sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

DIVULGAÇÃO DE LIVRO: LITERATURA&LINGUAGENS (Marinalva Freire da Silva (Organizadora) - Contendo capítulo de autoria dos Professores da UERN José Romero Araújo Cardoso e Benedito Vasconcelos Mendes)

Por: José Romero Cardoso

JOSUÉ DE CASTRO E AS FERIDAS ABERTAS QUE OS PODEROSOS INSISTEM EM NÃO CURAR

                  José Romero Araújo Cardoso –UERN-Mossoró-RN
                Benedito Vasconcelos Mendes - UERN-Mossoró-RN


        As paisagens urbanas e rurais, através de sua geografia
humana, sobretudo, nas periferias do capitalismo globalizado que marca
os dias atuais, vêm sendo caracterizadas pelas manifestações
aviltantes cada vez mais agudas do drama da fome, que ‘consagram’ o
significado da exclusão de grande parcela dos seres humanos, espalhada
pelos quatro cantos do Planeta, e que ainda não foi beneficiada pelas
conquistas tecnológicas, bem como pela capacidade de gerar emprego e
renda decentes que garantam melhores dias, formulando, de forma
efetiva, o real sentido da cidadania.
Os donos dos meios de produção selecionam metodicamente espaços que
são e serão beneficiados pela ação do capital em suas múltiplas
metamorfoses e interesses, relegando ao esquecimento os que não
interessam de imediato à reprodução das estruturas de poder.
São os espaços marginalizados que não servem a curto ou médio prazos,
muitas vezes também a longo prazo, aos propósitos definidos em
infindáveis reuniões temperadas pelo gosto refinado por dinheiro em
quantidade absurdamente estratosférico.
  Assim, cotidianamente milhares de pessoas são atiradas no fosso da
miséria, da pobreza e da fome, pois sem perspectivas de melhores dias
amargam a triste realidade do abandono e do infortúnio, sendo
submetidas à escravidão da falta de interesses dos poderosos que as
enxergam apenas como frios números das estatísticas que permitem
absurda maximização de lucros com interessante minimização de custos
para aqueles que são contemplados pelas benesses do sistema.
   Citando exemplo clássico presente nas distorções inter-regionais
brasileiras, indubitavelmente podemos afirmar que em consonância com o
despovoamento do campo no nordeste brasileiro desponta de forma
imperiosa o agrobusiness em determinados espaços
rurais previamente selecionados, dotado de tecnologia de primeiro
mundo. Em contrapartida, a agricultura familiar vem sendo notavelmente
prejudicada e desestimulada em razão que percentual significativo dos
investimentos garantidos pelas políticas públicas voltadas para o
agro, viabilizadas pela ação do Estado, destina-se ao sucesso da
produção agrícola concentrada em atender as exigências do mercado
externo a fim de gerar divisas para fomentar a política paternalista
que caracteriza a atuação do Estado em garantir os privilégios da
poderosa classe que detém o poder.
  Além do mais, os poucos recursos destinados ao fomento agricultura
familiar não vem acompanhado de necessária e eficaz instrução técnica
que permita favorecer o sucesso da produção e da comercialização
agropecuária, não esquecendo ainda que existem graves denúncias de
corrupção envolvendo a destinação dos recursos para este setor
produtivo que garante inúmeros benefícios para suprir o mercado
interno, ao contrário do primo rico que se dedica a atender as
exigências externas cada vez mais sofisticadas. O resultado óbvio é o
recrudescimento da situação de penúria dos que sofrem com a
intransigência da lógica do capital, avançando de forma desumana as
conseqüências trágicas da desnutrição.
Crianças, elos frágeis da teia maléfica montada pelo capitalismo, perdem a visão
por falta de alimentos, ficando apenas no couro e no osso devido à
ausência de proteínas que possam garantir a sobrevivência e
engrossando dia-a-dia as estatísticas referentes à mortalidade
infantil, motivada por doenças provocadas pela fome.
        Esqueléticas e famintas desfilam suas desditas pelos espaços
menos privilegiados das favelas, alagados, palafitas, pontes, campos
adustos, lócus urbanos sem infra-estruturas e outros locais usados
como moradias, pois sinônimos da ausência de compromissos, esses
lugares se constituem nos territórios da fome e das privações.
                Enquanto isso, os poderosos que mandam e desmandam não
demonstram sensibilidade, comoção, atitude alguma concreta, que seja
pragmática de fato, que possa reverter o quadro surreal que vem
tomando aspecto tétrico, cada dia pintado de forma mais intensa com
cores berrantes que revelam o drama da miséria e da fome, da
insensibilidade de parcela intransigente da humanidade satisfeita e
feliz com o esquema montado sobre privilégios.
                Recantos esquecidos espalhados na imensidão nordestina
abrigam populações famintas e desvalidas cujas condições de vida são
iguais às apresentadas pelos grandes bolsões de carência crônica do
continente africano, pois os indicadores sócio-econômicos teimam em se
repetir em cada amostragem populacional que busca revelar a situação
do povo brasileiro, embora saibamos que muitas foram propositalmente
maquiadas para atender determinados interesses.
