Por: Marinalva Freire da Silva
Inicio minha
singela crônica com o parágrafo conclusivo de um artigo sobre a renúncia
de Bento XVI, de Mario Vargas Llosa (escritor peruano detentor do Prêmio Nobel
da Literatura em 2010), traduzido por Anna Capovilla, publicado no
ESTADÃO, São Paulo, 25 de fev. de 2013):
A decadência e
a vulgarização intelectual da Igreja evidenciadas pela solidão de Bento XVI e a
sensação de impotência que aparentemente o rodearam nesses últimos anos são sem
dúvida fatores primordiais de sua renúncia e um vislumbre inquietante de quão
incompatível nossa época seja com tudo o que representa vida espiritual,
preocupação pelos valores éticos e vocação pela cultura e pelas ideias.
Contra-argumentando
o posicionamento de Vargas Llosa, José Chitumba Samalambo, padre angolano
radicado no Brasil, em conversa comigo, assim se expressou:
Professora,
esse é um dos grandes problemas que o novo Papa vai encontrar na Igreja, mas
não é verdade que seja o motivo primordial pelo que Bento XVI, se demitiu,
porque significaria que ele fugiu das dificuldades, e isso não é próprio
de Bento XVI, pois, que eu conheço bem; antes ele como Papa e antes de
ser Papa é um homem muito corajoso. Portanto, todos esses problemas que não deixam
de ser verdade, da e na Igreja se evidenciaram mais no tempo de Bento XVI,e é
um homem que os enfrentou com muito cabedal, e também, evidentemente com susto:
diz ele em algum momento cheguei a perguntar-me se Deus não estivesse
dormindo". Mas o Papa sempre confia na força, embora invisível ( daí o
motivo da " solidão", na força daquele que disse as forças do inferno
não prevalecerão sobre a minha Igreja.
Concordo com
Pe Chitumba, homem de visão, que viveu 12 longos anos na Itália .
É notório que a renúncia de Bento XVI é um fato que nos leva a uma reflexão
profunda sobre os descaminhos da Igreja, que apesar de tantos erros graves no
passado ainda não aprendeu e segue praticando “absurdos aos olhos dos mortais.
É fácil atirarmos pedras. Mas quem de sã consciência no planeta Terra não
errou? E por que voltarmos os olhos só para os desmandos eclesiásticos? Não nos
esqueçamos de que todos somos mortais imperfeitos, sempre conduzindo nas
costas nossa mochila de imperfeições enquanto pomos na nossa frente a mochila
de imperfeições do próximo, mais cômodo, não?...
Muitos brasileiros atiram pedras no Papa emérito, mas se esquecem de refletir
sobre os desmandos do Brasil, as corrupções, a hipocrisia, a venda de
indulgência, que aqui corresponde à compra de votos através de favores, entre
outros...
A sociedade atual ou pós-moderna traz como estigma a queda de todos os
paradigmas, inclusive a inversão total dos valores, o esquecimento de que sem o
OUTRO nada somos, o que gera a falta de solidariedade humana, pois estamos em
uma selva de pedra cuja vitória pertence ao mais poderoso, ao que detém o
poder, a fama. Esta mesma sociedade exige que a Igreja mude o olhar. Concordo
que na atual conjuntura em que a cibernética domina o mundo, a internet comanda
o ser humano em quase todos os aspectos, em especial no consumo exagerado do
material. O homem consome tudo. E a guerra do sexo, das drogas, do
alcoolismo... e a luta para vencer o maior câncer que é a depressão porque
ninguém tem mais tempo para perder com o outro, e este se torne descartável,
valendo pelo que tem, não pelo que é. A solidão passa a ser a companheira
inseparável do homem.
Essa mesma solidão tomou conta de Bento XVI, já com a saúde fragilizada, junto
à cobrança da sociedade (que pouco faz em prol da paz) pelos incessantes casos
de indecoro de alguns cléricos, além do que acontecia à revelia no cenário
Vaticano, o problema do patrimônio financeiro entre outros problemas de
difícil solução , tudo isso levou o Pontífice a ancorar seu barco e suspender a
caminhada, posto que ele, após horas e horas de reflexão, chegou à conclusão
que não teria condições de pôr em ordem tantos desmandos .. e renunciou,
atitude coerente e espírito de grande renúncia e abnegação. Mas, antes, atendeu
ao “Cardeal Keith O’Brien, homem mais importante na hierarquia da Igreja
Católica na Grã-Bretanha, que apresentou pedido de renúncia , no dia 18 de
fevereiro, após ter seu nome envolvido em um escândalo ocorrido há três
décadas”, fato acelerou ainda mais a renúncia de Bento XVI uma vez que lhe
fragilizou ainda mais.
Sabemos que os
problemas que o novo Papa sem dúvidas vai encontrar, e por isso devemos rezar
desde agora fortemente para que o conclave fique completamente incendiado pela
luz e força do Espírito Santo, para que dele surja um Papa com muita luz como
Bento XVI, mas com mais energias e mais saúde, para que a barca de CRISTO seja
conduzida daqui para frente sem interrupção.
Peçamos a Deus que ilumine os cardeais que pretendem substituir Bento XVI que
sejam mais jovens e tenham coragem para pôr em marcha a Igreja, a fim de que
ela possa acompanhar a evolução dos tempos sem a degenerescência, e que
muitos obstáculos denominados dogmas, sejam revelados ao mundo, que os padres
possam casar-se, melhor do que seguirem com a hipocrisia de pseudo-votos de
castidade, escandalizando a sociedade,. Os tempos inquisitoriais já passaram e
não têm volta. Pelo andar da carruagem, vai ser difícil o próximo papa comandar
a Igreja ignorando todos os problemas deixados sem solução pelos
anteriores.
É aconselhável não nos esquecermos de que as profecias estão sendo cumpridas.
Estamos na quaresma, tempo de mudança, de ressurreição, com esperança de dias
melhores. Será que os teremos?
Por isso, é preciso que a Igreja reflita sobre as mudanças que urgem serem
feitas, pois nem tudo está perdido. E a renúncia do Papa, bem como a crise pela
qual a Igreja atravessa não é motivo para abandoná-la. Pelo contrário, devemos alimentar
nossa fé.
Lendo a parábola da mulher adúltera, atire a primeira pedra que não cometeu
algum pecado.
Eleito o novo
Papa – FRANCISCO -, cujo nome condiz com o real papel da Igreja – voltar-se
para os pobres, os excluídos, pois esta foi a missão de São Francisco de Assis
que se despojou dos bens em prol dos pobres.
Assim, temos duas quebras de paradigma: a renúncia de Bento XVI e a
escolha de um Papa da América Latina.
Refletindo sobre a paciência que há na misericórdia de Deus, o Papa Francisco
conclama aos fiéis que perdoem, pois, segundo ele: “Sentir misericórdia é
pensar em mudar o mundo. Um pouco de misericórdia rende um mundo menos frio e
mais justo. É bela a misericórdia” (In CORREIO DA PARAIBA. Segunda-feira,
18 de março de 2013 –A9).
“Sejamos
[portanto] o elo e seremos a vitória”, pois Deus é AMOR. E “só o amor
transforma o mundo porque modifica o coração do homem.”
Marinalva
Freire da Silva. Escritora. Educadora. Defensora dos Direitos Humanos.
Enviado pelo professor universitário:
Romero Cardoso
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