Por: Rangel Alves da Costa(*)
SINGULAR,
PLURAL
Na vida das
pessoas, principalmente nos aspectos comportamentais, o singular e o plural
delimitam os modos de agir, as concepções sobre as realidades e as decisões que
devem ser tomadas.
Não há dúvida
acerca do que seja singular e plural. O primeiro diz respeito àquilo que
pertence a um só, a uma só pessoa, a uma única coisa, como um indivíduo, um
objeto, um ser ou uma ideia. E o segundo indica a existência de mais de um
ser, o que é múltiplo ou se refere a vários indivíduos, objetos ou seres.
Comportamentalmente
citando, a singularidade se faz presente na interiorização do indivíduo, nas
suas concepções íntimas acerca da realidade, nos conceitos que norteiam o seu
mundo. É a visão própria. Por sua vez, a pluralidade seria o compartilhamento
de atitudes, conceitos e pensamentos. Seria, assim, um diálogo para diversas
compreensões e aceitações, ou não.
Contudo,
muitas vezes, ainda que o singular se imponha com precisão, nada impede que a
pessoa se pluralize diante das circunstâncias. Nem tudo é tão pessoal que não
possa se transformar em coletivo. Neste caso, a unicidade e a pessoalidade se
dimensionam para aceitar a diversidade ou diferenciadas concepções.
Como
observado, o singular e o plural aqui abordados não se referem apenas a
categorias gramaticais nem a flexão das palavras para indicar uma ou mais
pessoas ou coisas. O ponto de partida é a visão da fronteira entre o particular
e o geral, e a observância do quanto se confundem nas situações de vida.
E isto porque
ainda que gramaticalmente se distinga nitidamente o singular (um ser) do plural
(os seres), situações existem em que tal distinção não se apresenta com tão
fácil percepção. Em certas palavras, a flexão de número acarreta variações
semânticas. O bem, como sinônimo de bom, por exemplo, se diferencia de bens,
enquanto sinônimo de objetos ou coisas.
Da mesma forma
ocorre com as pessoas. Muitos seres humanos existem que vivem tão sozinhos e
afastados de tudo, num abandono tão doloroso, que deles se poderia dizer
perdidos numa ilha urbana. E não seria diferente que abraçassem um só
norteamento na vida. E até porque nem sempre conhecem outras verdades, outras
feições, outros caminhos a seguir.
Outros abraçam
a visão única sobre as coisas por outros motivos. Os que se acham donos da
razão e capazes de tudo, não admitem de forma alguma pensar segundo opine outra
pessoa. Ou o outro comunga do seu pensamento ou será visto com menosprezo. Há
também os que vivem segundo teorias, com convicções inarredáveis, como que
estranhos a outros conceitos e realidades.
Diversos
exemplos podem ser citados como singularidade que parece jamais querer admitir
a diversidade. Os evangélicos não admitem discutir religião a não ser segundo a
concepção de sua igreja; os fanatizados morrem acreditando na verdade de sua
seita; os pais geralmente definem seus filhos dentro de uma pureza tal que mais
parecem anjos operando milagres sobre a terra.
E logicamente
nada disso pode ser visto assim, ou exclusivamente assim. Todo aquele que
respeita a opinião alheia, que busca no exemplo do outro uma lição a ser
seguida, ou ainda sabe que até a ciência é passível de erros e a qualquer
momento uma nova pesquisa poderá trazer outra verdade, tenderá a crescer
através da pluralidade.
Ora,
pluralidade na vida nada mais é do que buscar a realização através da
simplicidade, reconhecendo a fragilidade humana e tentando multiplicar-se com
as boas e úteis lições recebidas. Quem louva o plural foge da discriminação, do
preconceito, da imposição. Duvida de tudo, quer saber mais e, o que é mais
importante, faz de sua incerteza um caminho para alcançar o acerto, ainda que o
certo seja apenas transitório.

Verdade é que
o singular tenta fugir a todo custo da pluralidade. A sensação de medo é
provocada pelo conhecimento único sobre as coisas, pelo temor de encarar outra
realidade. Sua crença não pode ser afetada, sua certeza não pode ser
contestada. E tudo isso pode ser desfeito pelo plural, pelo conhecimento das
diversas faces de uma mesma feição.
Por fim, há o
exemplar caso do espelho. Colocado num ambiente, pregado numa parede ou em cima
de uma penteadeira, nada é mais singular que o espelho. Contudo, conhece tantas
versões de uma feição, já espelhou tantas situações diferenciadas na mesma
pessoa, que de repente se torna o exemplo maior da pluralidade dentro do singular.
(*) Meu nome é
Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no
município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito
na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também
História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou
autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e
"Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas
Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em
"Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros
contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e
"Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada
sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão -
Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do
Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor:
Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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