                Mães aflitas, viúvas das secas e dos descasos, choram pelo
destino que o sistema relegou aos seus filhos, aos quais tudo é
negado, desde um prato de comida decente à educação de qualidade que
possa garantir-lhes um futuro melhor, com esperanças e felicidades,
não esquecendo ainda que saúde também é algo negado de forma injuriosa
e infame. A injustiça tornou-se palavra de ordem no imaginário dos
poderosos.    Historicamente, a pobreza vem sendo tratada como caso de
polícia, pois exemplo disso temos na forma desumana como os aparelhos
repressivos do Estado trataram Canudos, como verdadeiro caso de
segurança nacional, simplesmente por que a sociedade alternativa
fundada no sertão baiano conseguiu superar os limites extremos da
exploração desmedida capitaneada pelo draconiano latifúndio que impera
desde a formação sócio-econômica brasileira.
                 A intensificação do drama da fome foi profetizada e alertada
pelo cientista Josué Apolônio de Castro (Recife – 05/09/1908 – Paris
–24/09/1973) quando de sua magnífica campanha em prol da erradicação
do maior drama da humanidade, mas desde então nada foi feito, pelo
contrário, pois o problema ainda está sendo encarado como um tema
proibido, o qual escancara a mesquinhez contida na manutenção e na
reprodução das estruturas de poder que privilegiam poucos e humilham a
grande maioria excluída do complexo processo que caracteriza os dias
atuais.
        A ousadia e a independência de Josué de Castro, quando denunciou
a fome como flagelo fabricado pelos homens, foram responsáveis por
momentos ímpares na história da humanidade, mas que, infelizmente,
responsabilizaram-se também pelos momentos de angústia
que o levaram à morte prematura em seu exílio na França, imposto pela
intransigência dos militares que derrubaram o governo constitucional
de João Goulart, histórico herdeiro político de Vargas.
        Refletir sobre as bases do pensamento do importante teórico
nacional, reconhecendo a importância da atualidade de suas pregações e
defesas, é condição sine qua non para que busquemos lutar pela
superação dos aviltantes contrates que separam incluídos e excluídos,
contribuindo dessa forma para a consolidação de um mundo melhor, com
justiça social e harmonia para o gênero humano. Insistindo em não
curar as feridas abertas com o drama da fome, os poderosos do planeta
alimentam insatisfações cujas conseqüências poderão se revelar
imprevisíveis, pois a partir do momento que o grito dos excluídos
tornar-se mais intenso e estridente talvez a composição contida na
superestrutura não surta tanto efeito a fim de abafar as reclamações
que se avolumam de forma impressionante devido a ausência de amor que
vem sendo observada na conjuntura em que impera a ganância e a falta
de compromissos com a sofrida realidade humana daqueles que estão à
espera de olhares mais humanos e compenetrados com suas situações
desesperadoras.
                A publicação pelo alto comando militar do Ato Institucional
número 1, em abril de 1964, trouxe em sua lista os nomes cassados de
vários políticos e personalidades ligados ao governo deposto de João
Goulart, encontrando-se entre esses o do médico, geógrafo e sociólogo
brasileiro, cidadão do mundo, Josué Apolônio de Castro, autor de
grandes clássicos como Geografia da Fome (1946) e Geopolítica da Fome
(1951), considerados importantes contribuições para as causas humanas,
publicados pós-segunda guerra mundial.
                Josué de Castro escolheu a França para o exílio, voltando a
ministrar aulas em grandes instituições de ensino superior, como a
Sorbonne e Vincennes. Instalado na capital francesa, intensificou a
luta humanista que marcou toda a vida do grande cientista nacional.
                No Brasil, a ditadura militar considerou Josué de Castro
persona non grata, recolhendo seus livros das bibliotecas e das
universidades nacionais. Quem fosse pego lendo Geografia da Fome, ou
outro clássico escrito pelo homem que lutou contra a desnutrição e em
prol da paz, estava passível de ser enquadrado na lei de segurança
nacional, pois sua produção tornou-se tema proibido.
                Escancarar as estruturas de dominação forjadas pelo homem
contra o próprio homem foi considerado o grande pecado de Josué de
Castro, pois sua ousadia ao denunciar as injustiças sociais
garantiu-lhe a ira de inimigos poderosos, pessoas beneficiadas pelo
modelo que ainda tem sua vigência nos dias atuais, principalmente
quando, com a urbanização anômala e acelerada, recrudesceu o problema
da fome e da miséria.
                Constatar que Josué de Castro e sua vasta produção ainda
são desconhecidos soa como algo misterioso e inadmissível em pleno
século XXI, tendo em vista a importância e a atualidade do pensamento
deste teórico nacional para a compreensão e elucidação dos graves
transtornos sociais que se agigantam cotidianamente, pois a
confirmação de profecias feitas há mais de quarenta anos é reconhecida
no presente.
                Por essa razão, justifica-se a busca para alcançar
objetivos definidos em projeto de extensão apresentado ao Departamento
de Geografia do Campus Central da Faculdade de Filosofia e Ciências
Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, denominado
Discutindo a importância e a atualidade o pensamento de Josué de
Castro em Escolas Públicas Municipais e Estaduais de Mossoró/RN.
                Intuindo assinalar a participação da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte nas comemorações do centenário de nascimento de
Josué de Castro, ocorrido no ano de 2008, buscamos assistir a um
público-alvo bastante parecido no que tange às origens do injustiçado
cientista brasileiro.
