segunda-feira, 29 de outubro de 2012

SEU OSCAR

Por: Clerisvaldo B. Chagas, 29 de outubro de 2012.
 Crônica Nº 895
 

SEU OSCAR

Já contei esse caso antes. Perambulando pela região do povoado Areias Brancas, fui esbarrar na casa de um cidadão, tipo barriga cheia. Casa boa, terreiro calçado com pedras, cercados verdejantes por trás e camioneta de luxo sob as árvores. 

Oscar Niemeyer. Foto (Wikipédia).

Via-se perfeitamente que o chefe da casa, com cerca de oitenta anos, era muito bem de vida. Homem rígido e que dirigia seu próprio veículo. Areias Brancas fica a 12 km de Santana do Ipanema, de quem vai com destino a Maceió, sendo cortada pela BR-316. Notei uma ligeira agitação na casa, coisa que uma senhora tratou de esclarecer. O indivíduo estava aniversariado, mandara celebrar uma missa em ação de graças e, o padre tinha acabado de sair. A festa estava feita. Nada melhor para essa ocasião de que pedir os parabéns e desejar felicidades. Pelo menos foi assim que eu fiz. Mas, como costume de casa vai à praça, fui um pouco mais além. Pedi os parabéns, almejei felicidades, mas fui cair na besteira de desejar muitos anos de vida. O homem virou-se numa onça. Fiquei atarantado com um medo triste de ter cometido alguma gafe. Depois ele explicou dizendo que não queria mais anos de vida coisa nenhuma. Já tinha vivido muito e pedir aumento dos seus dias era um erro grave. Procurei terra nos pés e não achei. De uma alegria de poucos minutos atrás para uma vergonha dessas, fiquei apenas mexendo a cara com meu sorriso amarelo. O chão estava queimando e eu estava doido para me retirar dali. Ao sair, nunca mais voltei àquela residência e passei a evitar o sujeito que aos dias de feira estava em Santana. Nunca mais desejei muitos anos de vida a ninguém.

Oscar Niemeyer, o grande arquiteto brasileiro, acaba de deixar o hospital Samaritano, em Botafogo. Foi a sua terceira internação. O homem de 104 anos continua desafiando o tempo e desenhando seus planos, dentro da sua lucidez. Os brasileiros vão ficando orgulhosos desse patrimônio nacional reconhecido no mundo. Basta uma espiada pelas imagens das suas inúmeras obras, para termos certeza do homem que ajudou a construir Brasília. Aí é quando vem à lembrança do egoísta de Areias Brancas. Se eu tivesse que me dirigir pessoalmente ao arquiteto, no máximo, talvez, pedisse os parabéns pelas suas sucessivas vitórias e muitas felicidades.  “Como cachorro mordido de cobra tem medo de linguiça”, jamais cometeria o mesmo erro de desejar-lhe muitos anos de vida. Quando penso no homem de Areias, ainda me dói a cacetada. Enquanto isso vá desenhando. Vá desenhando SEU OSCAR.


CLERISVALDO B. CHAGAS – AUTOBIOGRAFIA
ROMANCISTA – CRONISTA – HISTORIADOR - POETA

Clerisvaldo Braga das Chagas nasceu no dia 2 de dezembro de 1946, à Rua Benedito Melo ( Rua Nova) s/n, em Santana do Ipanema, Alagoas. Logo cedo se mudou para a Rua do Sebo (depois Cleto Campelo) e atual Antonio Tavares, nº 238, onde passou toda a sua vida de solteiro. Filho do comerciante Manoel Celestino das Chagas e da professora Helena Braga das Chagas, foi o segundo de uma plêiade de mais nove irmãos (eram cinco homens e cinco mulheres). Clerisvaldo fez o Fundamental menor (antigo Primário), no Grupo Escolar Padre Francisco Correia e, o Fundamental maior (antigo Ginasial), no Ginásio Santana, encerrando essa fase em 1966.Prosseguindo seus estudos, Chagas mudou-se para Maceió onde estudou o Curso Médio, então, Científico, no Colégio Guido de Fontgalland, terminando os dois últimos anos no Colégio Moreira e Silva, ambos no Farol Concluído o Curso Médio, Clerisvaldo retornou a Santana do Ipanema e foi tentar a vida na capital paulista. Retornou novamente a sua terra onde foi pesquisador do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Casou em 30 de março de 1974 com a professora Irene Ferreira da Costa, tendo nascido dessa união, duas filhas: Clerine e Clerise. Chagas iniciou o curso de Geografia na Faculdade de Formação de Professores de Arapiraca e concluiu sua Licenciatura Plena na AESA - Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde, em Pernambuco (1991). Fez Especialização em Geo-História pelo CESMAC – Centro de Estudos Superiores de Maceió (2003). Nesse período de estudos, além do IBGE, lecionou Ciências e Geografia no Ginásio Santana, Colégio Santo Tomaz de Aquino e Colégio Instituto Sagrada Família. Aprovado em 1º lugar em concurso público, deixou o IBGE e passou a lecionar no, então, Colégio Estadual Deraldo Campos (atual Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva). Clerisvaldo ainda voltou a ser aprovado também em mais dois concursos públicos em 1º e 2º lugares. Lecionou em várias escolas tendo a Geografia como base. Também ensinou História, Sociologia, Filosofia, Biologia, Arte e Ciências. Contribuiu com o seu saber em vários outros estabelecimentos de ensino, além dos mencionados acima como as escolas: Ormindo Barros, Lions, Aloísio Ernande Brandão, Helena Braga das Chagas, São Cristóvão e Ismael Fernandes de Oliveira. Na cidade de Ouro Branco lecionou na Escola Rui Palmeira — onde foi vice-diretor e membro fundador — e ainda na cidade de Olho d’Água das Flores, no Colégio Mestre e Rei.

Sua vida social tem sido intensa e fecunda. Foi membro fundador do 4º  teatro de Santana (Teatro de Amadores Augusto Almeida); membro fundador de escolas em Santana, Carneiros, Dois Riachos e Ouro Branco. Foi cronista da Rádio Correio do Sertão (Crônica do Meio-Dia); Venerável por duas vezes da Loja Maçônica Amor à Verdade; 1º presidente regional do SINTEAL (antiga APAL), núcleo da região de Santana; membro fundador da ACALA - Academia Arapiraquense de Letras e Artes; criador do programa na Rádio Cidade: Santana, Terra da Gente; redator do diário Jornal do Sertão(encarte do Jornal de Alagoas); 1º diretor eleito da Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva; membro fundador da Academia Interiorana de Letras de Alagoas – ACILAL.

Em sua trajetória, Clerisvaldo Braga das Chagas, adotou o nome artístico Clerisvaldo B. Chagas, em homenagem ao escritor de Palmeira dos Índios, Alagoas, Luís B. Torres, o primeiro escritor a reconhecer o seu trabalho. Pela ordem, são obras do autor que se caracteriza como romancista: Ribeira do Panema (romance - 1977); Geografia de Santana do Ipanema (didático – 1978); Carnaval do Lobisomem (conto – 1979); Defunto Perfumado (romance – 1982); O Coice do Bode (humor maçônico – 1983); Floro Novais, Herói ou Bandido? (documentário romanceado – 1985); A Igrejinha das Tocaias (episódio histórico em versos – 1992); Sertão Brabo CD (10 poemas engraçados).





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