sábado, 29 de dezembro de 2012

PERIPÉCIAS DO AMOR (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

PERIPÉCIAS DO AMOR

O desejo amoroso é bicho danado demais. Ainda que o outro não saiba – e nem precise nem possa saber -, se instala por dentro, bem na porta do coração, e fica só manejando a chave, futucando, querendo entrar.

Quem já não se sentiu assim atire a primeira pedra, mas não na minha janela. Mente, renega desejos deslavadamente. Ainda que ninguém saiba, até mesmo porque segredo guardado a sete chaves, mas todo mundo já se viu despertado por paixões de difíceis ou impossíveis correspondências.
Ama quem jamais imaginaria ser objeto de tanto amor; deseja como nem o amor do outro consegue desejar; se vê na posse, em situações carinhosas, em beijos e abraços, ainda que tenha certeza da impossibilidade de ao menos tocar a face. E basta que o outro passe adiante que o coração começa a ser passarinho.


Quem sofre são os olhos, quem padece são os sentimentos, quem entorpece é o âmago, quem fica dilacerado é o coração. É tudo tão bom e tão ruim, uma indescritível alegria e uma angústia desenfreada, uma sensação de encantamento e outra de desencantamento, um querer ser passarinho pra estar pertinho e também a sensação da faltar as asas.

O corpo em si, e todo, tudo faz para parecer sempre em situação normal. A pele ruboriza e diz que é o calor abrasante; as pernas trêmulas querem seguir e ficar; a mão quer levantar em sinal, em aceno; a boca ensaia um beijo. E os olhos, o peito, o íntimo, a vontade danada de tudo. E nada...

Em certo momento do dia, num horário costumeiro, quando já conhece o itinerário da pessoa desejada, então começa a via-crúcis, o caminho do amor e da perdição. Põe-se à janela esperando passar, fica na esquina fingindo uma coisa qualquer, sai pro meio da rua, pro meio do tempo, para se aproximar, inventa situação, quer revelar o que sente. Mas não pode...
E não pode porque isso sempre acontece quando o amor é realmente muito difícil ou impossível de acontecer. Não é raro que alguém se apaixone por pessoa casada e que viva em perfeita comunhão conjugal, que queira beijar ao menos uma vez quem já está em firme compromisso, que se sinta completamente perdido de amores por quem lhe desdenha, ignora, discrimina, vaidosamente desfaz dos sentimentos.

O pior é que não para por aí não. Verdadeiras loucuras, laivos de insanidades também acontecem. Num tempo já distante alguém saiu por aí à procura de Scarlett O’Hara, aquela mesma que Rhett Butler fez de gato e sapato em ...E o Vento Levou. Um baiano enlouqueceu de tanto procurar a personagem de Sônia Braga dentro de um ônibus, pensando em fazer com ela qualquer daquelas cenas do filme A Dama do Lotação.

Tem gente que ama se jamais ter se aproximado da pessoa desejada. Esta nem sabe de sua existência, mas aquela sofre a cada dia e a cada momento. Acredita em destino, em promessa divina para unir corações. Vão envelhecendo sem alquebrar, sem desfalecer o amor, pois este permanece cada vez mais senhor do que deseja encontrar. Muitas vezes o destino ajuda mesmo e em diversas situações a velhice une quem esteve separado a maior parte da vida.

Eu sou daqueles que de tão apaixonados começam intencionalmente a escrever. São poemas, cartas, contos, romances, palavras soltas, muitas palavras, pois amo demais. Sei quem eu quero que leia. Em cada verso ou frase há um nome oculto, em cada entrelinha há uma declaração de amor. Sei bem que mais fácil seria dedicar de vez, tomar coragem para dizer a quem se endereça. Impossível, pois amo também ocultamente...


E há muita verdade quando afirmo que amo demais. Amo quem já foi meu amor (jamais esquecerei quem me deu a dádiva de estar feliz), amo quem eu poderia estar amando, amo quem não quer me amar, amo quem finge que não me conhece, não me olha, não me vê. E amo mais ainda quem confia no meu amor, que está ao meu lado, e que talvez não importe por eu amar tanto assim. E amo você. Sim. Você. Aceite ou não, eu te amo.
  
(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.


Poeta e cronista
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