                Quando da aplicação desse projeto de extensão, observamos
imediata identificação dos alunos com a vida, com as idéias e com a
permanência de suas defesas. Nascido em zona miserável da capital
pernambucana, no dia cinco de setembro de 1908, Josué de Castro nunca
esqueceu suas origens, pois mesmo quando desempenhava a mais alta e
importante função, quando de suas gestões no Fundo das Nações Unidas
para a Agricultura e Alimentação, criada sob os auspícios do seu
particular amigo Lord J. Boyd Orr, sempre voltava aos mangues
recifenses para ouvir seus personagens de infância, os catadores de
caranguejos, saber como vivam, o que pensavam e o que sofriam devido à
intensidade das mazelas sociais que nos dias de hoje são mais intensas
e profusamente presentes em nossa sociedade.
            Josué de Castro teve a iniciativa de pintar o quadro
social com cores berrantes, não poupando o dramático e tétrico
problema da fome em sua real dimensão, tendo alertado as autoridades
mundiais para o colapso geral caso não abrissem mãos das vantagens
impressionantes desfrutadas por uma pequeníssima minoria privilegiada
e agraciada com todos os benefícios da exclusão da grande maioria,
pois afirmou que um terço da população mundial não dormia temendo os
outros dois terços que passavam fome.
                A defesa intransigente da paz se constituiu em um dos
pilares das propostas de solução para o problema da fome no planeta.
Josué de Castro defendeu com entusiasmo que a segurança social,
compreendida pelo investimento em saúde, educação, cultura, nutrição
etc., é muito e infinitamente mais importante que a segurança nacional
baseada em armas, não se justificando o destino astronômico de
recursos para a modernização do setor armamentista, o qual tem uma
única finalidade, quer seja, fomentar a morte e a destruição.
                Com certeza, encontra-se uma importante explicação para o
ódio devotado pela ditadura militar contra Josué de Castro nesta
máxima em prol da vida, da harmonia e da solidariedade entre os povos.
           A indicação de Josué de Castro duas vezes para o Nobel da
Paz encontra-se na intransigência com que defendeu a idéia de que a
felicidade humana, traduzida na segurança social, é mais importante do
que a ênfase aos disparos de canhões e metralhadoras que levam a
desgraça aos quatro cantos do planeta.
                Levar o exemplo de Josué de Castro para estudantes do
ensino fundamental de escolas públicas municipais e estaduais, seja de
Mossoró ou de qualquer outro município potiguar ou brasileiro,
constitui-se, indubitavelmente, em importante fundamento que alicerça
a formação de novas consciências, tendo em vista que ao superar a
pobreza crônica, apostando na educação e na cultura, fez de Josué de
Castro modelo a ser seguido a fim de buscar novos horizontes em uma
sociedade estruturada de forma rígida e inflexível no que diz respeito
à manutenção dos privilégios que a cada dia que passa se tornam mais
intensos e desrespeitosos para os que sofrem com as condições sociais
aviltantes impostas pelos homens contra os próprios homens.
        Em primeiro de abril de 1964, o pernambucano e cidadão do mundo
Josué Apolônio de Castro se encontrava ocupando o posto de embaixador
do Brasil junto aos organismos da ONU, em Genebra, Suíça. Na década de
50 havia ocupado a presidência da FAO, marcando época em razão da
forma intransigente como defendeu o acesso pleno da população do globo
às conquistas da era moderna, incluindo, primordialmente, o direito de
toda a população do planeta desfrutar de nutrição digna, bem como a
implementação de uma existência humana sob a égide da paz.
Com o advento do regime militar, triunfando idéias reacionárias e
conservadoras, as quais se contrapunham às propostas inovadoras do
governo Jango, Josué de Castro pediu demissão do alto cargo que
ocupava a serviço do governo democrático brasileiro.
            Esse brasileiro que lutou incessantemente em prol da paz e
pela erradicação da fome no planeta encabeçava lista de banidos,
divulgada pelo Ato Institucional Nº 1, cuja publicação foi efetivada
onze dias após o golpe de 1964.  Os militares escolheram a dedo
importantes personalidades dos cenários político-sociais e
intelecto-culturais brasileiros, consideradas esquerdistas, cujas
idéias eram contrárias à bandeira erguida sobre o lema Deus, Pátria e
Família, tornando-os renegados. Os objetivos, claros e óbvios, eram
destilar ódio e garantir a manutenção do status quo que estava sendo
ameaçado pelas idéias populistas do herdeiro político de Vargas,
deposto pela força das baionetas, bem como das de suas bases de
sustentação, as quais abrigavam também os temidos comunistas.
         Josué de Castro escolheu Paris, capital da França, para fixar-se
com a família durante o exílio, o qual pensava ser breve, em sua
lúdica imaginação. Lecionou em instituições de ensinos superiores
francesas e se aproximou mais ainda de importantes personalidades
mundiais, frisando que o mesmo era uma dessas. Nas décadas de 50 e 60
do século passado, três figuras eram indispensáveis quando das
reuniões da Organização das Nações Unidas, cujos temas se referissem
ao gênero humano: Lord Boyd Orr, o idealizador da FAO, Bertrand Russel
e Josué de Castro. Esse grande brasileiro não esqueceu de dar
continuidade às suas batalhas em prol da melhoria da qualidade de vida
de significativa parcela da humanidade, a qual ainda sofre de forma
inclemente com os efeitos da fome epidêmica. Concentrou sua
preocupação e propostas, primordialmente, na busca de solução para os
dramas que afligem excluídos do Terceiro Mundo.
             Pacifista por convicção, Josué de Castro acreditava que
revertendo o montante volumoso de capitais destinado ao armamentismo,
aplicando-o na produção visando atender necessidades básicas dos seres
humanos do planeta, seriam atingidos níveis satisfatórios de
desenvolvimento humano em todo o mundo.
