Por Rangel Alves
da Costa*
Por mais que
os cientistas tudo façam para negar a existência dos bichos-monstros, não há
como negar que realmente existem. Não é uma cienciazinha qualquer que vá dizer
o que existe ou que não existe quando tanta gente já fez a devida comprovação.
E todos comprovam que bichos-monstros existem de verdade.
Mas não me
refiro, contudo, aqueles monstros que são eternamente caçados nos canais
televisivos. Alguns canais pagos não fazem outra coisa a não ser mostrar
caçadores que monstros que nunca encontram nada. Há o Monsterquest, Caçadores
de Monstros, A Montanha dos Monstros e uma leva sem fim de programas onde os
protagonistas principais jamais aparecem.
O Pezão,
coitado, acaso existente, já teria sido alcançado e filmado uma centena de
milhares de vezes, pois não faltam caçadores à sua espreita. Bem assim com
outras espécies de monstros que só existem na imaginação televisiva.
Comparáveis a tais aberrações somente os extraterrestres. Estes são discutidos
e debatidos o dia inteiro, porém jamais algum ufólogo apareceu entrevistando um
ou mesmo mostrando uma fotografia plausível de suas presenças. Apenas
insinuações.
Mas no mundo
real os bichos-monstros existem. E de verdade. O Velho Olegário, que jamais
admitiu ser chamado de mentiroso, dizia pra todo mundo ouvir que já tinha
encontrado nada menos que três bichos-monstros, e todos em noite de céu sem
lua, enquanto caminhava na direção da casa de uma rapariga.
Nunca vi coisa
mais feia e mais assustadora, dizia o velho. E prosseguia: Era noite de breu,
numa estrada fechada de labirinto, mas ainda assim seus olhos alumiavam tanto
que dava pra ver o bicho de corpo inteiro. O primeiro era dá altura de dois
homens, com olhos de tição e língua de tamanduá. O segundo tinha três cabeças
ou mais e mais de seis pés, certamente, por isso mesmo ficava pulando de canto
a outro. E quando avançava querendo me atacar, logo dois pés recuavam e era
minha salvação. Já o terceiro, permanecendo escondido no meio da moita, só
deixava mesmo à mostra dois olhos de lua afogueada. Mas o bicho tinha um bafo
tão grande, era tão fedorento, que duvido que ele mesmo suportasse estar de
nariz aberto.
Como eu
escapei de tais monstros? Indagou o velho, para em seguida responder: Não foi
preciso nenhuma arma nem nada de bala ou corte que pudesse amedrontar aquelas
feiuras, mas apenas aquilo que não sai do meu pescoço de jeito nenhum. Se vou
ou se volto, onde estou ou penso ir, nunca me desaparto de uma medalhinha
milagrosa que guardo comigo. Tenho ela desde que fui em romaria pro Juazeiro do
meu Padim Pade Ciço Romão Batista. Quando eu sentia que o bicho ia atacar,
então eu puxava a medalhinha e dizia: Padim Ciço tá aqui, Padim Ciço tá aqui, Padim
Ciço tá aqui. E os bichos então recuavam amedrontados, como se soubessem do que
Padim Ciço é capaz fazer a quem ameaça um afilhado seu.
Já Getulino
dizia que todo mundo conhecia a história do vigário safado que virou
bicho-monstro depois que bateu as botas, que foi pro beleléu. Vigário safado,
namorador, de encontros furtivos com mulher casada na sacristia, morreu
deixando uma ninhada de filhos. E na semana santa voltava de estava para
amedrontar as mocinhas novas que pudesse encontrar em lugares mais escurecidos.
Dizem que aparece arrastando uma corrente mais grossa que de navio, com duas
cabeças, sendo uma que chora em penitência e outra que sorri sem parar, além de
engolir a todo o momento uma esfera de fogo que tem aparência de hóstia. E só
desaparece quando a mocinha diz que vai lhe jogar água benta.
Certamente que
a história de Getulino está mais para fantasma do outro mundo do que para
bicho-monstro, pois este sempre se apresenta como realmente existente, de
carne, osso e feiura. Eu mesmo de vez em quando encontro com algum. Juro como é
verdade. O primeiro só desaparece em correria depois que saio da fila do banco
sem um tostão. E o segundo é sempre trazido pelo carteiro ou deixado na área da
frente com a aparência de boleto, de fatura, de cobrança.
Poeta e
cronista
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