Por Rangel Alves
da Costa*
Desde muito
que se debate acerca da filosofia no âmbito escolar. Além de tal discussão, há
ainda outra que reputo de igual importância. Diz respeito ao que se pretende
com o ensino de filosofia e ao tipo de conhecimento filosófico que o aluno
deverá obter. Numa síntese, será preciso delimitar a filosofia enquanto
conteúdo de aprendizagem e a mesma filosofia como preparação ao raciocínio
filosófico.
E assim porque
existem duas fronteiras diferentes na mesma margem. Apenas ensinar filosofia
implica no repasse de ideias filosóficas, da transmissão do pensamento das
grandes escolas, nos principais expoentes dos sistemas filosóficos e assim por
diante, porém sem a preocupação maior de ativar no aluno a reflexão ou o
raciocínio filosófico.
De modo
restrito, se poderia afirmar ser o raciocínio filosófico a própria filosofia em
ação. Significa pensar, refletir, meditar, indagar, buscar as origens das
coisas e torná-las explicáveis. Mas a escola está pronta para ambicionar tal
atitude filosófica no aluno ou se contenta apenas que este aprenda as noções
básicas? Eis a grande questão. Verdade que o aprofundamento do raciocínio
filosófico dependerá da própria pessoa, mas a escola bem que poderia acender a
chama filosófica apagada em cada um.
Enquanto não
se amplia os horizontes filosóficos, fato é que o ensino de filosofia tem
ocupado novos espaços no sistema educacional público. Há uma prática crescente
do ensino da disciplina nas escolas públicas brasileiras, e o mesmo se diga com
respeito às escolas particulares. Até mesmo crianças são iniciadas no
entendimento da filosofia, despertando logo cedo o interesse pelos seus
fundamentos. Entretanto, o ensino em si peca pela falta de uma linha
programática eficiente ou uma desorientação por parte da classe docente.
Segundo
doutrinadores, o ensino de filosofia, mesmo na grade curricular normal, possui
um conteúdo nem sempre eficientemente explorado pelo professor. Não raro que o
educador se indague sobre o que ensinar e como ensinar, de modo a não
transmitir uma ideia de que a filosofia é algo difícil de ser assimilado ou
mesmo incompreensível. Daí um impasse no modo de se ensinar filosofia.
Ensiná-la de modo apenas pedagógico ou tratá-la com maior profundidade?
Outros
problemas ainda surgem. O pensamento do professor deve balizar o ensino? Quais
as linhas teóricas a ser utilizadas? O ensino deve ser histórico e conceitual
ou entremeado da realidade vivenciada pelos alunos? Como deve ser feita a
avaliação do ensino de filosofia? Se a filosofia é mais discussão do que
prática, o que se exigir do aluno perante sua própria opinião dos fenômenos e
da realidade social? Há também a questão do material didático a ser utilizado.
Como
observado, se por um lado há o aspecto positivo da retomada da filosofia
enquanto disciplina curricular, outras questões cruciais existem que precisam
ser consensualizadas, principalmente com relação aos conteúdos e aos métodos do
ensino de filosofia. Tais aspectos exigem uma reorientação na ação docente, de
modo a não perder a essência na transmissão dos postulados filosóficos nem se
afastar muito da dinâmica da prática de ensino moderna. Dessa postura nascerá
nos alunos não só a compreensão da filosofia como o prazer de frui-la enquanto
forma de aprendizagem.
Verdade que
não se pretende que a escola seja uma escola grega ou uma academia platônica,
também verdade que não se objetiva que o aluno busque uma montanha no pátio da
escola e lá em cima se posicione para refletir sobre as origens e as realidades
da vida e do mundo. A escola é eminentemente teórica, não há que duvidar. Mas
sua teoria pode ser tão atraente e convidativa que a filosofia vá despertando um
interesse tal que o aluno ao menos comece a enxergar o contexto existencial
além da simples superfície. Quando avistar além da margem, certamente procurará
obter respostas mais profundas.
Poeta e
cronista
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