                Condenou com veemência a dinâmica da indústria bélica,
alimentada pelo ódio e pela busca da hegemonia, do poder estratégico
em diversas escalas. Os militares, cujo pensamento era contrário às
idéias e às lutas encabeçadas por Josué de Castro, sabiam da
importância desse cientista e ativo militante político, principalmente
no que diz respeito à necessidade
                As instituições de ensinos superiores foram proibidas de
comentar, explanar divulgar ou até mesmo fazer breves referências
sobre o homem que revolucionou a Ciência, devido inovação metodológica
que permitiu mapear os grandes problemas sociais enfrentados pelo país
e pelo mundo. Livros de sua autoria foram banidos das universidades
brasileiras e bibliotecas, sendo declarados malditos. Sua principal
obra, intitulada Geografia da Fome, de 1946, é um marco no que diz
respeito à elucidação dos contrastes da realidade brasileira. Cinco
anos depois, quando do lançamento de Geopolítica da Fome, Josué de
Castro dinamizou o mais importante estudo realizado no planeta sobre o
grande flagelo que maltrata parcela significativa da humanidade.
           A pregação pacifista de Josué de Castro, bem como sua
desmistificação ao ufanismo que caracterizou acentuadamente as décadas
de cinqüenta e sessenta, provando cientificamente os males e as
agruras da fome, até então ocultos, o transformou em persona non grata
ao regime militar brasileiro, então representante e gestor dos
interesses da elite hegemônica e do capital transnacional.
            Em Paris, Josué de Castro tentou, sem nenhum sucesso,
fazer com que a embaixada brasileira enfatizasse os trâmites legais a
fim de que este renomado cientista pudesse regressar ao solo
brasileiro. Todos os seus pedidos foram insistentemente negados.
            A Ditadura Militar, cujos dirigentes viam o armamentismo
como condição imprescindível de existência, enxergava em Josué
Apolônio de Castro uma ameaça potencial à efetivação de seus
interesses, de servir à burguesia em suas pretensões de maximização de
lucros.
            Lutar em favor dos deserdados do sistema representaria
contestação inadmissível ao poder das baionetas. Torturas e inúmeras
arbitrariedades, assessoradas pelo Ato Institucional Nº 5, eram fatos
corriqueiros na conjuntura nefasta dominada pelo terror imposto pelos
militares.
            Uma semana antes do dia 24 de setembro de 1973, quando
faleceu o mais influente e importante cientista e militante político
brasileiro do século XX, morto de infarto e, mais ainda, provocado
pela saudade do Brasil, detentor do título de cidadão do mundo,
indicado duas vezes para concorrer ao prêmio Nobel da Paz, entre
outros, como o Prêmio da Academia de Ciências dos EUA, reiterou, sem
sucesso, solicitação à embaixada brasileira de visto em passaporte.
                Como Josué de Castro e suas idéias eram temidos pelos
militares está traduzido no verdadeiro esquema de segurança montado
pelos órgãos de repressão quando do seu enterro no Cemitério São João
Batista, no Rio de Janeiro.
                Acredito que a família cometeu um grave erro, pois Josué
de Castro deveria ter sido sepultado na França, aumentando, dessa
forma, o grau de culpa da Ditadura Militar no que diz respeito à
maneira medíocre como essa infame estrutura de governo instalado no
Brasil, a partir de 1964, estendendo-se até 1985, tratou o mais
importante brasileiro do século XX. Os militares o levaram à morte em
razão do amor e do compromisso que tinha com os excluídos do Brasil e
do mundo, por não permitirem que ele sentisse o cheiro da pobreza do
Brasil e, principalmente, dos mangues do Capiberibe, em Recife, Estado
de Pernambuco, sua cidade natal, assim como do povo que ele acompanhou
em sua infância pobre, que nos mangues busca o sustento, estando aí a
razão original do despertar das lutas e das idéias desse espetacular
homem de Ciência, cuja projeção e reconhecimento se revelaram
espetaculares, a nível global, mas que se tornou vítima da infâmia e
da mediocridadede uma parcela intransigente e conservadora da espécie
humana, capaz de tudo para garantir privilégios.
       Desconhecido da maioria das gerações presentes, Josué Apolônio
de Castro, gradativamente, rompe o casulo que o ostracismo perverso
dos militares determinou no ensejo do verdadeiro complô estruturado
com o objetivo de alijá-lo da memória nacional.
            Reconhecer a importância da clarividência disseminada
pelas obras e pelas lutas desse grande brasileiro significa referendar
a necessidade de intervir no modelo, tornando-o humano e menos
fomentador de contrastes aviltantes entre as classes sociais.
            Josué de Castro foi um profeta das Ciências Sociais no
planeta. Quando da publicação de clássico intitulado “Geografia da
Fome” no ano de 1946, lançado imediatamente pós-segunda grande guerra,
um dos mais importantes livros de sua extensa produção, foi traduzido
em vinte e cinco idiomas, demonstrando a importância da análise
efetivada pelo consciente pernambucano.
           A regionalização brasileira enfatizada em “Geografia da
Fome” destacou a existência de cinco áreas com características
singulares no que diz respeito aos aspectos nutricionais: A amazônica,
o nordeste açucareiro, o sertão, o centro e o sul.
Josué de Castro inovou ao inserir perspectivas analíticas
diferenciadoras da produção científica em voga, contestando as
previsões apocalípticas de Malthus e denunciando a concentração da
terra no Brasil. Provou que em 1946 havia condições concretas de
alimentar a multidão de famintos se houvesse prioridade para a
agricultura familiar.
