia e o Colégio Sagrado
Coração de Maria, por serem as duas instituições, em funcionamento, mais
antigas da cidade; e o acervo da antiga Escola Técnica de Comércio União
Caixeiral, desativada em 2002, por ter sido um dos mais importantes colégios
técnicos da região.
Buscamos os
acervos dos colégios Diocesano Santa Luzia e Sagrado Coração de Maria, mas não
tivemos muito êxito. Na primeira instituição, a pessoa responsável pelo acervo
disse estar muito ocupada com outras atividades da escola, solicitando o nosso
retorno em dezembro, período em que essas já teriam cessado. Na segunda
instituição nos informaram que não tinha nenhum documento no acervo que pudesse
nos ajudar. Na Escola Estadual Jerônimo Rosado, tivemos livre acesso ao arquivo
(bem conservado e organizado) e encontramos Livros de Atas, Livros de
Correspondências, Livro de Recortes de Diário Oficial (jornal) falando sobre a
Escola Normal de Mossoró, Livro de Pontos, Livro de Registro de Títulos, entre
outros arquivos. Assim, buscando nestes documentos, encontramos nomes de vários
possíveis colaboradores, valendo registrar os nomes que conseguimos e entramos
em contato: Aroldo Gurgel e Felisbela de Freitas Neta. Ao buscar o acervo da
União Caixeiral, que está em uma sala do antigo prédio da escola (onde hoje
funciona a Biblioteca Municipal Ney Pontes Duarte), conseguimos acesso aos
documentos, mas vimos que os únicos que ali estavam se referiam aos alunos,
tendo apenas um Livro de Registro de Posse misturado aos demais documentos.
Nesse livro, tivemos acesso aos outros nomes e, novamente, ao nome do professor
Raimundo de Freitas Melo, indicado por uma das professoras com quem havíamos
entrado em contato.
Nesse
contexto, a mãe do pesquisador, entrando em contato com familiares, amigos e
vizinhos, conseguiu informações, sobre o senhor Joabel que lecionou em Mossoró,
na década de 1970, sem muita precisão do período.
Assim, de
posse de alguns nomes, de uma possível configuração, ou perfil, dos
entrevistados com quem gostaríamos de conversar, fomos à busca de alguns desses
professores. Entramos em contato com dez potenciais colaboradores. Apenas um
deles, que agora morava em Fortaleza, disse não poder atender ao nosso convite
por estar passando por alguns problemas pessoais; mas, todos os outros se
prontificaram em colaborar.
Assim,
conseguimos entrevistar, em um primeiro momento, sete professores: Felisbela
Freitas de Oliveira, Joabel Azevedo Dantas, Maria das Graças Bezerra Satler, José
Arimatéia de Souza, Alcir Leopoldo Dias da Silveira, Luiz Carlos Avelino da
Trindade, Raimundo de Freitas Melo. Num segundo momento, os professores Francisco
de Assis Silva (Chiquito) e um outro professor que não nos cedeu o direito de
utilização de sua entrevista.
Alguns desses
professores nós não tínhamos os nomes antes, como é o caso dos professores
Alcir Leopoldo e José Arimatéia, mas foi possível chegar a estes professores
pelo critério de rede, processo em que alguns professores convidados a
participar da pesquisa indicam outros. (GARNICA, SILVA e FERNANDES, 2011).
Antes, ainda,
do processo de contato com os colaboradores, decidimos pela utilização não de
um roteiro de entrevista, mas, de Fichas Temáticas para a realização da
pesquisa. Essa escolha foi baseada nos trabalhos de Rolkouski (2006) e Vianna
(2000), que fizeram uso de fichas temáticas para o desenvolvimento de seus
estudos, entretanto, uma escolha nos diferenciava: esses pesquisadores
utilizaram fichas, mas deixaram que seus colaboradores escolhessem a sequência
dos temas que gostariam de tratar. No entanto, decidimos por utilizar as fichas
em uma sequência dada. Essa escolha se deu por acharmos que seguindo
determinada sequência os colaboradores poderiam ter menos dificuldade de
continuar num mesmo raciocínio, colaborando, assim, para as memórias.
Utilizamos um
total de vinte e sete fichas: Apresentação pessoal; Família; Infância;
Juventude; Cotidiano da cidade em que cresceu; Cidade e educação; Costumes;
Política; Escola e rotina escolar; Disciplinas marcantes; Professores marcantes
e suas aulas; Sistemas de ensino; Dificuldades nos estudos; Dificuldades em
realizar os estudos; Mudanças na educação durante os estudos; Primeiros
contatos com o ensino; Ingresso no magistério; Formação; Escolas e cotidiano
durante o exercício do magistério; Dificuldades no exercício do magistério;
Mudanças durante o Magistério; Mudanças na formação de professores de
Matemática; Mossoró no início do magistério; Magistério em Mossoró; Mossoró no
contexto atual; Ensino de Matemática hoje; Considerações.
