segunda-feira, 7 de outubro de 2013

TRAÇANDO MAPA(S) INICIAL(IS): O QUE NOS DIZEM OS PROFESSORES DE MATEMÀTICA SOBRE A EDUCAÇÃO DE UMA REGIÃO? - Parte II

Foto do(a) Marcelo Bezerra de Morais 

Comunicação Pôster
Marcelo Bezerra de Morais[1]
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”- UNESP
morais.mbm@gmail.com
Partindo de algum ponto


3 - Um processo singular


Embora compreendamos que metodologia não se trata apenas de procedimentos, no GHOEM, adotamos alguns processos que achamos legítimos para a constituição de documentos que serão as fontes para a nossa pesquisa. Assim, procedemos da seguinte forma: elaboramos uma pergunta diretriz que nos guiou durante nossos estudos, nossa busca; realizamos estudos prévios sobre o tema a ser abordado; buscamos colaboradores/depoentes que nos cederiam as entrevistas para a composição dos documentos; elaboramos um roteiro de entrevistas; realizamos as entrevistas; fizemos as transcrições das mesmas; textualizamos a entrevista transcrita; retornamos este material para o colaborador com a finalidade de legitimação do texto criado; solicitamos a assinatura de uma carta de cessão de direitos; analisamos os documentos constituídos e outros encontrados.

Adotar certos procedimentos não implica dizer que os mesmo são imutáveis, ou que seu desenvolvimento seja realizado, necessariamente, nesta sequência, apenas é uma forma legítima que um grupo encontrou para fazer suas pesquisas, pois, como toda pesquisa, é um processo, e como tal, ocorrem idas e vindas.

Em nosso estudo, seguimos os passos acima pontuados: elaboramos inicialmente nosso objetivo de estudo – já apresentado – e fomos em busca dos nossos colaboradores de pesquisa. Decidimos procurar por professores que tivessem começado a lecionar na região antes do ano 1974 e por intermédio da internet, entramos em contato com duas professoras que haviam ensinado ao pesquisador durante sua graduação. As duas professoras logo se prontificaram a ajudar: uma, por não ser da região, buscou por outros professores do Departamento de Matemática da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (onde também está lotada), para pedir as informações por nós solicitadas, conseguindo com outro professor (que também foi professor do pesquisador) nomes de cinco possíveis colaboradores: Raimundo Filgueira, Spíndola, Roberto, “Gracinha” (Maria das Graças) e Luiz Carlos da Trindade; a outra professora nos indicou seu tio, como outro possível colaborador, Raimundo Melo. Entretanto, nada mais tínhamos além desses nomes.

Em um segundo momento, foi possível, pessoalmente, irmos buscar por acervos e outras informações sobre esses professores. Fomos a 12º Diretoria Regional de Ensino e Desporto do Rio Grande do Norte (DIRED) em busca de documentos. No entanto, nos informaram que esta repartição não arquiva nenhum documento, todos se encontravam alocados nas escolas. Mas, ao explicarmos o objetivo de nossa busca, nos encaminharam para falar com uma professora, pois essa trabalhava, há muito tempo, com Educação na região. Ao nos encontrarmos com essa professora, ela nos apresentou a alguns outros nomes que poderiam colaborar com nossa pesquisa, mas também sem saber nos dar maiores detalhes, foram eles: Luzimar Firmino, “Zé Maria moreno”, “Zé Maria Galego”, Carlos Andrade (mais conhecido por “Esquerdinha”) e Neto.

Guiados por estudos paralelos ou conhecimentos pessoais, sabíamos que algumas escolas, em seus acervos, poderiam nos ajudar sobre esses possíveis colaboradores, seriam elas: Escola Estadual Jerônimo Rosado, por ser a maior e uma das mais antigas escolas públicas da região; o Colégio Diocesano Santa Luzia e o Colégio Sagrado Coração de Maria, por serem as duas instituições, em funcionamento, mais antigas da cidade; e o acervo da antiga Escola Técnica de Comércio União Caixeiral, desativada em 2002, por ter sido um dos mais importantes colégios técnicos da região.