                Os livros “Geografia da Fome” e “Geopolítica da Fome”,
publicado no ano de 1951, renderam importantes prêmios internacionais
a Josué de Castro. A luta em prol da paz fez com que o renomado
cientista nacional fosse indicado duas vezes para o prêmio Nobel
destinado a esta categoria. Josué de Castro foi indicado ainda para
concorrer ao Nobel de medicina em razão dos seus estudos sobre a
nutrição no planeta. Infelizmente não foi contemplado em nenhum dos
setores.
                Pela publicação da “Geografia da Fome”, Josué de Castro
recebeu o prêmio Roosevelt da Academia de Ciências dos EUA e em razão
de sua luta sem trégua por um mundo sem guerras, pela criteriosa
ênfase ao pacifismo, recebeu o prêmio internacional da paz.
                Nos dias de hoje, cerca de 16 milhões de pessoas, de
brasileiros, vivem abaixo da linha da pobreza, sobrevivendo com menos
de setenta reais por mês. Caso as pregações de Josué de Castro
tivessem sido colocadas em prática há mais tempo a situação desumana
vivida por esses seres humanos, gente como a gente, não estaria tão
grave, não obstante no presente estar havendo certo alento no que diz
respeito à importância de determinadas políticas públicas que visam
erradicar a fome e a pobreza crônica no Brasil, embora ainda primem
pelo mero assistencialismo, pois a geração de emprego e renda é
absolutamente necessária a fim de combater esses males sociais.
                 Eficaz distribuição de terras como devido implemento às
condições necessárias a fim de fixar o homem no campo ainda não foram
concretizadas. O latifúndio e a ganância dos poderosos ainda perduram
na atualidade, imperando as exigências do agrobusiness a fim de
garantir as impecáveis exigências do mercado externo, reeditando a
essência do pacto colonial que viabilizou o sistema de plantação.
                Mais de 50% dos milhões de miseráveis brasileiros se
concentram no nordeste brasileiro no qual nasceu Josué de Castro. Não
mudou nada desde a publicação da “Geografia da Fome”, ou seja, a
porção rica e privilegiada do espaço geográfico nacional encontra-se
impecavelmente estruturado, não obstante haver pobreza a mais do que
quando do lançamento do célebre livro, em razão do avanço da
urbanização motivada principalmente pela industrialização tardia e
dependente que começou a ser definida quando do governo entreguista de
JK.
                As denúncias esboçadas por Josué de Castro há sessenta e
cinco anos ainda não suscitou correção das distorções aviltantes que
fazem da sociedade brasileira uma das que mais se destaca pela
concentração abusiva de renda que se responsabiliza pela exponência da
fome e da miséria absurdas em território nacional.
                O projeto de extensão intitulado “Discutindo a importância
da atualidade do pensamento de Josué de Castro em Escolas Públicas
Municipais e Estaduais de Mossoró” foi iniciado no primeiro bimestre
de 2008. Buscamos marcar o centenário de nascimento de Josué de
Castro, ocorrido em cinco de setembro de 2008, disseminando
informações sobre suas idéias e perspectivas para os problemas sociais
que afligem consideravelmente o planeta nos dias de hoje.
                O que motivou a elaborar esse projeto de extensão foi a
constatação que Josué de Castro ainda é desconhecido da grande
maioria, pois as imposições da ditadura militar no que diz respeito á
necessidade, para os militares e para os donos do poder, de apagá-lo
da memória nacional ainda tem sua vigência. Outro forte motivo para
termos elaborado este projeto de extensão encontra-se na constatação
de que a fome se intensificou extraordinariamente, cumprindo as
profecias que Josué de Castro fez há mais de 40 anos. Além do mais,
nunca foi preciso tanto que a paz, outro importante pilar do
pensamento do cientista brasileiro, esteja presente em nosso
cotidiano.
                À frente desse projeto de extensão estão dois professores,
lotados no Departamento de Geografia do Campus Central da UERN: Prof.
Ms. José Romero Araújo Cardoso, coordenador, e Prof. Dr. Benedito
Vasconcelos Mendes, subcoordenador. A UERN apóia o projeto através da
institucionalização do mesmo, via Departamento de Geografia.
           Os alunos demonstram bastante interesse, pois se
identificam de imediato com as defesas de Josué de Castro, bem como
com a vida dele, pois Josué teve uma infância pobre, bem humilde, com
muito esforço chegou à posição desfrutada na década de cinqüenta e de
sessenta, quando se tornou uma das mais importantes personalidades do
planeta. Levamos o exemplo dele para as salas de aula do ensino
fundamental das Escolas Públicas Municipais e Estaduais de Mossoró,
como forma de motivar os alunos a nunca desistir dos estudos, a
seguirem os passos de Josué de Castro, pois ele superou a pobreza
através da educação e da cultura.
                Pretendemos assistir todas as Escolas Públicas Municipais e
Estaduais de Mossoró, primeiro na zona urbana e depois na zona rural.
Depois levaremos o projeto de extensão intitulado “Discutindo a
importância da atualidade do pensamento de Josué de Castro em Escolas
Públicas Municipais e Estaduais de Mossoró” para outros municípios da
região.
