Por: Rangel Alves da Costa(*)
PERIPÉCIAS
DO AMOR
O desejo
amoroso é bicho danado demais. Ainda que o outro não saiba – e nem precise nem
possa saber -, se instala por dentro, bem na porta do coração, e fica só
manejando a chave, futucando, querendo entrar.
Quem já não se
sentiu assim atire a primeira pedra, mas não na minha janela. Mente, renega
desejos deslavadamente. Ainda que ninguém saiba, até mesmo porque segredo
guardado a sete chaves, mas todo mundo já se viu despertado por paixões de
difíceis ou impossíveis correspondências.
Ama quem
jamais imaginaria ser objeto de tanto amor; deseja como nem o amor do outro
consegue desejar; se vê na posse, em situações carinhosas, em beijos e abraços,
ainda que tenha certeza da impossibilidade de ao menos tocar a face. E basta
que o outro passe adiante que o coração começa a ser passarinho.

Quem sofre são
os olhos, quem padece são os sentimentos, quem entorpece é o âmago, quem fica
dilacerado é o coração. É tudo tão bom e tão ruim, uma indescritível alegria e
uma angústia desenfreada, uma sensação de encantamento e outra de
desencantamento, um querer ser passarinho pra estar pertinho e também a
sensação da faltar as asas.
O corpo em si,
e todo, tudo faz para parecer sempre em situação normal. A pele ruboriza e diz
que é o calor abrasante; as pernas trêmulas querem seguir e ficar; a mão quer
levantar em sinal, em aceno; a boca ensaia um beijo. E os olhos, o peito, o
íntimo, a vontade danada de tudo. E nada...
Em certo
momento do dia, num horário costumeiro, quando já conhece o itinerário da
pessoa desejada, então começa a via-crúcis, o caminho do amor e da perdição.
Põe-se à janela esperando passar, fica na esquina fingindo uma coisa qualquer,
sai pro meio da rua, pro meio do tempo, para se aproximar,
inventa situação, quer revelar o que sente. Mas não pode...
E não pode
porque isso sempre acontece quando o amor é realmente muito difícil ou
impossível de acontecer. Não é raro que alguém se apaixone por pessoa casada e
que viva em perfeita comunhão conjugal, que queira beijar ao menos uma vez quem
já está em firme compromisso, que se sinta completamente perdido de amores por
quem lhe desdenha, ignora, discrimina, vaidosamente desfaz dos sentimentos.
O pior é que
não para por aí não. Verdadeiras loucuras, laivos de insanidades também
acontecem. Num tempo já distante alguém saiu por aí à procura de Scarlett
O’Hara, aquela mesma que Rhett Butler fez de gato e sapato em ...E o Vento Levou. Um baiano enlouqueceu
de tanto procurar a personagem de Sônia Braga dentro de um ônibus, pensando em
fazer com ela qualquer daquelas cenas do filme A Dama do Lotação.
Tem gente que
ama se jamais ter se aproximado da pessoa desejada. Esta nem sabe de sua
existência, mas aquela sofre a cada dia e a cada momento. Acredita em destino,
em promessa divina para unir corações. Vão envelhecendo sem alquebrar, sem
desfalecer o amor, pois este permanece cada vez mais senhor do que deseja
encontrar. Muitas vezes o destino ajuda mesmo e em diversas situações a velhice
une quem esteve separado a maior parte da vida.
Eu sou
daqueles que de tão apaixonados começam intencionalmente a escrever. São
poemas, cartas, contos, romances, palavras soltas, muitas palavras, pois amo
demais. Sei quem eu quero que leia. Em cada verso ou frase há um nome oculto,
em cada entrelinha há uma declaração de amor. Sei bem que mais fácil seria
dedicar de vez, tomar coragem para dizer a quem se endereça. Impossível, pois
amo também ocultamente...

E há muita
verdade quando afirmo que amo demais. Amo quem já foi meu amor (jamais
esquecerei quem me deu a dádiva de estar feliz), amo quem eu poderia estar
amando, amo quem não quer me amar, amo quem finge que não me conhece, não me
olha, não me vê. E amo mais ainda quem confia no meu amor, que está ao meu
lado, e que talvez não importe por eu amar tanto assim. E amo você. Sim. Você.
Aceite ou não, eu te amo.
(*) Meu nome é
Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no
município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito
na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também
História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou
autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e
"Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas
Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em
"Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros
contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e
"Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada
sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão -
Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do
Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor:
Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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