Buscamos os acervos dos colégios Diocesano Santa Luzia e Sagrado Coração de Maria, mas não tivemos muito êxito. Na primeira instituição, a pessoa responsável pelo acervo disse estar muito ocupada com outras atividades da escola, solicitando o nosso retorno em dezembro, período em que essas já teriam cessado. Na segunda instituição nos informaram que não tinha nenhum documento no acervo que pudesse nos ajudar. Na Escola Estadual Jerônimo Rosado, tivemos livre acesso ao arquivo (bem conservado e organizado) e encontramos Livros de Atas, Livros de Correspondências, Livro de Recortes de Diário Oficial (jornal) falando sobre a Escola Normal de Mossoró, Livro de Pontos, Livro de Registro de Títulos, entre outros arquivos. Assim, buscando nestes documentos, encontramos nomes de vários possíveis colaboradores, valendo registrar os nomes que conseguimos e entramos em contato: Aroldo Gurgel e Felisbela de Freitas Neta. Ao buscar o acervo da União Caixeiral, que está em uma sala do antigo prédio da escola (onde hoje funciona a Biblioteca Municipal Ney Pontes Duarte), conseguimos acesso aos documentos, mas vimos que os únicos que ali estavam se referiam aos alunos, tendo apenas um Livro de Registro de Posse misturado aos demais documentos. Nesse livro, tivemos acesso aos outros nomes e, novamente, ao nome do professor Raimundo de Freitas Melo, indicado por uma das professoras com quem havíamos entrado em contato.

Nesse contexto, a mãe do pesquisador, entrando em contato com familiares, amigos e vizinhos, conseguiu informações, sobre o senhor Joabel que lecionou em Mossoró, na década de 1970, sem muita precisão do período. 

Assim, de posse de alguns nomes, de uma possível configuração, ou perfil, dos entrevistados com quem gostaríamos de conversar, fomos à busca de alguns desses professores. Entramos em contato com dez potenciais colaboradores. Apenas um deles, que agora morava em Fortaleza, disse não poder atender ao nosso convite por estar passando por alguns problemas pessoais; mas, todos os outros se prontificaram em colaborar. 

Assim, conseguimos entrevistar, em um primeiro momento, sete professores: Felisbela Freitas de Oliveira, Joabel Azevedo Dantas, Maria das Graças Bezerra Satler, José Arimatéia de Souza, Alcir Leopoldo Dias da Silveira, Luiz Carlos Avelino da Trindade, Raimundo de Freitas Melo. Num segundo momento, os professores Francisco de Assis Silva (Chiquito) e um outro professor que não nos cedeu o direito de utilização de sua entrevista.

Alguns desses professores nós não tínhamos os nomes antes, como é o caso dos professores Alcir Leopoldo e José Arimatéia, mas foi possível chegar a estes professores pelo critério de rede, processo em que alguns professores convidados a participar da pesquisa indicam outros. (GARNICA, SILVA e FERNANDES, 2011). 

Antes, ainda, do processo de contato com os colaboradores, decidimos pela utilização não de um roteiro de entrevista, mas, de Fichas Temáticas para a realização da pesquisa. Essa escolha foi baseada nos trabalhos de Rolkouski (2006) e Vianna (2000), que fizeram uso de fichas temáticas para o desenvolvimento de seus estudos, entretanto, uma escolha nos diferenciava: esses pesquisadores utilizaram fichas, mas deixaram que seus colaboradores escolhessem a sequência dos temas que gostariam de tratar. No entanto, decidimos por utilizar as fichas em uma sequência dada. Essa escolha se deu por acharmos que seguindo determinada sequência os colaboradores poderiam ter menos dificuldade de continuar num mesmo raciocínio, colaborando, assim, para as memórias.

Utilizamos um total de vinte e sete fichas: Apresentação pessoal; Família; Infância; Juventude; Cotidiano da cidade em que cresceu; Cidade e educação; Costumes; Política; Escola e rotina escolar; Disciplinas marcantes; Professores marcantes e suas aulas; Sistemas de ensino; Dificuldades nos estudos; Dificuldades em realizar os estudos; Mudanças na educação durante os estudos; Primeiros contatos com o ensino; Ingresso no magistério; Formação; Escolas e cotidiano durante o exercício do magistério; Dificuldades no exercício do magistério; Mudanças durante o Magistério; Mudanças na formação de professores de Matemática; Mossoró no início do magistério; Magistério em Mossoró; Mossoró no contexto atual; Ensino de Matemática hoje; Considerações.

Munidos, assim, de nossas fichas e do gravador, partimos para as entrevistas, que “são diálogos acerca de algo (o objeto da pesquisa) e são tanto mais ricas quanto mais ocorrerem num clima de cumplicidade entre entrevistador e entrevistado”. (GARNICA, 2007, p. 32). 

No momento da entrevista, apresentávamos as fichas, uma após a outra, na sequência aqui exposta, e solicitávamos ao colaborador que falasse sobre aquele tema. Apenas fazíamos interferências quando achávamos que coubesse alguma outra pergunta, com a finalidade de possuirmos maiores informações sobre determinado tema ou evento.