                Josué de Castro parece que ainda é um tema proibido. O
trabalho que a ditadura fez no sentido de ocultar o nome desse grande
cientista e suas idéias ainda tem sua vigência.    Timidamente a mídia
abre pequenos espaços para expor a importância desse grande
brasileiro, mas as iniciativas ainda soam restritas, por isso Josué de
castro e suas defesas se constituem em informações quase inéditas para
a maioria dos professores das escolas públicas municipais e estaduais
que assistimos até o presente momento.
                As principais idéias de Josué de Castro são que a fome é um
produto de estruturas defeituosas, fabricada pelo homem contra o
próprio homem, e que somente com amor e solidariedade poderemos
superar os contrastes. Outra pedra angular do pensamento de Josué de
Castro é que a paz é condição sine qua non para extinguir o drama da
fome.  Josué de Castro defendia que a segurança social é mais
importante do que a segurança nacional baseada em armas, pregando a
contenção imediata do armamentismo que exige bilhões e bilhões e que o
montante resultante dessa poupança fosse investido em alimentação,
saúde, educação, etc., na segurança social. Devido esta defesa
intransigente da segurança social, a ditadura militar elegeu Josué de
castro inimigo público número um, tornando-o persona non grata, pois
ele morreu de saudades do Brasil quando do exílio na França.
                Em primeiro lugar notamos que há nítida motivação,
constatada através das fotografias da aplicação do projeto, em seguida
a contribuição encontra-se no despertar de novas consciências acerca
dos problemas nacionais, pois a essência do pensamento de Josué de
Castro é mais atual do que nunca.
                Para a formação desses jovens, o exemplo de Josué de Castro
é importantíssimo, tendo em vista que ele proveio da mesma classe do
público-alvo assistido. Poderíamos, em verdade, passar tempo
considerável elencado a série de contribuições propiciada pelo projeto
de extensão intitulado “Discutindo a importância da atualidade do
pensamento de Josué de Castro em Escolas Públicas Municipais e
Estaduais de Mossoró”, mas em linhas gerais podemos afirmar que
viabilizar a descoberta das contradições da sociedade e a ênfase à
identidade são efetivas contribuições para o jovem brasileiro,
sobretudo quando impressionante crise de valores assola a juventude de
hoje, principalmente no que diz respeito à apatia para a importância
da educação e da cultura como molas propulsoras das transformações.
                No ensejo das comemorações referentes ao centenário de
nascimento do cientista Josué de Castro, cuja luta concentrou-se no
estudo de proposta sobre o problema da fome e na defesa da importância
da paz, propusemos extensão de conhecimentos sobre o importante
teórico nacional para alunos do ensino fundamental de escolas públicas
municipais e estaduais de Mossoró - RN, cumprindo 50% da proposta
contida no projeto extensionista.
                Marca o objetivo desse projeto de extensão dinamizar
conhecimentos sobre Josué de Castro e suas propostas de cidadania para
docentes e discentes do ensino fundamental de escolas públicas
municipais mossoroenses.
                A metodologia constou de exposição sobre a vida, obras,
lutas, defesas e agruras de Josué de Castro, exibição de
vídeo-documentário por título Josué de Castro: Cidadão do Mundo,
dirigido pelo cineasta Sílvio Tendler, debates e solicitação de
redações sobre o tema abordado, com ênfase à atualidade do problema da
fome.
                Sete escolas municipais foram visitadas na primeira etapa
do projeto extensionista, cujos discentes do ensino fundamental
produziram ao todo 156 textos dissertativos sobre a temática abordada,
sendo que no Colégio Evangélico Leôncio José de Santana, cuja visita
da equipe ocorreu no dia 27 de maio de 2008, os alunos, em um total de
65 presentes, entregaram 8 redações, sendo 100% do 9º ano. Na Escola
Municipal Ronald Pinheiro Neo Júnior, cuja visita da equipe ocorreu no
dia 03 de junho de 2008 os alunos, em um total de 80 presentes,
entregaram 18 redações, sendo 12 do 5º ano (66,6%), 1 do 6º ano
(5,5%), 2 do 7º ano (11,1%) e 3 do 8º ano (16,6%). Na Escola Municipal
Dinarte Mariz, cuja visita da equipe ocorreu no dia 17 de junho de
2008, os alunos, em um total de 75 presentes, entregaram 6 redações,
todas do 4º ano. Na Escola Municipal Francisco de Assis Batista, cuja
visita da equipe ocorreu no dia 24 de junho de 2008, os alunos, em um
total de 84 presentes, entregaram 42 redações, sendo 21 do 6º ano
(50%), 10 do 7º ano (23,8%), 11 do 9º ano (26,1%) e 3 do 8º ano
(16,6%). Na Escola Municipal Castro Alves, cuja visita da equipe
ocorreu no dia 10 de junho de 2008, os alunos, em um total de 45
presentes, entregaram 26 redações, sendo 6 do 3º ano (23%), 4 do 4º
ano (15,3%) e 16 do 5º ano (61,5%). Na Escola Municipal Joaquim
Felício de Moura, cuja visita da equipe ocorreu no dia 08 de julho de
2008, os alunos, em um total de 96 presentes, entregaram 56 redações,
sendo 22 do 5º ano (39,2%), 5 do 6º ano (8,9%), 8 do 7º ano (14,2%) e
21 do 9º ano (37,5%). Nenhum discente da Escola Municipal José
Benjamin, cuja visita da equipe ocorreu no dia 22 de julho de 2008,
entregou redação. Não obstante a ausência de textos produzidos na
Escola Municipal José Benjamin foi relevante o resultado obtido na
primeira etapa do nosso projeto de extensão, tendo em vista que
constatamos empiricamente a acolhida às informações transmitidas ao
longo da concretização dos trabalhos, inéditas para a maioria do
público-alvo, personificada na demonstração de interesse dos discentes
através da elaboração de redações sobre o tema enfocado.
