quinta-feira, 17 de setembro de 2015

FILOSOFIA E RACIOCÍNIO FILOSÓFICO: O QUE É POSSÍVEL NA ESCOLA?

Por Rangel Alves da Costa*

Desde muito que se debate acerca da filosofia no âmbito escolar. Além de tal discussão, há ainda outra que reputo de igual importância. Diz respeito ao que se pretende com o ensino de filosofia e ao tipo de conhecimento filosófico que o aluno deverá obter. Numa síntese, será preciso delimitar a filosofia enquanto conteúdo de aprendizagem e a mesma filosofia como preparação ao raciocínio filosófico.

E assim porque existem duas fronteiras diferentes na mesma margem. Apenas ensinar filosofia implica no repasse de ideias filosóficas, da transmissão do pensamento das grandes escolas, nos principais expoentes dos sistemas filosóficos e assim por diante, porém sem a preocupação maior de ativar no aluno a reflexão ou o raciocínio filosófico.

De modo restrito, se poderia afirmar ser o raciocínio filosófico a própria filosofia em ação. Significa pensar, refletir, meditar, indagar, buscar as origens das coisas e torná-las explicáveis. Mas a escola está pronta para ambicionar tal atitude filosófica no aluno ou se contenta apenas que este aprenda as noções básicas? Eis a grande questão. Verdade que o aprofundamento do raciocínio filosófico dependerá da própria pessoa, mas a escola bem que poderia acender a chama filosófica apagada em cada um.

Enquanto não se amplia os horizontes filosóficos, fato é que o ensino de filosofia tem ocupado novos espaços no sistema educacional público. Há uma prática crescente do ensino da disciplina nas escolas públicas brasileiras, e o mesmo se diga com respeito às escolas particulares. Até mesmo crianças são iniciadas no entendimento da filosofia, despertando logo cedo o interesse pelos seus fundamentos. Entretanto, o ensino em si peca pela falta de uma linha programática eficiente ou uma desorientação por parte da classe docente.


Segundo doutrinadores, o ensino de filosofia, mesmo na grade curricular normal, possui um conteúdo nem sempre eficientemente explorado pelo professor. Não raro que o educador se indague sobre o que ensinar e como ensinar, de modo a não transmitir uma ideia de que a filosofia é algo difícil de ser assimilado ou mesmo incompreensível. Daí um impasse no modo de se ensinar filosofia. Ensiná-la de modo apenas pedagógico ou tratá-la com maior profundidade?

Outros problemas ainda surgem. O pensamento do professor deve balizar o ensino? Quais as linhas teóricas a ser utilizadas? O ensino deve ser histórico e conceitual ou entremeado da realidade vivenciada pelos alunos? Como deve ser feita a avaliação do ensino de filosofia? Se a filosofia é mais discussão do que prática, o que se exigir do aluno perante sua própria opinião dos fenômenos e da realidade social? Há também a questão do material didático a ser utilizado.

Como observado, se por um lado há o aspecto positivo da retomada da filosofia enquanto disciplina curricular, outras questões cruciais existem que precisam ser consensualizadas, principalmente com relação aos conteúdos e aos métodos do ensino de filosofia. Tais aspectos exigem uma reorientação na ação docente, de modo a não perder a essência na transmissão dos postulados filosóficos nem se afastar muito da dinâmica da prática de ensino moderna. Dessa postura nascerá nos alunos não só a compreensão da filosofia como o prazer de frui-la enquanto forma de aprendizagem.

Verdade que não se pretende que a escola seja uma escola grega ou uma academia platônica, também verdade que não se objetiva que o aluno busque uma montanha no pátio da escola e lá em cima se posicione para refletir sobre as origens e as realidades da vida e do mundo. A escola é eminentemente teórica, não há que duvidar. Mas sua teoria pode ser tão atraente e convidativa que a filosofia vá despertando um interesse tal que o aluno ao menos comece a enxergar o contexto existencial além da simples superfície. Quando avistar além da margem, certamente procurará obter respostas mais profundas.

Poeta e cronista
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