sexta-feira, 3 de julho de 2015

O QUE DE BOM ACONTECE?

Por Rangel Alves da Costa*

Nestes tempos nebulosos, difíceis e angustiantes, uma boa pergunta a ser feita: O que de bom acontece? No mundo novo enviesado, promíscuo e degenerado, a mesma indagação a ser feita: O que de bom acontece? Em meio à vulgarização cotidiana dos escândalos, das corrupções, improbidades, roubalheiras das verbas públicas e sacrifícios do povo, não há como não questionar: O que de bom acontece? Na normalidade da vida e da existência, o que se esperaria é que a tormenta fosse acompanhada de calmaria, os tempos difíceis trazendo a bonança, mas não é assim que vem acontecendo. Tudo acontece, mas nada de bom acontece.

Os jornais não estampam manchetes que causem conforto e satisfação. Ou é sobre mais um escândalo ou sobre a violência desmedida e absurda. Ou vem noticiando sobre o aumento da inflação, da cesta básica e das tarifas domésticas ou vem mostrando o caos na saúde, a falta de leitos hospitalares ou de pessoas que são esquecidas nos chãos infectos à espera de atendimento. Igualmente nos noticiários televisivos e nas mídias de informação. Até mesmo as novelas só cuidam de traições, de desavergonhamentos, sempre ensinando a desonra, a imoralidade, a perversão. E apenas assim acontece.

O que de bom acontece agora neste lugar, no Brasil e pelo mundo, onde o desalento e a desesperança se tornaram a tônica de uma sociedade vitimada pelos abusos de poder, pelas injustiças, pelos desgovernos dos governantes, pelas condições de sobrevivência cada vez mais difíceis? O que de bom acontece quando a dona de casa vai fazer a feira semanal, quando há necessidade de um atendimento médico de urgência, quando precisa de segurança para sobreviver dentro de seu muro e além da porta, quando senta diante da televisão ou quando recebe as contas de água e de luz?

Diante de tantos fatos negativos, de cotidianos assustadores, de somação de escândalos por cima de escândalos, de aumentos e mais aumentos, de diminuição contínua do poder aquisitivo e até da impossibilidade de planejar um bem melhor à vida, logo se imagina que ao homem está sendo negado qualquer tipo de contentamento. Ora, nada, absolutamente nada de bom acontece para que retome a esperança, para que sorria, faça do contentamento a força tão necessária na continuidade da estrada.  É como se nada mais restasse senão suportar os tantos sacrifícios surgidos para continuar apenas sobrevivendo.


Mas não se tenha tais aspectos como uma visão pessimista da realidade. Os fatos da vida não estão sendo mostrados apenas do lado negativo. A verdade é que não há como disfarçar o sentimento de dolorosa indignação ante o que todo dia surge para diminuir ainda mais a capacidade humana de acreditar que ainda exista honestidade, honradez, dignidade. Esse mesmo homem ao qual somente é retribuído o peso insustentável pelos erros dos escolhidos, pelas espertezas dos eleitos, pelas mentiras dos governantes. Sobre suas costas o açoite, o lanho, o jugo, apenas o sofrimento. E é assim que está acontecendo. E os dias andam muito escurecidos para que se imagine qualquer sol de esperança.

O sol da moralidade, da ética e do respeito, se escondeu e debaixo de si deixou somente as espantosas sombras da incoerência. E nada de novo acontece debaixo do sol, a não ser, logicamente, as assombrações próprias das sombras. E tais espectros, a cada instante se alimentando da degeneração humana e de seu oculto poder de negar e envergonhar a si mesmo, vão surgindo espantosamente a todo instante com um nome diferente: subvenção, propina, evasão fiscal, extorsão, corrupção, lavagem de dinheiro, fraude em licitação, “merendoduto”, petrolão e uma plêiade de termos abomináveis. Ao menos para os que acabam sendo vitimados pelas ladroíces dos outros.

O que de bom acontece com os estudantes de escolas públicas cada vez mais desmotivados pela negativa governamental de financiar seu sonho universitário? O que de bom acontece na mente daqueles que ingressaram no ensino superior e agora estão sendo forçados a abandonar seus estudos por falta de financiamento estudantil? Tudo isso afeta não só a educação do país como o futuro dos jovens de agora e provoca indescritíveis sensações de impotências nas famílias. E ainda há quem tenha a petulância de dizer que o pobre não pode reclamar se não estuda para ingressar na universidade pública. Fácil assim, como se as escolas públicas preparassem seus alunos para o futuro.

Infelizmente, é esta a realidade daqui e por todo lugar, onde tudo de ruim acontece e nada de bom acontece. Mas não significa que o sonho já tenha sido consumido pelos desvãos da vida. Mesmo com novos escândalos surgindo em profusão e a cada instante, certamente chegará um dia em que ou se dará um basta nessa sem-vergonhice toda ou a sociedade estará fadada à cataplexia: consciente, mas incapaz de falar ou se mexer. Ou apenas uma multidão fantasmagórica caminhando sobre os lamaçais do mundo.

Poeta e cronista
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