domingo, 13 de outubro de 2013

TRAÇANDO MAPA(S) INICIAL(IS): O QUE NOS DIZEM OS PROFESSORES DE MATEMÀTICA SOBRE A EDUCAÇÃO DE UMA REGIÃO? - Parte III

Foto do(a) Marcelo Bezerra de Morais

Comunicação Pôster
Marcelo Bezerra de Morais[1]
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”- UNESP
morais.mbm@gmail.com
Partindo de algum ponto


4 (Re)inventando a educação de uma região
                 
É muito forte na fala dos entrevistados a grande influência da igreja na Educação da Região. Isso podemos notar inicialmente em 1901 com a criação da famosa “Escola de Padres” na cidade, o, até então, Ginásio Diocesano Santa Luzia. Além desse, visando a educação também da população feminina, temos, em 1912, a construção da “Escola de Freiras”, o colégio das irmãs.
                 
Essas duas instituições forma, por muito tempo, as instituições responsáveis por formar a elite da região. Além dessas duas instituições, a igreja passa a influenciar ainda mais, a partir de 1937 com a instalação do Seminário Santa Terezinha.
                 
O professor Alcir, um de nossos colaboradores, recorda que todos os seus professores eram sacerdotes Holandeses. O que era muito comum nesse período os padres ensinarem nas Escolas de Padres, normalmente voltadas para o público masculino e as freiras ensinarem nas Escolas de Freiras, normalmente voltadas para as mulheres. O que não era tão comum, principalmente já na década de 1960, era existir um número tão grande de professores padres em uma instituição pública, o que é o caso do, à época, Colégio Estadual de Mossoró. A professora Felisbela, que fez o seu ginasial nessa instituição, lembra que teve como professores Padre Sátiro Cavalcante Dantas, Dom José Freire, Padre Humberto, Padre Édson, Monsenhor Raimundo Gurgel e do próprio Padre Alcir, que nesse período já estava ensinando português.
                
O professor Alcir lembra que esses professores-padres ensinavam nas disciplinas em que eram “especializados”. Não que possuíssem algum tipo de formação específica, mas, naquelas em que tivesse maior afinidade e tivesse um maior domínio de conteúdo. Inclusive o professor Alcir, no único ano que ensinou Matemática, ensinou por esse motivo, por ter sido a disciplina que mais tinha gostado quando estudara no seminário. Entretanto, logo saiu do ensino dessa disciplina por estarem precisando, também, de professores de português.
                
Ao sair da disciplina, quem assumiu no seu lugar foi o professor Francisco de Assis, mais conhecido como professor Chiquito. O professor Chiquito estava ainda começando o colegial, quando já assumiu as turmas do primeiro ano do ginasial na disciplina de Matemática, em 1964. Antes disso, ainda, ele já havia ensinado no primário, na cidade de Augusto Severo, hoje Campo Grande, assim que concluiu o primário, exatamente pela carência de professores que era muito grande.
                 
Nesse período quem começou a ensinar na cidade também foi o professor Raimundo Melo. O professo Raimundo havia acabado de voltar de Fortaleza, decepcionado por não ter passado no vestibular, para a sua cidade natal, Portalegre, quando recebeu a visita de uma comitiva do Colégio Estadual que foi convidá-lo para lecionar naquela escola. O professor Raimundo só possuía o colegial, mas, pela ausência de professores, já assumiu as turmas de Matemática, Física e Química do ginasial e colegial.
 
Nesse período, aparece como possibilidade de formação para esses professores o curso da Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES). Curso feito pelos professores Felisbela, Chiquito, Alcir (que não fez para Matemática, mas, sim, para Latim e Português) e Raimundo.
                 
A CADES foi criada no governo de Getúlio Vargas, que pregava “a corrida à modernização e à industrialização e, consequentemente, a necessidade de elevar os padrões existentes à condição de padrões normais, ou seja, se fazia urgente, com o sentido de emergência real, completar as competências do ensino médio”. Para isso, era necessário treinar os professores que eram leigos, criando assim inúmeras campanhas com essa finalidade, dentre as quais se destaca a CADES “que ganhou bastante relevância e independência – financeira e administrativa – podendo ser considerada, à época, um órgão da DES (Diretoria do Ensino Secundário)” (BARALDI e GAERTNER, 2010, p. 165).
                 