Realizadas todas as entrevistas, partimos para o processo de transcrição. A transcrição é um processo literal, rigoroso, isolado e, por vezes, cansativo: trata-se da passagem para o papel da entrevista outrora gravada, com todos os erros, gaguejos, grunhidos, vazios, repetições.

Concomitante a este processo, realizamos a textualização, que é o processo de elaboração de um documento escrito, obtido a partir da transcrição, ou seja, em hipótese alguma afirmamos ser o texto concedido pelo entrevistado, mas sim, um texto obtido da entrevista, construído juntamente com o entrevistado, que o legitimará, afirmando se reconhecer no mesmo. Como a textualização não exige padrões, decidimos por deixar o entrevistado aparecer nesse texto em um monólogo, onde o mesmo narra uma história, guiado, implicitamente, pelos nossos temas e perguntas.

Encerrado o processo de textualização, todo o material elaborado retornou aos entrevistados para que o mesmo pudessem realizar as leituras, e em seguida legitimar os textos. Há que ressaltar há grande importância na legitimação dos textos, pois, antes de qualquer coisa, essa legitimação indica que o leitor conseguiu se reconhecer no texto criado na parceria pesquisador-colaborador. Há, ainda, a concessão dos direitos autorais e de publicações com a assinatura da carta de cessão.

Na concepção que estamos trabalhando, a constituição do documento é algo inevitável, sendo, na verdade, um dos objetivos das pesquisas que utilizam como opção metodológica a História Oral, bem como a realização da análise é, para nós, indispensável, por não compartilhar aqui a ideia do presentismo, que visa apenas à criação de fontes historiográficas.

Assim como os “historiadores clássicos” optam por construir suas narrativas a partir da fonte dos arquivos, optamos por realizar a nossa análise narrativa a partir dos arquivos que produzimos (sem menosprezar, todavia, os outros documentos encontrados durante a pesquisa). Assim, nos trabalhos desenvolvidos pelo GHOEM, em muitos deles, entende-se esse momento como o arremate da pesquisa, um aventar de possibilidades de compreensão, um identificar de evidências. 

Portanto, sobre a análise dos dados, corroboramos Baraldi (2006, p. 14 e 15), ao nos apresentar que o “[...] inventário de possibilidades é, já, uma forma de análise, ainda que parcial por não esquadrinhar todas as possibilidades críticas”. Entendemos que o processo analítico já está ocorrendo a partir do momento que propomos estudar algum fenômeno. “Sendo assim, o ‘processo de análise’ inicia-se com a explicitação da pergunta de pesquisa e com a escolha dos depoentes-colaboradores. Detectar tendências é um – dentre os muitos – momentos de análise”. Entretanto, “muitas vezes, o processo analítico não se restringe ao momento de detectar tendências, efetuando um trabalho de preenchimento de lacunas”.

Cabe explicar o que, aqui, se entende por análise dos resultados nas pesquisas em Educação Matemática, com a utilização da História Oral como metodologia de pesquisa. Segundo Garnica, Silva e Fernandes (2010, p. 9) “não cabe ao pesquisador julgar as narrativas orais já que estas funcionam como suportes para a história contada pelo pesquisador sobre o fenômeno pesquisado”.

Assim, corroborando estas concepções de análise de entrevistas, compreendemos como processo de análise dos resultados, não a análise do que foi dito nas entrevistas, com o objetivo de julgá-los, mas como o processo de “amarramento” das informações, sendo, na verdade, este “amarramento” a constituição da narrativa do pesquisador, realizada mediante as considerações feitas nas entrevistas e nos documentos escritos (encontrados durante a pesquisa).

As considerações são as evidências, tendências, ou singularidades que se conseguiu notar nas entrevistas. Valendo ressaltar a responsabilidade ética frente ao que foi posto e confiado pelo depoente às mãos do pesquisador, sendo “[...] grande a responsabilidade do pesquisador em relação ao que produz e aos seus depoentes”. (GAERTNER E BARALDI, 2008, p. 59).

Assim, notamos quais os aspectos comuns, divergentes e/ou singulares, a fim de realizar um estudo analítico sobre estes, compreendendo que os mesmos são de suma importância para a constituição da narrativa sobre a formação de professores de Matemática da região pretendida, finalizando, assim, nosso processo de análise dos resultados.

CONTINUA...
 

Enviado pelo pesquisador José Edilson de Albuquerque Guimarães Segundo.

Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo:

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário: