Por Rangel Alves
da Costa*
Nestes tempos
nebulosos, difíceis e angustiantes, uma boa pergunta a ser feita: O que de bom
acontece? No mundo novo enviesado, promíscuo e degenerado, a mesma indagação a
ser feita: O que de bom acontece? Em meio à vulgarização cotidiana dos
escândalos, das corrupções, improbidades, roubalheiras das verbas públicas e
sacrifícios do povo, não há como não questionar: O que de bom acontece? Na
normalidade da vida e da existência, o que se esperaria é que a tormenta fosse
acompanhada de calmaria, os tempos difíceis trazendo a bonança, mas não é assim
que vem acontecendo. Tudo acontece, mas nada de bom acontece.
Os jornais não
estampam manchetes que causem conforto e satisfação. Ou é sobre mais um
escândalo ou sobre a violência desmedida e absurda. Ou vem noticiando sobre o
aumento da inflação, da cesta básica e das tarifas domésticas ou vem mostrando
o caos na saúde, a falta de leitos hospitalares ou de pessoas que são
esquecidas nos chãos infectos à espera de atendimento. Igualmente nos
noticiários televisivos e nas mídias de informação. Até mesmo as novelas só
cuidam de traições, de desavergonhamentos, sempre ensinando a desonra, a
imoralidade, a perversão. E apenas assim acontece.
O que de bom
acontece agora neste lugar, no Brasil e pelo mundo, onde o desalento e a
desesperança se tornaram a tônica de uma sociedade vitimada pelos abusos de
poder, pelas injustiças, pelos desgovernos dos governantes, pelas condições de
sobrevivência cada vez mais difíceis? O que de bom acontece quando a dona de
casa vai fazer a feira semanal, quando há necessidade de um atendimento médico
de urgência, quando precisa de segurança para sobreviver dentro de seu muro e
além da porta, quando senta diante da televisão ou quando recebe as contas de
água e de luz?
Diante de
tantos fatos negativos, de cotidianos assustadores, de somação de escândalos
por cima de escândalos, de aumentos e mais aumentos, de diminuição contínua do
poder aquisitivo e até da impossibilidade de planejar um bem melhor à vida,
logo se imagina que ao homem está sendo negado qualquer tipo de contentamento.
Ora, nada, absolutamente nada de bom acontece para que retome a esperança, para
que sorria, faça do contentamento a força tão necessária na continuidade da
estrada. É como se nada mais restasse senão suportar os tantos
sacrifícios surgidos para continuar apenas sobrevivendo.
Mas não se
tenha tais aspectos como uma visão pessimista da realidade. Os fatos da vida
não estão sendo mostrados apenas do lado negativo. A verdade é que não há como
disfarçar o sentimento de dolorosa indignação ante o que todo dia surge para
diminuir ainda mais a capacidade humana de acreditar que ainda exista
honestidade, honradez, dignidade. Esse mesmo homem ao qual somente é retribuído
o peso insustentável pelos erros dos escolhidos, pelas espertezas dos eleitos,
pelas mentiras dos governantes. Sobre suas costas o açoite, o lanho, o jugo,
apenas o sofrimento. E é assim que está acontecendo. E os dias andam muito
escurecidos para que se imagine qualquer sol de esperança.
O sol da
moralidade, da ética e do respeito, se escondeu e debaixo de si deixou somente
as espantosas sombras da incoerência. E nada de novo acontece debaixo do sol, a
não ser, logicamente, as assombrações próprias das sombras. E tais espectros, a
cada instante se alimentando da degeneração humana e de seu oculto poder de
negar e envergonhar a si mesmo, vão surgindo espantosamente a todo instante com
um nome diferente: subvenção, propina, evasão fiscal, extorsão, corrupção,
lavagem de dinheiro, fraude em licitação, “merendoduto”, petrolão e uma plêiade
de termos abomináveis. Ao menos para os que acabam sendo vitimados pelas
ladroíces dos outros.
O que de bom
acontece com os estudantes de escolas públicas cada vez mais desmotivados pela
negativa governamental de financiar seu sonho universitário? O que de bom
acontece na mente daqueles que ingressaram no ensino superior e agora estão
sendo forçados a abandonar seus estudos por falta de financiamento estudantil?
Tudo isso afeta não só a educação do país como o futuro dos jovens de agora e
provoca indescritíveis sensações de impotências nas famílias. E ainda há quem
tenha a petulância de dizer que o pobre não pode reclamar se não estuda para
ingressar na universidade pública. Fácil assim, como se as escolas públicas
preparassem seus alunos para o futuro.
Infelizmente,
é esta a realidade daqui e por todo lugar, onde tudo de ruim acontece e nada de
bom acontece. Mas não significa que o sonho já tenha sido consumido pelos
desvãos da vida. Mesmo com novos escândalos surgindo em profusão e a cada
instante, certamente chegará um dia em que ou se dará um basta nessa
sem-vergonhice toda ou a sociedade estará fadada à cataplexia: consciente, mas
incapaz de falar ou se mexer. Ou apenas uma multidão fantasmagórica caminhando
sobre os lamaçais do mundo.
Poeta e
cronista
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