A CADES passou a promover a partir de 1956, nas Inspetorias Seccionais de Ensino Secundário, que eram ligados às Secretarias Estaduais de Educação, os cursos preparatórios para o Exame de Suficiência que concedia, aos aprovados nesse exame, o registro de professor do ensino secundário e o direito de exercer a profissão na disciplina que tivesse sido aprovado, nas regiões onde não houvessem licenciados disponíveis para o cargo pleiteado, de acordo com a Lei nº 2.430, de 19 de fevereiro de 1955.
                
Esses cursos aconteciam normalmente nos meses de janeiro ou julho, tendo a duração, em média, de um mês, dividido em duas etapas, acontecendo cada uma em um ano, sendo o curso dividido em “Didática Geral” e “Didática Específica”, elaborados com a finalidade “de suprir as deficiências dos professores, até então leigos, referentes aos aspectos pedagógicos e aos conteúdos específicos das disciplinas que iriam lecionar ou que já lecionavam nas escolas secundárias” (Ibidem, p. 165).
                
Como em todo o Brasil, para a região de Mossoró a CADES foi responsável por formar muitos daqueles que não possuíam formação específica para atuarem no ensino secundário. Felisbela, como já sabemos, fez em 1966, quando ainda ia começar o terceiro ano do Pedagógico, o primeiro ano do curso da CADES, retornando para Mossoró com a licença para lecionar matemática durante aquele ano, o que fez no Colégio Estadual de Mossoró. Entretanto, no ano seguinte ficou impossibilitada de participar do curso porque o Estado não pagou o ano de trabalho da professora.
                 
Nesse período estava em processo de instalação a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Mossoró (FAFICIL), com a abertura, entre outros, do curso de Letras, curso para o qual a professora Felisbela prestou seleção, já que não poderia fazer o segundo ano do curso da CADES e conseguir uma autorização mais longa para lecionar tal disciplina. Quem também prestou essa seleção da FAFICIL foi o professor Chiquito que, mesmo tendo ido à Natal fazer a segunda etapa do curso e voltado com a autorização, queria fazer o curso superior.
                 
Nesse mesmo ano, 1967, houve uma seleção no Rio Grande do Norte para que um professor de Matemática, representando o Estado, fosse fazer um curso no Centro de Ensino de Ciências do Nordeste (CECINE), que aconteceria entre 1967 e 1968 em Recife.
                 
À época, era muito baixo o número de professores com alguma formação para atuar no ensino de ciências. Umas das maneiras encontradas pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) para tentar melhorar o ensino e a produção de ciências no país, foi criar seis centros para formar professores para as diversas regiões do Brasil. Com isso, foram criados os CECI’s: Centro de Ensino de Ciências do Nordeste (CECINE, instalado em Recife); Centro de Ensino de Ciências da Bahia (CECIBA, instalado em Salvador); Centro de Ensino de Ciências de Guanabara (CECIGUA, instalado no Rio de Janeiro); Centro de Ensino de Ciências de Minas Gerais (CECIMIG, instalado em Belo Horizonte); Centro de Ensino de Ciências de São Paulo (CECISP, instalado em São Paulo); e o Centro de Ensino de Ciências do Rio Grande do Sul (CECIRS, instalado em Porto Alegre) (BORGES, SILVA e DIAS, 2009).
                
A criação desses centros está diretamente ligada ao pensamento de melhoria da ciência que havia deflagrado em todo o país desde a década de 1950 até aquele período, bem como, da calamitosa necessidade de formação dos professores das áreas de ciências experimentais (Ciências, Biologia, Física, Química e Matemática) para atuar no ensino médio, que, à época, compreendia o ginásio e colegial.

CONTINUA...

Enviado pelo pesquisador do cangaço José Edilson de Albuquerque Guimarães Segundo

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