Por Francisco de Paula Melo Aguiar
[...]
Não desejando
ser asfixiada até morrer penosamente, a classe média burguesa que surgia tratou
de fazer com que a casca rompesse.
Leo Huberman
O ser humano vale o quanto sabe pensar para poder agir. Sempre foi e sempre
será assim em todas as fases e ou idades da História da Humanidade. Assim
sendo, podemos citar, por exemplo, que foram os iluministas os verdadeiros
ideólogos da burguesia. De modo que assim como um camponês, em noite escura, deve
ter uma lamparina ou lanterna para poder ver as coisas em sua volta, por
analogia a esse feito, os iluministas, pensadores do século XVIII, acreditavam
na tese de que o homem para ver as coisas tais como elas são, deve possuir
lanterna poderosa. Que lanterna ou lamparina seria essa então? Sem sombra de
duvidas podemos afirma que é a razão. É por esse motivo que aprendemos a chamar
o século XVIII como sendo o século das luzes, daí o termo iluminismo. Isso é um
fato, pois, somente a razão poderá auxiliar direta e indiretamente o homem no
caminho que busca o conhecimento cientifico. Os filósofos e seguidores de tal
orientação são conhecidos como iluministas e a maneira de pensar de iluminismo.
A partir do momento em que o homem passou a valorizar a lua natural ou razão,
surgiu o movimento iluminista. Ideologicamente falando, a razão iluminista que
prometia o que chamamos de conhecimento e domínio da natureza através do meio e
do desenvolvimento da ciência, via a emancipação política. De modo que a
pesquisadora Olgária Matos (Matos, 1995, p.33), na obra A Escola de Frankfurt,
reconhece plenamente a metáfora da luz quando cita:
“Aufklãrung –
clareamento, clarificação, iluminação – enlightment, ilustración, iluminismo e
esclarecimento remetem a um mundo inteiramente “iluminado”, isto é, visível.
Nada deve permanecer velado ou coberto. O conhecimento da natureza emancipa-se
do mito, e o conhecimento da sociedade deve, também, fundar-se na razão. A
razão esclarecida é uma razão emancipadora”.
Ideologicamente falando, pensar assim foi o único meio que os pensamentos
iluministas tiveram para dar resposta aos problemas concretos da sociedade do
seu tempo. Surgia a ideologia burguesa, a própria burguesia em si falando ao pé
da letra. Foi neste tempo que surgiu o Estado intervindo em quase tudo, a
começar pela intervenção na economia, ex-vi o que exemplifica por analogia Léo
Huberman (1986, p. 148-149), que afirma que as idéias dos pensadores
iluministas contribuíram ou fundamentaram a realização da própria Revolução
Francesa. Ninguém tem dúvida de que foi a burguesia e ou classe media que
idealizou e provocou Revolução Francesa, advindo daí a derrubada dos
opressores, a elite reinante daqueles tempos, pois, caso contrário seria a
mesma burguesia esmagada por eles. Isso por analogia é parecido com o pinto
gerado dentro do ovo e quando cresce, aumenta de volume, vem o rompimento de
sua casca para poder nascer, se assim não acontecer morrerá com todo certeza.
Também não é diferente dos demais seres racionais e ou irracionais, inclusive
com o ser “humano”, quando chega o tempo de nascer, ou nascer ou morre mãe e ou
o filho, ou ambos morrerão. É aí que acontece o primeiro grande rompimento da
convivência humana ainda na vida uterina. E a vida social do ser humano vai ser
sempre de convergência no sentido de aderir a algo e ou a alguém e ou de
divergência no sentido de romper com algo ou alguém. Sempre foi assim e vai
continuar sendo assim. O homem vive de divergir e convergir, segundo seus
interesses pessoais, profissionais, religiosos e políticos em todos os
sentidos. O certo é que a Revolução Francesa acabou com os privilégios da
classe dominante até então e inspirou o mundo europeu e americano, inclusivo o
Brasil a pensar assim. Romper com a elite dominante de nossos destinos. Foi o
que aconteceu com o surgimento da Inconfidência Mineira, em 1789 no mesmo ano
da Revolução Francesa, através dos ideais de Tiradentes e seus companheiros, e
posteriormente dos movimentos revolucionários do tipo: Conjuração Baiana, em 1798,
da Revolução Pernambucana de 1817, além da Confederação do Equador em 1824,
valendo destacar a personalidade de Frei Caneca, que pagou com a própria e não
renunciou seus ideais republicanos e a Revolução Praieira em 1848, dentre
outros movimentos de pequeno porte surgidos no território nacional brasileiro.
