Por: Rangel Alves da Costa(*)
DIA
21: OS SINAIS DO FIM DO MUNDO
Após a
meia-noite do dia 21, os sinais do fim do mundo ocorrerão de momento a momento,
seguidamente. Até...
Se no meio da
noite o telefone tocar, é bom
orar antes de atendê-lo. Nessas horas, até o amanhecer, dificilmente um
telefone toca para avisar coisa boa. E se algum parente já estava muito doente,
então. Pode ter sido o fim do mundo pra ele.
Os sinais são
mais que visíveis ao tentar retornar para casa no meio da noite, madrugada
adentro. Nas esquinas, nos becos, nos lugares mais inesperados, a bandidagem
poderá estar à espreita para decretar o fim dos tempos de quem pensa que
caminha em segurança.
Trovoada,
tempestade ou vendaval na madrugada é um péssimo sinal, principalmente se a
casa está com a estrutura danificada, telhado precisando ser reformado, paredes
alquebradas pelo tempo. De hora pra outra pode ser o fim do mundo pra toda
família.
A certa hora,
já próximo ao amanhecer, a pessoa rola de lado a outro na cama com uma dor
terrível no peito. Uma dorzinha que surgia e desaparecia, e por ser assim
jamais despertou maiores cuidados. Com a respiração ofegante, a dor ainda mais
acentuada, nem consegue falar ao telefone para pedir socorro. O descuido com a saúde
acaba sendo o fim de muita gente.
Se conseguir,
contudo, atravessar a madrugada sem o fim do mundo chegar, certamente levantará
preparado para o que vier daí em diante. E isto implica, infelizmente, ter a
certeza que ainda que seu mundo aparentemente não corra perigo, ainda assim o
fim já chegou ou está chegando para uma imensidão de pessoas.
Ao abrir a
janela, o alvorecer encantador não significa absolutamente nada, pode ser
apenas uma ilusão; a paisagem em perfeita harmonia pode estar guardando segredos
em seu âmago; a normalidade da manhã, a continuidade da vida, tudo isso poderá
desandar no momento seguinte.
Basta fechar
os olhos e imaginar-se noutras paisagens, noutros locais e cenários para
enxergar o quanto o mundo foi cruel para tantas pessoas que naquele momento
tiveram o seu fim. Crianças africanas mortas de fome e de sede, espalhadas
pelos descampados da brutalidade da vida.
Os guerreiros,
ou suicidas de toda guerra sem causa, já não conseguem sair de suas
trincheiras, apertar o gatilho, mirar o inimigo. São vítimas de si mesmos e da
errônea crença que batalhas, guerras e revoluções desumanas produzem algo útil
nas suas vidas. E não precisou que nada descesse de cima para ceifar o destino,
pois apenas colhem a morte semeada.
Ainda é cedo,
mas desde as primeiras horas do dia que as famílias choram os seus mortos.
Acertos de contas de drogas
deixaram suas vítimas nas vielas imundas, da imunda vida imposta pelos vícios e
tráficos. As overdoses chegaram famintas e cruéis naquela noite. Muitos se
jogaram de cima, bem do alto de qualquer lugar, num voo perdido em busca do
papelote, da última grama, da pedra mortal.
Ainda é manhã
e ainda nem se imagina quantos jazem nesse que foi o último dia de suas vidas.
Para estes os sinais do fim do mundo chegaram terrivelmente, mas muitos outros
continuam reféns do que possa acontecer dali em diante. Porque tudo é
invisível, quase silencioso, reconhecido apenas no grito de dor que irrompe.

Nesse dia nada
cairá do céu para ferir ou matar. Nenhuma espada de fogo, nenhuma fenda se
abrindo, nenhuma chuva de meteoritos. Na terra mesmo o ser humano se incumbirá
de ser seu próprio algoz, do próximo e até do desconhecido. Em todo lugar há
uma discussão, uma briga, uma violência, uma demonstração de força, uma morte.
Há ainda a violência no trânsito, a violência das injustiças e arbitrariedades.
E tudo isso mata.
Tais são,
pois, os sinais do fim dos tempos. O dia 21 de dezembro de 2012 apenas
simbolizará o final do que já vem sendo destruindo há muito. Mas não será nesse
dia o ponto final, pois o homem – e é tão próprio dele – quer ter a capacidade
de ele mesmo destruir tudo. E de uma vez por todas.
(*) Meu nome é
Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no
município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito
na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também
História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou
autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e
"Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas
Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em
"Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros
contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e
"Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada
sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão -
Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do
Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor:
Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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