Por Clerisvaldo B.
Chagas, 26 de janeiro de 2015 - Crônica Nº
1.352
Caderno e
lápis à mão tínhamos que cumprir o dever. Como entrevistar pessoas na fazenda
do famoso coronel do sertão? O que dizer à porteira da fazenda do homem que
metia medo até em governadores? Aquele coronel se tivesse contabilidade, já
deveria ter eliminado muito mais de quinhentas pessoas. Sua fama corria mundo.
Os famosos fazendeiros do gatilho entravam em declínio nos anos 60, mas o dono
absoluto do alto sertão ainda espalhava medo desde aos mais frágeis das cabanas
aos mais pomposos do palácio.
Foto
ilustração: (br.vazion.com).
Baseados na
fé, no trabalho decente e numa conduta responsável, todavia, tínhamos que
enfrentar a fera na própria toca. Não se deve sofrer muito por antecipação e a
boa conduta abre todas às portas. Em primeiro lugar não podíamos demonstrar
medo; segundo, não chamar o homem de coronel, ele detestava e, nós sabíamos
dessa particularidade. E em terceiro lugar comportar-se normalmente como se
estivéssemos diante de pessoas comuns.
Na entrada da
fazenda, por tudo que se dizia, esperávamos encontrar, no mínimo três ou quatro
capangas. Não havia um sequer. Nada também de correntes e cadeados. Avançamos
rumo à casa-grande num extenso império de terras na caatinga.
A capangada
armada até os dentes deveria estar no pátio da casa. Mas, como a porteira de
entrada, nada de capanga na sede. Apenas dois belos cavalos brancos amarrados à
sombra. O coronel de terno e chapéu branco, fazendo pose com charuto grosso,
ficou apenas na literatura robusta e cangaceira.
Um empregado
trajado humildemente nos recebeu e logo saiu o coronel do interior da casa,
parecendo tão humilde quanto o morador. Foi à terceira surpresa. Cumprimento de
praxe, dissemos que estávamos fazendo o Censo demográfico. O homem, sem nenhuma
pergunta falou que poderíamos ir para o lugar indicado, algumas casas juntas
que ficavam a cerca de 2 km da sede. O coronel falou apenas que era longe e,
disse ao morador que selasse os dois cavalos. Fomos e voltamos, eu e o
companheiro, em animais que pareciam dois automóveis. Fizemos o nosso trabalho,
agradecemos pelas cortesias e deixamos à fazenda da mesma maneira que entramos.
Como foi dito,
não havia terno branco, não havia capangas, não havia arrogância. Mas quem
quiser esqueça a verdade e brinque com cascáveis criadas nos lajeiros!
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