O povo
sonhador respirava iluminismo, tendo em vista que criticava os resquícios
feudais, tendo em vista a permanência da servidão. Também criticava o regime
absolutista e o mercantilismo, tendo em vista que limitavam o direito à
propriedade privada, além do mais, os iluministas criticavam à influência quase
que suprema da Igreja Católica Apostólica Romana sobre todos os seguimentos da
sociedade da época, tendo predominância nos campos da educação e cultura,
somente o clero sabia de tudo e ponto final. E por fim, criticava ainda à
desigualdade social no tocante aos direitos e deveres entre os indivíduos.
Dentre os
principais representantes do movimento iluminista surgido na França, podemos
mencionar: o Barão de Montesquieu (1689-1755), que escreveu “O espírito das
leis”, sua obra principal, tendo em vista que é nela que ele procurou estudar
diversas formas de governo: despotismo, monarquia e república, onde deu ênfase
à monarquia parlamentar inglesa. E finaliza defendendo que o Estado deve
separar as funções gestoras em três poderes: Executivo, legislativo e
judiciário. Diante de seus estudos, facilitou assim o surgimento de inúmeros
Estados após a Revolução Francesa; Voltarei (1694-1778), autor das Cartas
Inglesas e Cândido, suas principais obras, além de ser considerado o mais
importante dentre todos os iluministas franceses. Criticou os privilégios da
nobreza e não poupou a Igreja Romana. Defensor da liberdade individual, bem
como a participação da burguesia esclarecida no governo, visando garantir a paz
e a liberdade. Foram os seus ideais que influenciaram os teóricos da Revolução
Francesa e vários governantes europeus do seu tempo, vem daí o que chamamos de
déspotas esclarecidos, uma vez que são seguidores das suas propostas de reforma
social e estatal; Rousseau (1712-1778), autor das obras “Discurso sobre a
origem da desigualdade entre os homens”, “Emílio” e o “ Contrato Social”, obras
essas que contém suas idéias fundamentais. Ele foi o maior dentre os demais
radicais de seu tempo. Preferiu criticar a burguesia e ficar ao lado das
classes populares. É defensor árduo da idéia de que a sociedade deveria ter
como base a justiça, a igualdade e soberania do povo. Nasce daí a teoria e/ou
idéia da “vontade geral”, o que vai brilhantemente inspirar os lideres da
Revolução Francesa e do próprio Movimento Socialista, surgido no século XIX. No
território inglês, John Locke foi o principal representante do iluminismo e
Kant, na Prússia.
Podemos então dentre as conseqüências do iluminismo, mencionar as mudanças nas
questões de ordem jurídica no que se refere aos direitos e deveres de cada
cidadão; o surgimento do fenômeno despotismo esclarecido em diversos países da
Europa; a própria criação basilar em termos de ideologias para eclodir a
Revolução Francesa, além do aparecimento dos movimentos de independência das
colônias americanas; influencia a cultura, a ciência e a educação da sociedade
do ocidente nos séculos XIX e XX; e a limitação do poder da Igreja Romana,
tendo em vista a separação oficial entre o Estado e a Igreja, advindo daí o
Estado laico, sem religião oficial.
Na realidade brasileira, o iluminismo está presente no nosso dia a dia, como
por exemplo, na Constituição Federal de 1988, na Lei nº 9394/96 e nos
Parâmetros Curriculares Nacionais. A base fundamental de tais documentos é a
ideologia iluminista da Revolução Francesa: Igualdade, Liberdade e
Fraternidade, desde que cada cidadão brasileiro entenda realmente em viver dentro
dos princípios democráticos. A cidadania é a palavra número um para que
exista realmente “Ordem e Progresso”, lema de nossa nacionalidade e escrito em
nossa Bandeira Nacional. Invocar a definição de cidadania, significa dizer que
todo o poder emana do povo e em seu nome deverá ser exercido. Cidadania
significa autonomia nos termos mencionados na legislação do ensino brasileiro,
em nossa LDB-LEI DE DIRETRIZES E BASES e nos PCNs-PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS, ou seja cada individuo deve caminhar ou guiar dentro de seu próprio
conhecimento e ou entendimento, comer por suas próprias mãos e ou andar sem
necessidade de ajuda de quem quer que deseja. E tudo isso vem dos fundamentos
epistemológicos do iluminismo. Ideologia é como capim, morre aqui e nasce acolá
e jamais leva fim.
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5113975
Enviado pelo escritor Francisco de Paula Melo Aguiar
Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo:
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário