Por Rangel Alves
da Costa*
Dia 04 de
junho, feriado de Corpus Christi. A tradição católica celebra no Corpo de
Cristo o Mistério da Eucaristia. A celebração envolve missas, procissões e ruas
cobertas de serragem pintada com motivos religiosos e belos tapetes de flores.
É neste dia que o Santíssimo Sacramento é levado em procissão pelas ruas.
Aliás, o único dia. Desse modo, seria um bom motivo para que os devotos se
voltassem mais aos cultos religiosos da data.
Mas nem sempre
assim acontece. A religiosidade está cada vez mais em baixa, infelizmente. As
missas estão se esvaziando de forma contínua e poucos são os jovens que
ultrapassam os portais de uma igreja. O Deus do jovem parece ser outro, o do
modismo, da rebeldia, da indiferença. A fé do jovem parece ser outra, a da
permissividade, da negação dos valores, da degeneração do espírito e da alma.
Certamente que
muitos devotos, fervorosas beatas e caminhantes estarão pelas ruas acompanhando
as procissões e principalmente se encantando com os tapetes floridos espalhados
pelas ruas de muitas cidades. Mas para outros – e sempre a grande maioria – é
apenas um feriado, ou início de feriadão, dependendo de poder imprensar a
sexta. Para muitos, amanhã será ponto facultativo, o que significa dizer a
sequência do feriado.
Aliás, poucas
coisas são mais desnecessárias do que a decretação de ponto facultativo, pois o
correto seria prolongamento obrigatório do feriado. Facultativo implica em
desobrigar a pessoa de ir trabalhar, o que – ao menos em tese – não impediria
de a mesma comparecer ao seu emprego se assim desejasse. Mas nunca vi qualquer
órgão público permanecer de portas abertas para facultar o direito de o
funcionário ir exercer seu ofício. Ademais, num país de maioria amiga da
preguiça e da lassidão o tal ponto facultativo se torna ainda mais destoante.
Mas voltemos
ao feriado e ao que se tem a fazer neste dia. As opções são muitas, desde fazer
nada a emendar um passeio mais demorado ou viagem mais prolongada,
considerando-se o feriadão. Mas como o dinheiro está em mãos contadas e grande
parte da população já torrou parte do salário com pagamentos das contas
mensais, mercadinhos e outros compromissos, não será difícil que apenas
permaneça em casa e arredores no dia a dia comum, querendo fazer tanto e quase
nada podendo fazer.
Mesmo optando
por ficar em casa, muitas são as opções para qualquer feriado, fim de semana ou
feriadão. Como diz a música, momento ideal para procurar um bom lugar para ler
um livro. Quem sabe gelar um vinho de preço módico, inventar um pedaço de
queijo, passar água naquela velha taça adormecida na cristaleira e lentamente bebericar
o doce instante da vida. Talvez ouvindo uma bela canção, com som apenas
audível, porém tendo o cuidado para que o prazer do momento não se transforme
em saudade, melancolia, sofrimento.
Muitos não
confessam que fazem assim, mas também um dia ideal para lavar e passar roupas,
arrumar armários, passar o espanador pelos móveis e estantes, varrer em cima e
embaixo do tapete, pensar algo além do macarrão, do frango, da omelete.
Preparar um prato especial demanda rever a verba orçamentária e certamente implicará
na quebra do ajuste fiscal forçadamente imposto também na cozinha. O que fazer
então?
Realmente não
sei. Não sei de seu bolso, de sua disposição, de sua vontade de sair de casa ou
ficar, de fazer diferente ou não. Mas vá procurar o que fazer. Alguma coisa
diferente é sempre útil para sair da mesmice e do marasmo do sempre igual e
repetido. Abra a porta, vá caminhar por aí, subir à montanha, passear numa
beira de praia, visitar um amigo ou simplesmente colocar uma mesinha do lado de
fora, abrir uma cerveja gelada e desejar que não acabe logo.
As opções de
Aracaju se direcionam para a orla marítima, para a região costeira e as
belíssimas praias. Mas o tempo anda chuvoso e não há certeza que o sol
transforme o feriado em ensolarado prazer. É também uma cidade de belos museus,
mas nem sempre estão abertos em feriados. Exatamente nos dias que as pessoas
estão mais propensas a visitá-los. Coisas da terra do Cacique Serigy.
Quando a mim,
não vou procurar o que fazer porque nada faço diferente daquilo de todo feriado
e fim de semana. Permaneço enclausurado como um velho monge num mosteiro diante
de antigos pergaminhos. E tecendo manuscritos de solidão e amorimorte.
Poeta e
cronista
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