quarta-feira, 1 de julho de 2015

CHAMANDO AS COISAS PELO NOME

Por Rangel Alves da Costa*

Em texto publicado no site G1 em 18/06/2015 (“Como classificar o regime da Venezuela?”), o jornalista Hélio Gurvitz, após analisar as medidas antidemocráticas tomadas pelo governo venezuelano, finaliza com uma pertinente afirmação, seguida de duas interrogações: “Há um momento em que é preciso chamar as coisas pelo nome. Que nome você daria a um regime político que implanta essas medidas? Depois do ataque aos senadores brasileiros, o que mais falta para chamarmos a Venezuela, com todas as letras, de ditadura?”.

Realmente, fatos, situações e coisas existem que não se pode dar outra denominação que não aquela que traduza a realidade em todo o seu contexto. Ditadura é ditadura, tirania é tirania, arbitrariedade é arbitrariedade, abuso é abuso. Não adianta querer minimizar ou distorcer realidades quando a contundência dos fatos logo traduz sua significação. Desse modo, não se pode negar ocorrências quando os fatos não demonstram o contrário. Ou será que o regime imposto na Venezuela, o denominado bolivarianismo, é apenas um rígido controle governamental da vida política e social?

Os porta-vozes dos regimes autoritários e ditatoriais sempre procuram justificativas para a imposição das tiranias e a transformação do Estado num regime de medo, perseguição e violência. Jamais reconhecem a feição totalitarista dos governantes, a imposição de autoritarismos, as violentas repressões praticadas contra instituições e indivíduos, o combate violento a todo tipo de oposição, a ilegalidade legalizada segundo as conveniências dos governantes, os absurdos e violações cometidos de forma odiosa. Não há que se falar em direitos humanos ou respeito aos direitos fundamentais dos cidadãos.

Contudo, há quem qualifique situações tais como democracias. É usual aos partidários dos governos de esquerda afirmar que tais formas de governar se justificam pela luta contra o imperialismo capitalista, contra as ameaças externas e como garantia da soberania da nação. E, num total contrassenso com as atitudes tomadas, passam a ter opositores como as grandes ameaças aos governos e às falsas democracias vigentes em tais países. E as supostas ameaças acabam servindo como artifícios para prisão de líderes políticos, fechamento de jornais, perseguição a qualquer um que se ressinta das atrocidades cometidas.


Neste sentido, ainda hoje os petistas de vanguarda tratam a ditadura cubana como o melhor regime do mundo, como uma luta que deu certo contra as ambições capitalistas. Também se negam a discutir as múltiplas misérias ali existentes, as perseguições e encarceramento dos opositores, o total desrespeito aos direitos fundamentais do homem.

Não só Cuba, mas também com relação ao bolivarianismo venezuelano e por todo lugar onde um ditadorzinho de meia tigela esteja entronizado como governante. Para muitos petistas, as republiquetas de banana existentes pelo continente latino-americano são bons exemplos de como os governos de esquerda deram certo. Em que?

As pessoas não podem viver mentindo a si mesmas ou defendendo absurdos por conveniências políticas. É preciso sempre fazer uma autocrítica para se situar perante a realidade, avistar as verdades do mundo e não ter medo de reconhecer os erros cometidos. Sempre haverá tempo de fazer com que as paixões se submetam à razão e avistar a realidade das coisas sem os olhos da utopia ou do disfarce. No caso brasileiro, por exemplo, há como não reconhecer a plena falência da gestão governamental? O nome é este: falência. E falência múltipla de órgãos gestores, de políticas públicas, de combate à inflação, de seriedade na gestão, de governabilidade.

Ninguém pode continuar enganando o tempo todo. As máscaras um dia caem e as verdades surgem assustadoras. Quando há suspeita de que há algo de malcheiroso no desvio de verbas públicas, nas licitações fraudulentas, nos enriquecimentos repentinos, nos favorecimentos, dentre outras situações, há que somente encontrar o nome mais adequado para a safadeza: corrupção, improbidade, gestão fraudulenta, etc. Por mais que os responsáveis pelas falcatruas tentem, a todo custo, justificar a esperteza, todos os atos possuem um nome ou uma tipificação penal. E o senso comum vai além e acaba denominando ladrão.

Desse modo, não adianta tentar omitir o óbvio ou ocultar o que se mostra evidente. Chamar as coisas pelo nome significa simplesmente reconhecer a existência de determinada realidade. Quando um governante diz que não pode cumprir a lei que garante aumento salarial a servidores, e o faz sob a justificativa de que está no limite prudencial, porém sem dar provas dos gastos totais do estado ou do município, certamente estará blefando, simulando uma situação irreal. E mentira é o verdadeiro nome de tal estratégia ardilosa.

Que nome dar ao judiciário que julga direitos segundo a vontade do poder? Que nome dar ao governante que descumpre promessas de campanha e torna sua gestão em egoístas perseguições a determinadas categorias profissionais? Que nome dar a uma segurança pública que deixa proliferar pontos de uso e venda de drogas sob a justificativa de que só interessa agir perante o grande traficante? Tudo isso tem um nome. A sociedade sabe bem o que isso significa.

Poeta e cronista
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