                Na segunda etapa do projeto de extensão sobre a importância
e a atualidade do pensamento de Josué de Castro, foram visitadas
quatro escolas públicas estaduais, pois em razão da greve deflagrada
recentemente ficou impossibilitado de contemplar todas as unidades
educacionais selecionadas. Na Escola Estadual Moreira Dias, cuja
visita da equipe ocorreu no dia 04 de novembro de 2008, os alunos em
um total de 62 presentes, todos do 7º ano, produziram 27 redações, ou
seja, apenas 43,5% dos presentes. Na Escola Estadual Monsenhor
Raimundo Gurgel, cuja visita da equipe ocorreu no dia 11 de novembro
de 2008, registrou-se a presença de 69 alunos, os quais produziram 69
redações, ou seja, 81,5%, todos do 6º ano. Na Escola Estadual Santa
Terezinha, cuja visita da equipe ocorreu no dia 18 de novembro de
2008, estiveram presentes 58 alunos, os quais produziram 58 redações,
perfazendo um percentual de 100% dos presentes que entregaram
redações, sendo 30 do 7º ano ( 51,7%) e 28 do 8º ano (48,3%). Na
Escola Estadual Padre Sátyro, cuja visita da equipe ocorreu no dia 25
de novembro de 2008, os alunos, em um total de 53 presentes,
produziram 19 redações, ou seja, apenas 35,8% dos presentes, sendo 8
do 5º ano ( 42,1%), 5 do 4º ano ( 26,3%) e 6 do 3º ano (31,6%).
                As Escolas Estaduais Onzieme Rosado Fernandes Maia, Paulo
Freire e Sólon Moura ficaram para ser contempladas na próxima etapa do
projeto de extensão em que se discute a importância e a atualidade do
pensamento de Josué de Castro em escolas públicas municipais e
estaduais do município de Mossoró/RN. Devido a impedimento em razão da
greve docente da rede estadual de ensino do Estado do Rio Grande do
Norte, deflagrada no início do mês de março de 2008, apenas 78,5% das
escolas contempladas puderam ser visitadas, embora na rede municipal
100% das unidades de ensino foram visitadas e na rede estadual 57,1%
puderam ser assistidas pela equipe que faz projeto de extensão sobre
Josué de Castro, o qual se encontra inserido em pauta de trabalho
docente do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e
Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
Quando o calendário marcar o dia vinte e quatro de setembro de 2013
assinalar-se-á a triste cronologia referente aos quarenta anos de
falecimento no exílio na França do médico, geógrafo, sociólogo e
cidadão do mundo Dr. Josué Apolônio de Castro.
           O célebre autor de Geografia da Fome (1946) e Geopolítica
da Fome (1951) integrou a lista dos cassados políticos pela Ditadura
Militar quando da publicação do Ato Institucional Número Um (AI-1), o
qual, além de Josué de Castro, trazia ainda nomes que também foram
banidos do país e que tiveram grande importância política, social e
intelectual no Brasil antes do advento do militarismo, a exemplo de
Leonel Brizola, Juscelino Kubitschek de Oliveira, Jânio Quadros, João
Goulart, Neiva Moreira, Pelópidas Silveira, Miguel Arraes, entre
outros.
            Josué de Castro recebeu convites de diversos países para
que cumprisse o exílio de dez anos imposto arbitrariamente pela junta
militar que assumiu o poder em primeiro de abril de 1964 em nosso
país. Escolheu a França para vivenciar sua desdita, tendo em vista que
era muito apegado às raízes, ao solo pátrio, ao nordeste brasileiro e
ao Estado de Pernambuco.
            O grande cientista que presidiu o Fundo das Nações Unidas
para a Agricultura e Alimentação (FAO) em duas oportunidades
(1952-1954 e 1954-1956), tendo sido laureado com significativas
honrarias, como o Prêmio Internacional da Paz e o Prêmio Roosevelt da
Academia de Ciências dos Estados Unidos, pela publicação do clássico
livro Geografia da Fome, além de indicado duas vezes para concorrer ao
Prêmio Nobel da Paz, considerava-se injustiçado pelos militares quando
de sua cassação e exílio.
                Josué de Castro passou a sofrer graves crises depressivas
em seu ostracismo em terras estrangeiras, não obstante ter
intensificado a luta humanista e voltado a lecionar em renomadas
Instituições de Ensino Superior Francesas, como a Sorbonne e
Vincennes.
                No Brasil, suas obras estavam censuradas, seu nome proibido
e vítima de espetacular processo de exclusão da memória nacional, a
qual ainda, infelizmente, perdura como resquício das imposições
ditatoriais dos militares, cuja visão reacionária vislumbrava Josué de
Castro como “inimigo da pátria”, um verdadeiro “traidor” dos ideais
alicerçados na Ordem e no progresso, tendo em vista a forma incisiva
como meteu o dedo na ferida das desigualdades, denunciando a fome como
um flagelo fabricado pelos homens contra seus próprios semelhantes e
não resultado de “causas naturais” como era pensado pela Ciência
distorcida que orientava a construção social em sua época.
