Adinalzir Pereira Lamego - administrador do blog "Saiba História"
Olá pessoal,
depois de muito tempo sem postar, olha eu aqui de volta, com um texto para
compartilhar! Peço desculpas pelo afastamento. Fico muito feliz em ver o
interesse de todos pela História, e também em saber que ainda existem pessoas
com fome de conhecimento neste complexo mundo de hoje.

Criado no
século XIX, o Colégio Pedro II tinha seus programas estabelecidos pelo governo
imperial.
"Incluir
o Brasil no rol das nações civilizadas: este era o projeto do Império. O Estado
se esforçou para melhorar o nível do ensino superior e implementar a instrução
primária e secundária. A criação do Colégio Pedro II atendia a esse plano do
governo, já que se dedicava à formação da elite brasileira. E a História
ganhava importância: era necessário estudar o Brasil, conhecer sua gênese.
Somente olhando um passado comum seria possível forjar a nacionalidade.
O Brasil vivia
o Período Regencial (1831-1840), quando não havia um imperador de fato e várias
províncias abrigavam movimentos separatistas. Por isso, a unidade do Estado
Imperial estava ameaçada, e a História surge como um elemento capaz de
construir uma “identidade nacional”. Por isso foi criado, em 1838, o Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), sob a proteção do Império, para
ajudar a elaborar uma narrativa sobre o passado nacional que valorizasse os
grandes feitos políticos ligados à monarquia.
O primeiro
regulamento do Colégio Pedro II data do mesmo ano da criação do IHGB, em 31 de
janeiro de 1838. Nele, a História fazia parte do plano de estudos como
disciplina obrigatória. Esse documento incluía a estrutura organizacional e os
fundamentos filosóficos da escola, com seu ensino enciclopédico e acadêmico.
O documento
estabelecia que a duração do curso inicial – equivale ao segundo segmento do
ensino fundamental e ao ensino médio – na instituição seria de oito anos. A
disciplina História era ministrada desde o 3º ano do curso até o final,
considerada uma matéria de peso em um currículo que valorizava a formação
clássica e erudita.
Apesar de ser
uma escola pública, o Colégio Pedro II não era gratuito naquela época. Os
alunos pagavam o honorário do ensino prestado, fixado pelo governo imperial. Os
primeiros alunos ingressaram na instituição por meio de um rigoroso exame de
admissão que prezava a idade, o mérito adquirido e o mérito ingênito, ou seja,
pessoas que possuem um dom inato. Ao completar o curso, os estudantes recebiam
o grau e o diploma de Bacharel em Ciências e Letras, que os habilitava a
ingressar no ensino superior sem prestar exames.
A origem do
Colégio Pedro II remonta ao Seminário dos Órfãos de São Pedro, criado pela
provisão do bispo D. frei Antonio de Guadalupe em 1739, no Rio de Janeiro.
Depois de 27 anos, passou a se chamar Seminário de São Joaquim e exerceu também
a função de escola, representando um polo de cultura. Esse papel ganhou ainda
mais relevância com a expulsão dos jesuítas, em 1759. Sem os religiosos, os
jovens da Colônia ficaram com poucas opções de ensino. A educação era feita em
casa com preceptores ou em seminários ligados às paróquias locais.
O Seminário de
São Joaquim foi transformado em Colégio Pedro II graças a um decreto publicado
em 1837. A iniciativa foi do ministro interino do Império, Bernardo Pereira de
Vasconcellos, durante a Regência de Pedro de Araújo Lima (1793 -1870). O nome
dado à escola foi estratégico, já que dava a ideia de que a instituição
pertencia ao imperador.
A História foi
ganhando espaço em uma articulação singular entre a academia e a escola. Coube
aos historiadores do IHGB, criado em 1838, a missão de pensar e escrever uma
história que construísse a identidade nacional e que fosse lecionada no Colégio
Pedro II. Por causa disso, o ensino da disciplina acabou ficando marcado pela
historiografia acadêmica e nacionalista que vigorava no IHGB.
A produção
didática para a História no Brasil começou, desta forma, dentro da esfera do
Estado – mais precisamente da monarquia –, já que tanto o Colégio como o IHGB
estavam sob a proteção direta do imperador D. Pedro II (1825-1891). Quase todos
os professores do Colégio Pedro II eram, inclusive, sócios do Instituto.
