Por: Rangel Alves da Costa(*)
LÁGRIMAS
POLÍTICAS
Não se trata de
abordagem acerca das dores, lágrimas e sofrimentos impingidos aos políticos
derrotados nas últimas eleições. A estes a aprendizagem através das forças e
mecanismos utilizados pelos adversários e até partidários para suplantá-los no
voto.
Abordará, isto
sim, sobre as lágrimas políticas dos eleitos, aqueles que vitoriosamente
conseguiram chegar às prefeituras e câmaras de vereadores. Contudo, por
extensão, servirá também como análise dos reclamos e pesares exarados pelos
governantes nas outras esferas de poder. No presente e no passado.
Ora, torna-se
até paradoxal que alguém tanto lute, trave uma batalha insana, invista no
desejo todas as forças que tem, objetivando simplesmente ter como um fardo a
sua conquista. Todo aquele que luta o faz pensando em obter os
louros da vitória, sair do embate com mais força, poder e os lucros adjacentes.
Mas com a luta política parece ser diferente.
E diferente
porque dificilmente um vitorioso – principalmente se eleito para administrar um
município – vê o reconhecimento alcançado nas urnas como algo positivo,
proveitoso, importante passo para grandes realizações em prol da população.
Pelo contrário, quase unanimemente se tem o eleito logo afirmando que vai
administrar ruínas, restos, escombros. Quer dizer, se mostra envolto em
infortúnios.
O que acontece
em seguida é ainda mais lamentável, para não dizer absurdo. Assim que assume o
mandato e começa a tomar pé da real situação encontrada, então começa um
chororô de não acabar mais. E vai espalhando que encontrou o município totalmente
falido, com débitos impagáveis, prédios destruídos, equipamentos e frotas
imprestáveis. Enfim, praticamente não tem como administrar porque o município
nada tem.
Fato
lamentável é que essa ladainha se repete toda vez que um eleito assume o poder.
Talvez não haja, em toda história política brasileira, um só prefeito que não
procure, através da culpabilização das gestões anteriores, logo se justificar
pelo nada que possa fazer dali em diante. E ocorre até com os reeleitos, vez
que estes vão buscar em problemas naturais como secas e enchentes, as devidas
desculpas pela sua renovada incapacidade.
Daí ser
necessário voltar à situação explicitada acima para indagar: por que entram na
disputa com tanta sede, utilizam dos mecanismos os mais abomináveis possíveis,
às escondidas compram votos e lideranças, distribuem alimentos e pagam
consultas e medicamentos, gastam rios e mais rios dedinheiro para chegar a
um poder que nada tem? Por outras palavras, por que vencer para o sofrimento?
Masoquistas,
adeptos da autoflagelação, chamando para si todas as dores e sofrimentos que
alardeiam existentes, assim podem ser vistos os políticos eleitos que fazem da
vitória, da chegada ao poder, um contrassenso ao que pregaram perante o s
eleitores. Duvido que qualquer deles tenha, antes do pleito, coragem de afirmar
que mesmo eleito não poderá fazer nada pelo município, pois o mesmo vive em
situação de absoluta miséria, humana e administrativa.
Outro aspecto
que os chorões precisam devidamente explicar diz respeito às fortunas gastas
para serem alçados às casas dos sofrimentos, das lamúrias e flagelações, que
são os legislativos e os executivos. Verdade é que se torna difícil explicar
por que e para que gastam tanto dinheiro se tudo isso só lhes trará sofrimento,
lágrimas perante a população, constrangimentos para justificar suas
impossibilidades de realizar.
Não precisa
ser matemático para fazer um cálculo que torna ainda vexatória, senão
vergonhosa, a situação dos eleitos chorões. Basta somar, por exemplo, o quanto
um prefeito poderá receber como salário nos quatro anos de administração e logo
se chegará à conclusão de que os gastos de sua campanha são absurdamente
maiores. E por que pagam tão caro pelo sofrimento?
Verdadeiramente,
dá pena, causa aflição, ver ou ouvir os coitadinhos falando, dando entrevistas
para dizer que encontraram o município um caos e que por isso mesmo vão
decretar estado de emergência para tentar resolver a situação. É triste demais
vê-los se derramando em lágrimas, com tantas dores e sofrimentos pelo seu povo.
Acredita?
Não
pretendendo fazer ilações, até porque a população eleitora sempre presume que a
confiança depositada no eleito o afastará das tentações do poder, das
improbidades e corrupções. Ainda assim não deixo de presumir que aja algo muito
especial, atrativo demais, verdadeiramente encantador – coisa realmente
misteriosa -, para que o político queira tanto esse sofrimento do poder.
Como depois da
lágrima geralmente vem o sorriso, só resta imaginar que os sofredores de hoje
amanhã tenham motivos para a alegria. E também para reaver os gastos de
campanha e assegurar um pouquinho mais ao tão pouco que ganham. E que
felicidade íntima. Mas as mesmas lamúrias diante da população.
(*) Meu nome é
Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no
município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito
na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também
História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou
autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e
"Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas
Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em
"Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros
contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e
"Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada
sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão -
Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do
Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor:
Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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