segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

LÁGRIMAS POLÍTICAS (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

LÁGRIMAS POLÍTICAS

Não se trata de abordagem acerca das dores, lágrimas e sofrimentos impingidos aos políticos derrotados nas últimas eleições. A estes a aprendizagem através das forças e mecanismos utilizados pelos adversários e até partidários para suplantá-los no voto.

Abordará, isto sim, sobre as lágrimas políticas dos eleitos, aqueles que vitoriosamente conseguiram chegar às prefeituras e câmaras de vereadores. Contudo, por extensão, servirá também como análise dos reclamos e pesares exarados pelos governantes nas outras esferas de poder. No presente e no passado.

Ora, torna-se até paradoxal que alguém tanto lute, trave uma batalha insana, invista no desejo todas as forças que tem, objetivando simplesmente ter como um fardo a sua conquista.  Todo aquele que luta o faz pensando em obter os louros da vitória, sair do embate com mais força, poder e os lucros adjacentes. Mas com a luta política parece ser diferente.


E diferente porque dificilmente um vitorioso – principalmente se eleito para administrar um município – vê o reconhecimento alcançado nas urnas como algo positivo, proveitoso, importante passo para grandes realizações em prol da população. Pelo contrário, quase unanimemente se tem o eleito logo afirmando que vai administrar ruínas, restos, escombros. Quer dizer, se mostra envolto em infortúnios.

O que acontece em seguida é ainda mais lamentável, para não dizer absurdo. Assim que assume o mandato e começa a tomar pé da real situação encontrada, então começa um chororô de não acabar mais. E vai espalhando que encontrou o município totalmente falido, com débitos impagáveis, prédios destruídos, equipamentos e frotas imprestáveis. Enfim, praticamente não tem como administrar porque o município nada tem.

Fato lamentável é que essa ladainha se repete toda vez que um eleito assume o poder. Talvez não haja, em toda história política brasileira, um só prefeito que não procure, através da culpabilização das gestões anteriores, logo se justificar pelo nada que possa fazer dali em diante. E ocorre até com os reeleitos, vez que estes vão buscar em problemas naturais como secas e enchentes, as devidas desculpas pela sua renovada incapacidade.

Daí ser necessário voltar à situação explicitada acima para indagar: por que entram na disputa com tanta sede, utilizam dos mecanismos os mais abomináveis possíveis, às escondidas compram votos e lideranças, distribuem alimentos e pagam consultas e medicamentos, gastam rios e mais rios dedinheiro para chegar a um poder que nada tem? Por outras palavras, por que vencer para o sofrimento?

Masoquistas, adeptos da autoflagelação, chamando para si todas as dores e sofrimentos que alardeiam existentes, assim podem ser vistos os políticos eleitos que fazem da vitória, da chegada ao poder, um contrassenso ao que pregaram perante o s eleitores. Duvido que qualquer deles tenha, antes do pleito, coragem de afirmar que mesmo eleito não poderá fazer nada pelo município, pois o mesmo vive em situação de absoluta miséria, humana e administrativa.

Outro aspecto que os chorões precisam devidamente explicar diz respeito às fortunas gastas para serem alçados às casas dos sofrimentos, das lamúrias e flagelações, que são os legislativos e os executivos. Verdade é que se torna difícil explicar por que e para que gastam tanto dinheiro se tudo isso só lhes trará sofrimento, lágrimas perante a população, constrangimentos para justificar suas impossibilidades de realizar.

Não precisa ser matemático para fazer um cálculo que torna ainda vexatória, senão vergonhosa, a situação dos eleitos chorões. Basta somar, por exemplo, o quanto um prefeito poderá receber como salário nos quatro anos de administração e logo se chegará à conclusão de que os gastos de sua campanha são absurdamente maiores. E por que pagam tão caro pelo sofrimento?

Verdadeiramente, dá pena, causa aflição, ver ou ouvir os coitadinhos falando, dando entrevistas para dizer que encontraram o município um caos e que por isso mesmo vão decretar estado de emergência para tentar resolver a situação. É triste demais vê-los se derramando em lágrimas, com tantas dores e sofrimentos pelo seu povo. Acredita?


Não pretendendo fazer ilações, até porque a população eleitora sempre presume que a confiança depositada no eleito o afastará das tentações do poder, das improbidades e corrupções. Ainda assim não deixo de presumir que aja algo muito especial, atrativo demais, verdadeiramente encantador – coisa realmente misteriosa -, para que o político queira tanto esse sofrimento do poder.

Como depois da lágrima geralmente vem o sorriso, só resta imaginar que os sofredores de hoje amanhã tenham motivos para a alegria. E também para reaver os gastos de campanha e assegurar um pouquinho mais ao tão pouco que ganham. E que felicidade íntima. Mas as mesmas lamúrias diante da população.
  
(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.


Poeta e cronista
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