O ministro
Bernardo Pereira de Vasconcellos era quem indicava os professores para as
cátedras do Colégio, uma decisão que tinha que ser aprovada pelo próprio
imperador. Os professores catedráticos tinham status acadêmico e muitos deles
integravam as cadeiras nos níveis de ensino superior e secundário.
Como não havia
instituições que se dedicassem à formação de professores, normalmente eram
selecionados membros da comunidade letrada do Império, como advogados, médicos,
escritores. Era uma elite intelectual basicamente formada no exterior. Entre os
nomes famosos que deram aula no Colégio Pedro II estão os historiadores-autores
Justiniano José da Rocha (1811-1864) e Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882).
A escolha do
material didático também era cuidadosa. O próprio Bernardo Vasconcellos fazia a
seleção dos compêndios – como eram conhecidos os livros didáticos da época. As
primeiras publicações desse tipo foram inicialmente importadas: eram os manuais
franceses de Cayx e Poisson (História Antiga) e os de Rozoir e Dumont (História
Romana). Mais tarde, essas obras foram traduzidas por Justiniano José da Rocha.
O governo
imperial estabelecia ainda os programas de ensino do Colégio. Todos eles
seguiam os ideais do Império de gerir um projeto para uma nação identificada
com o homem branco europeu e cristão. Para desenvolver o trabalho de construir
uma História do Brasil, os intelectuais historiadores do IHGB e do Colégio
Pedro II utilizaram a concepção de História que se constituía na Europa naquele
momento. A escrita era fundamentada em uma história universal, ligada às tradições
iluministas, de cunho científico. Esta modalidade atendia à necessidade de
pesquisar o passado colonial e de valorizar a realidade brasileira sem deixar
de incluir o país na civilização ocidental. Mas o controle não era absoluto.
Afinal, o conteúdo das disciplinas estava a cargo dos catedráticos, em sua
maioria autores dos livros didáticos ali adotados. Nascia assim uma escrita da
história acadêmica dedicada ao ensino.
No Colégio
Pedro II, a História fazia parte do chamado currículo das “humanidades”, cujo
padrão cultural era a Antiguidade Clássica. A formação oferecida se inspirava
na educação francesa, tendo como modelo as escolas idealizadas por Napoleão
Bonaparte, como o Colégio Henrique IV e o Liceu Luís, o Grande. Latim, grego,
literatura clássica e história ocidental compunham o currículo escolar.
Esse estudo
pretendia ainda transmitir um compromisso moral, promovendo a construção de
valores que qualificariam o cidadão. Por isso, os conteúdos ensinados deveriam
oferecer modelos de conduta, valorizando a figura do herói da Antiguidade, cuja
virtude serviria de inspiração aos jovens alunos. Era uma educação que
pretendia formar o futuro cidadão, o homem de bem que iria desempenhar funções
fundamentais para o Estado.
A escola
representou um lugar de formação tanto do currículo quanto do ensino de
História, iniciando os programas curriculares e os manuais didáticos. Se a
historiografia brasileira teve como ponto de partida o IHGB, a História
estruturada como matéria escolar começou no Colégio Pedro II."
Texto de
Beatriz Boclin Marques dos Santos
Coordenadora
do Núcleo de Documentação e Memória do Colégio Pedro II.
Saiba Mais -
Bibliografia
DÓRIA,
Escragnolle. Memória Histórica do Colégio Pedro II: 1837-1937. Brasília:
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 1997.
GASPARELLO,
Arlette Medeiros. Construtores de identidades: a pedagogia da nação nos livros
didáticos da escola secundária brasileira. São Paulo: Iglu, 2004.
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Um comentário:
Prezado José Mendes Pereira
Respondendo a sua pergunta: Sim, o Colégio Pedro II continua funcionando no mesmo prédio até os nossos dias.
Agradeço pela publicação e divulgação do Saiba História. Aguarde que em breve também estarei postando nas páginas do blog de Mossoró.
Um grande abraço,
Adinalzir Pereira Lamego - Campo Grande - Rio de Janeiro - RJ
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