                Mesmo no exílio, Josué de Castro era monitorado pela
Ditadura Militar, a qual o enxergava como “notório comunista”, pois
suas idéias, independência e ousadia eram vistas como ameaças ao
sistema instituído em abril de 1964, cuja ideologia desenvolvimentista
primava pelo privilégio de uma minoria historicamente beneficiada em
detrimento das necessidades da imensa maioria deserdada ao longo da
evolução Histórica e Social Brasileira.
            As crises depressivas da maior inteligência brotada em
solo brasileiro intensificaram-se em razão das constantes negativas da
Embaixada Brasileira em dar visto em seu passaporte, o que garantiria
retorno à sua terra natal. O Embaixador Brasileiro na França que se
notabilizou pela intransigência de não permitir o retorno de Josué de
Castro ao Brasil era o General Aurélio Lyra Tavares.
            Faltando menos de sete meses para que se cumprisse o tempo
de exílio determinado pelo AI-1, no caso dez longos anos, falhava
irremediavelmente o coração do velho batalhador pelas justas causas da
humanidade.
           Josué de Castro faleceu em seu apartamento na capital
francesa. Mesmo morto, os militares ainda viam em Josué de Castro
ameaça à ordem estabelecida, pois houve uma série de exigências, como
a proibição de fotografias, para que se efetivasse a permissão dos
militares para que seu corpo fosse enterrado no cemitério São João
Batista no Rio de Janeiro.
          A atualidade do pensamento de Josué de Castro ainda assusta
a elite dominante, tendo em vista que ainda permanece desconhecido de
grande parte da população brasileira por quem tanto batalhou e
empenhou sua vida a fim de lutar por melhores condições de vida para
um povo sofrido que, mais do que nunca, espera por melhores dias que
possam permitir usufruto de existência digna dentro dos padrões
humanitários que foram intensamente pregados pelo valente pernambucano
que nas décadas de cinquenta e sessenta do século passado tornou-se
uma das mais importantes personalidades do planeta graças a defesa
célebre da valorização do gênero humano em todas as dimensões.
REFERÊNCIAS
CARDOSO, José Romero Araújo; MENDES, Benedito Vasconcelos. “Discutindo
a Importância da Atualidade do Pensamento de Josué de Castro em
Escolas das Redes Estadual e Municipal de Ensino do Município de
Mossoró - Estado do Rio Grande do Norte”. Mossoró/RN, PROEX/UERN, 2008
(Projeto de Extensão)
CASTRO, Anna Maria de (org.). Fome: um tema proibido - últimos
escritos de Josué de Castro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2003
CASTRO, Josué Apolônio de. Geografia da Fome – O dilema brasileiro –
Pão ou Aço. 10 ed. Revista. Rio de Janeiro: Edições Antares, 1984
_____. Geopolítica da Fome – Ensaio sobre os problemas de alimentação
e de população no mundo. 4 ed. Revista e aumentada. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1957, vol. 1 e 2
____. O livro negro da fome. São Paulo: Editora Brasiliense, 1957.
_____. Ensaios de Geografia Humana. São Paulo: Editora Brasiliense, 1957
¬¬¬¬_____. Ensaios de Biologia Social. São Paulo: Editora Brasiliense, 1957
_____. Homens e Caranguejos. Porto: Editora. Brasília, 1967
MENEZES, Francisco R. de Sá. Josué de Castro: Por um mundo sem fome.
São Paulo: Mercado Cultural, 2004. 120p. il. (Projeto Memória, 8)
CASTRO, Josué de. Disponível em .<
http://www.josuedecastro.org.br/jc/jc.html.> . Acesso em 22 de janeiro
de 2013
"Geografia da Fome", de Josué de Castro, faz 60 anos. Disponível em
<http://www.fomezero.gov.br/noticias/geografia-da-fome-de-josue-de-castro-faz-quarenta-anos.>
Acesso em 22 de janeiro de 2013
TENDLER, Sílvio. Josué de Castro - Cidadão do Mundo.[Vídeo
–documentário]. Rio de Janeiro: Bárbaras Produções, 1996

BENEDITO VASCONCELOS MENDES

Graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal do Ceará
(1969), Mestrado em Microbiologia Agrícola pela Universidade Federal
de Viçosa (1975) e Doutorado em Agronomia (Fitopatologia) pela
Universidade de São Paulo (1980). Atualmente é professor adjunto IV da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.Ex-presidente da Empresa
de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN), ex-chefe
geral da EMBRAPA MEIO NORTE, em Teresina-PI, ex-presidente da Fundação
de Pesquisa Guimarães Duque e atual Superintendente Federal de
Agricultura no Estado do Rio Grande do Norte. Publicou vários livros
sobre o desenvolvimento regional, entre eles: Alternativas
tecnológicas para a agropecuária do Semi-Árido (Ed. Nobel, São Paulo),
Plantas e animais para o Nordeste (Ed. Globo, Rio de Janeiro) e
Biodiversidade e desenvolvimento sustentável do Semi-Árido (editado
pela SEMACE, Fortaleza-CE).

JOSÉ ROMERO ARAÚJO ROMERO

Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB-1996) e em
Organização de Arquivos (UFPB - 1997). Mestre em Desenvolvimento e
Meio Ambiente pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(2002). Atualmente é professor adjunto IV do Departamento de
Geografia/DGE da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais/FAFIC da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/UERN. Tem experiência na
área de Geografia Humana, com ênfase à Geografia Agrária, atuando
principalmente nos seguintes temas: ambientalismo, nordeste, temas
regionais. Espeleologia é tema presente em pesquisas.


Enviado por: José Romero Cardoso

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