Por Adinalzir Pereira Lamego
O Rio de
Janeiro cresceu do acidente geográfico denominado Morro do Castelo em 1567. Os
portugueses liderados por Estácio e Mem de Sá estavam instalados há um tempo no
Morro Cara de Cão, tentando conquistar a região habitada pelos índios tamoios.
Tinham tudo para perder porque chegaram depois dos colonos franceses liderados
por Villegagnon, que, na época, já conviviam em certa tranqüilidade com os
indígenas locais. Mas acabaram levando a melhor e, por questões estratégicas,
acabaram se estabelecendo no alto de uma colina inicialmente intitulada Morro
do Descanso. Após erguer muros e batizar os principais pontos da cidadela, o
Descanso chamou-se Morro do Castelo em homenagem a Fortaleza de São Sebastião
que mais parecia o palácio real.
O Morro do
Castelo abrigava uma cidade feudal com aproximadamente 600 pessoas, entre eles
colonos portugueses, jesuítas, índios catequizados, remanescentes franceses
apaziguados e pouquíssimas mulheres. Sua entrada era feita de início somente
através da Ladeira da Misericórdia que é o primeiro e mais antigo logradouro do
Rio de Janeiro. Apesar de não ter permanecido com sua extensão integral, foi a
única parte poupada da destruição no Morro do Castelo. Pena que a rua hoje
passe tão batida aos olhos daqueles que trafegam no Centro do Rio, já que ali
também se situa a Igreja construída no século XVIII Nossa Senhora do Bonsucesso
valendo um bom passeio.
Além do Largo
da Misericórdia, os limites do Morro do Castelo ficavam onde hoje estão
situadas as ruas São José, Santa Luzia e México. No alto do morro, ficava a
Casa do Governador, a Cadeia e o Edifício da Câmara, Igreja de São Sebastião e
a Igreja e Colégio dos Jesuítas. Apesar de serem expulsos em 1759 pelo Marquês
de Pombal, os jesuítas deixaram para a população a Lenda do Morro do Castelo, que se
referia a um tesouro oculto em túneis e galerias secretas erguidas pelos padres
da Ordem.
Os moradores obtinham isenção nos impostos para construir suas casas e povoar a região que foi crescendo rapidamente. Em poucas décadas, a elite descia o morro, deixando a região exclusivamente para a população menos favorecida. Quando a família real chegou ao Brasil em 1808, os cariocas já ocupavam a área do Centro até a região do Valongo e Morro da Conceição. Nesta época, inclusive, já se cogitava um plano de urbanização que derrubasse morros para facilitar a circulação dos ventos e o melhor escoamento aquaviário daquela área.
A cidade foi crescendo e mudando de cara, especialmente após as reformas de Pereira Passos. Infelizmente, estas reformulações não contemplavam o Morro do Castelo. Para a abertura da Avenida Rio Branco em 1905, parte do morro foi abaixo. O tiro de misericórdia veio em 1922, quando o prefeito do então Distrito Federal Carlos Sampaio decretou a demolição do Morro do Castelo com a justificativa de arejar a cidade e obter mais espaço para aExposição do Centenário da Independência.
Curiosamente,
apenas o paulista Monteiro
Lobato se posicionou publicamente contra a derrubada na época. A
população que ali morava foi transferida para os subúrbios da cidade e por
essas e outras remoções foi se delineando a geografia urbana das favelas que
todos nós hoje conhecemos.
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