Por Rangel Alves da Costa*
Quem me conhece também conhece o amor que tenho pelo sertão sergipano, principalmente por Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo, meu berço de nascimento e exemplificação maior da feição sertaneja: debaixo do sol e da lua, um mundo de desvalia no homem e de grandezas de Deus.
O amor sentido pode ser expressado na preocupação com o resgate da memória sertaneja, rebuscando o passado para torná-lo em conhecimento ao alcance desta e das futuras gerações. Mas a preocupação com a saga sertaneja vai além no sentido de abarcar também seus aspectos geográficos, sociais, seus costumes e tradições. A verdade é que a grande maioria dos filhos da terra sequer imagina sobre a riqueza histórica e cultural na qual se assenta.
Outro dia, colocando um antigo pilão no Memorial Alcino Alves Costa, olhei para o lado e disse a alguém: Está vendo esse velho pilão aqui, de mais de cem anos, pois saiba que a partir dele será possível um dia inteiro de aula de história. Neste pilão as lembranças da escravidão, dos costumes e tradições de outros tempos, do jeito de ser e fazer de um povo. No pilão o café batido, o arroz descaroçado, qualquer tipo de grão esfarelado. As velhas mãos que desceram a madeira sobre a fundura do pilão escreveram sobre nossos antepassados, nossos hábitos alimentares, nossos modos de aproveitar os frutos da terra. Portanto, não apenas um pilão, mas um instrumento que traz consigo uma feição imprescindível da história sertaneja e nordestina.
Minha preocupação, pois, é constante. Todas as vezes que visito o sertão não me contento em ficar em casa ou passeando pelo centro da cidade. Acordo cedinho e já vou caminhar pelos conjuntos e bairros mais afastados, proseando com seus moradores e tomando todo tipo de informação. Descambo pelos lados do riacho, sigo suas margens devastadas, confronto a beleza de um dia e a tristeza do que encontro agora. Sigo mais distante, visito localidades mais afastadas, reencontro a história e a cultura e vou anotando tudo no meu diário da memória.
Possuo predileção especial por visitar construções antigas, igrejas, casarios, restos de um passado ainda vivo. Vou colhendo dos mais antigos a seiva que preciso ter para fortalecer meu conhecimento sobre o chão onde piso e onde nasci. Desde muito que faço assim. Quando brindava casca de pau no pé de balcão com Abdias, Galego Ferreiro, Liberato, João Paulo, Humberto, Mané Vito, Messias de Zé Vicente, Chico de Celina e tantos outros sertanejos de raiz e flor, não o fazia somente pelo sabor da raiz misturada, mas principalmente pelo enriquecimento que obtinha através do conhecimento autêntico daquele povo tão meu.
Minha pretensão agora é ampliar ainda mais a difusão da história e da cultura sertaneja. Não haverá um só recanto histórico ou de importância cultural ou geográfica, que eu não revisite, registre, relate e dissemine perante aqueles que desejam conhecer mais das próprias raízes. E não farei isto sozinho não, pois sei que em Poço Redondo existem grupos de jovens que caminham na mesma direção do meu pensamento. Exemplo disso foi um convite que recebi do jovem João Vítor (neto do saudoso Pedro Bola), em nome de um grupo do qual faz parte. Eis o teor do convite:
“Caro amigo Rangel, gostaria de convidar vossa pessoa quando vir aqui em Poço Redondo, para visitar a Capela Santo Antônio do Poço de Cima, aonde começou toda História de Poço Redondo. Basicamente temos um grupo formando de cinco pessoas que são Dore de Agenor, Nissinha de Cardoso, eu, neto de Pedro Bola, Enoque e Maria Tacia, ambos filhos do finado Cilção do Inferninho. Seria um grande privilégio receber a visita da vossa pessoa lá na igreja do Poço de Cima, hoje sendo preservada por nós do grupo, onde Padre Mário nos deu um livro de ata para contar os acontecimentos da referida localidade, para ficar sob Custódia da Paróquia, contando toda História da Capela. Também queremos vossa pessoa falando sobre os acontecimentos do Poço de Cima. Desde já agradeço a vossa pessoa”.
Meu Deus, que imensa alegria ao receber tal convite de conterrâneos. São jovens que demonstram um compromisso apaixonado com a história sertaneja. Ademais, chamar para si a preservação daquela que foi a primeira igreja erguida em Poço Redondo, quando ainda era Poço de Cima, é manter sob seus cuidados um templo que é a síntese maior do surgimento e da formação da municipalidade. Eis que tudo nasceu lá em cima, no Poço de Cima.
Que o compromisso de João Vítor, Dore de Agenor, Nissinha de Cardoso, Enoque e Maria Tacia, seja como um espelho a refletir nas mentes dos jovens poço-redondenses. O que eles fazem não é só um exemplo a ser necessariamente seguido, mas uma prova maior de amor pela terra.
Poeta e cronista
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Nota: Estamos com problemas nas postagens
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