Por: Rangel Alves da Costa(*)
DEPOIS
DA CURVA DA ESTRADA
Se estrada
significa caminho, direção, partida, sua curva – ainda que apenas uma – possui
uma significação muito maior, mais instigante e misteriosa.
Quando a
pessoa fala em abrir cancela, pegar a estrada e seguir adiante, diz apenas da
viagem, mas não do que poderá avistar ou encontrar no meio do percurso. E
sempre haverá muito mais além de pedras no meio do caminho.
Como
geralmente todo caminho não é em linha reta, de modo que da cancela se possa
avistar a trilha até ir afinando e sumir, possuindo mudanças de direção mais
adiante, daí é que surge a importância de suas curvas, da curva da estrada.
Sinuosidades no passo, recurvas da existência.

Toda curva de
estrada desperta profundo mistério no viajante. Existe, está adiante, será
preciso segui-la, mas nem todos sabem o que podem encontrar. Mas não apenas
isto, pois, a um só tempo, é também poesia, tristeza, mágoa, decisão, saudade,
medo, temor, coragem, determinação.
Que bom se
bastasse colocar o pé na estrada e seguir trilhando destino. Vai caminhando,
reconhecendo tudo ao redor, mas logo fica pensativo quando avista a primeira
curva. O que haverá depois dela?
A estrada é
áspera, dura, empoeirada, de terra quente, cheia de pedras e espinhos, nada
fácil de caminhar. Mas adiante, depois da curva da estrada, talvez os olhos não
acreditem, mas logo avistarão flores do campo crescendo ao lado de gramíneas
verdejantes.
Pela estrada,
a paisagem é triste, cinzenta, seca, com mataria retorcida e galhos se
quebrando ao sabor do sol e do vento. As folhas secas voam longe, a poeira
turva o olhar. Não sabe que depois da curva da estrada, como se estivesse
noutro lugar, logo passa a sentir a força da natureza, o canto dos pássaros, a
brisa amena.
Saiu de casa
entristecido, com lágrimas derramadas, o coração querendo despedaçar. Nunca
havia partido, saído de casa para viagem longa, até mesmo sem saber quando vai
voltar. Tudo é dor, aflição, uma vontade danada de retornar. Até que vira a
curva da estrada e começa a sentir que a vida é feita de desafios, que tem de
ser forte para seguir adiante. Enxuga os olhos e suspira. Ouve uma melodia
chegando no vento.
Sempre temeu
partir um dia, viajar, arriscar a vida noutro lugar. Fez a mala forçadamente,
se despediu da família sem coragem de olhar nos olhos de ninguém. Abriu a
cancela sem olhar para os lenços acenando atrás. Caminhava distante de si mesmo
e de tudo, nem parecia que tinha de pensar no que fazer adiante. Virou a curva
da estrada sem perceber, mas só até avistar um passarinho fazendo sua casinha
de barro num pé de pau. Tanto queria assim, tanto queria construir um lar.
Então mirou adiante e apressou o passo em busca de seu objetivo na vida.
A mãe dizia
que a menina tivesse cuidando enquanto brincasse lá fora, que prestasse muita
atenção para não ir além da curva da estrada. Mas a menina sequer já havia
chegado à curva do caminho. Até que um dia, lembrando os conselhos mas com a
intenção de descumpri-los, correu mais longe e de repente já estava além do
lugar. Caminho cheio de pedras; caiu e se machucou. Voltou chorando e arrependida.
Ouviu da mãe que ainda estava muito novinha e despreparada para ir além da
curva de qualquer estrada.

O cachorro
correu e virou na curva da estrada. O menino ia correndo atrás quando o pai
gritou que esperasse o cachorro retornar para saber o que havia ali adiante.
Acaso não voltasse assustado, então podia seguir até lá. E depois falou sobre
os seus temores: a estrada é conhecida, a curva é logo ali, mas o desconhecido
se esconde ou espera em qualquer lugar.
Quais lições,
então, surgem desses encontros e confrontos com as estradas e suas curvas?
Muitas, todas. Como nem conhecemos bem a estrada em que caminhamos, assentamos
nossos pés e temos de seguir, melhor será sempre temer o que está além,
adiante. Espere sempre encontrar um jardim. E tente avistar a flor em meio aos
labirintos.
(*) Meu nome é
Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no
município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito
na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também
História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou
autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e
"Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas
Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em
"Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros
contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e
"Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada
sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão -
Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do
Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor:
Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e
cronista
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