Munidos,
assim, de nossas fichas e do gravador, partimos para as entrevistas, que “são
diálogos acerca de algo (o objeto da pesquisa) e são tanto mais ricas quanto
mais ocorrerem num clima de cumplicidade entre entrevistador e entrevistado”.
(GARNICA, 2007, p. 32).
No momento da
entrevista, apresentávamos as fichas, uma após a outra, na sequência aqui
exposta, e solicitávamos ao colaborador que falasse sobre aquele tema. Apenas
fazíamos interferências quando achávamos que coubesse alguma outra pergunta,
com a finalidade de possuirmos maiores informações sobre determinado tema ou
evento.
Realizadas
todas as entrevistas, partimos para o processo de transcrição. A transcrição é
um processo literal, rigoroso, isolado e, por vezes, cansativo: trata-se da
passagem para o papel da entrevista outrora gravada, com todos os erros,
gaguejos, grunhidos, vazios, repetições.
Concomitante a
este processo, realizamos a textualização, que é o processo de elaboração de um
documento escrito, obtido a partir da transcrição, ou seja, em hipótese alguma
afirmamos ser o texto concedido pelo entrevistado, mas sim, um texto obtido da
entrevista, construído juntamente com o entrevistado, que o legitimará,
afirmando se reconhecer no mesmo. Como a textualização não exige padrões,
decidimos por deixar o entrevistado aparecer nesse texto em um monólogo, onde o
mesmo narra uma história, guiado, implicitamente, pelos nossos temas e
perguntas.
Encerrado o
processo de textualização, todo o material elaborado retornou aos entrevistados
para que o mesmo pudessem realizar as leituras, e em seguida legitimar os
textos. Há que ressaltar há grande importância na legitimação dos textos, pois,
antes de qualquer coisa, essa legitimação indica que o leitor conseguiu se
reconhecer no texto criado na parceria pesquisador-colaborador. Há, ainda, a
concessão dos direitos autorais e de publicações com a assinatura da carta de
cessão.
Na concepção
que estamos trabalhando, a constituição do documento é algo inevitável, sendo,
na verdade, um dos objetivos das pesquisas que utilizam como opção metodológica
a História Oral, bem como a realização da análise é, para nós, indispensável,
por não compartilhar aqui a ideia do presentismo, que visa apenas à criação de
fontes historiográficas.
Assim como os
“historiadores clássicos” optam por construir suas narrativas a partir da fonte
dos arquivos, optamos por realizar a nossa análise narrativa a partir dos
arquivos que produzimos (sem menosprezar, todavia, os outros documentos
encontrados durante a pesquisa). Assim, nos trabalhos desenvolvidos pelo GHOEM,
em muitos deles, entende-se esse momento como o arremate da pesquisa, um
aventar de possibilidades de compreensão, um identificar de evidências.
Portanto, sobre
a análise dos dados, corroboramos Baraldi (2006, p. 14 e 15), ao nos apresentar
que o “[...] inventário de possibilidades é, já, uma forma de análise, ainda
que parcial por não esquadrinhar todas as possibilidades críticas”. Entendemos
que o processo analítico já está ocorrendo a partir do momento que propomos
estudar algum fenômeno. “Sendo assim, o ‘processo de análise’ inicia-se com a
explicitação da pergunta de pesquisa e com a escolha dos
depoentes-colaboradores. Detectar tendências é um – dentre os muitos – momentos
de análise”. Entretanto, “muitas vezes, o processo analítico não se restringe
ao momento de detectar tendências, efetuando um trabalho de preenchimento de
lacunas”.
Cabe explicar
o que, aqui, se entende por análise dos resultados nas pesquisas em Educação
Matemática, com a utilização da História Oral como metodologia de pesquisa. Segundo
Garnica, Silva e Fernandes (2010, p. 9) “não cabe ao pesquisador julgar as
narrativas orais já que estas funcionam como suportes para a história contada
pelo pesquisador sobre o fenômeno pesquisado”.
Assim, corroborando estas concepções de análise
de entrevistas, compreendemos como processo de análise dos resultados, não a
análise do que foi dito nas entrevistas, com o objetivo de julgá-los, mas como
o processo de “amarramento” das informações, sendo, na verdade, este
“amarramento” a constituição da narrativa do pesquisador, realizada mediante as
considerações feitas nas entrevistas e nos documentos escritos (encontrados
durante a pesquisa).
As
considerações são as evidências, tendências, ou singularidades que se conseguiu
notar nas entrevistas. Valendo ressaltar a responsabilidade ética frente ao que
foi posto e confiado pelo depoente às mãos do pesquisador, sendo “[...] grande
a responsabilidade do pesquisador em relação ao que produz e aos seus depoentes”.
(GAERTNER E BARALDI, 2008, p. 59).
Assim, notamos
quais os aspectos comuns, divergentes e/ou singulares, a fim de realizar um
estudo analítico sobre estes, compreendendo que os mesmos são de suma
importância para a constituição da narrativa sobre a formação de professores de
Matemática da região pretendida, finalizando, assim, nosso processo de análise
dos resultados.
CONTINUA...
Enviado pelo pesquisador José Edilson de Albuquerque Guimarães Segundo.
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