Por Rangel Alves
da Costa*
O dia acaba, a
noite vem. Depois da noite o alvorecer, os primeiros sinais das manhãs da vida.
A cama acolhe
o cansaço, o sono repara as forças, o sonho propicia uma realidade totalmente
diferente.
Os sonhos não
permanecem e o ser tem que voltar ao seu mundo de dormência para depois
acordar.
O relógio
biológico não tarda a avisar. Também o despertador, o galo cantando, a fresta
de luz que entra pela janela.
Lá fora um
tempo ainda sonolento, mesclado de cores sombrias e douradas. Ainda não há sol,
somente a tênue claridade que se espalha nos horizontes.
A natureza já
despertou desde muito. As árvores pulsam através dos galhos que se movem e das
folhagens que tremulam.
Surgem os
primeiros sons no meio da mata, os primeiros cantos, os gorjeios matinais. E
logo a passarada estará fazendo festa por todo lugar.
A fruta
verdosa já amanhece vistosa no pomar. As frutas não dormem se maquiando no
espelho da noite para surgirem coloridas ao amanhecer.
No jardim
ainda orvalhado, a flor vai desabrochando lentamente. O verde da planta vai
dando lugar a um rosáceo encantador.
Borboletas,
colibris, abelhas, todos despontam em meio à natureza e logo voam em direção ao
jardim. A festa de toda manhã.
Ainda
sonolentos, os olhos se abrem para as visões do dia. Os passos lentos se encaminham
para mais adiante em direção à janela.
As janelas
sempre se abrem para uma vida nova, ainda que seja desalentadora a primeira
paisagem avistada.
As janelas
nunca se abrem para a mesma paisagem. Encontram muros, cercados, jardins
esturricados, asfalto, chão batido, terra, ou a pujança da natureza.
Sorte na vida
de quem acorda para um alvorecer sertanejo. Além da janela ou após a porta há
sempre um motivo bom para a felicidade.
As manhãs
sertanejas possuem uma formosura diferente da de qualquer outro lugar. Os sons
tão próximos da natureza, os animais ao redor, a singeleza da vida.
Desde a
madrugada que a vida sertaneja se impõe. Não dura muito e o cheiro do café
torrado, o cuscuz de milho perfumando os quintais. Uma xícara de café e de
contentamento.
Os centros
urbanos geralmente negam ao olhar esse primeiro sorriso. As ruas petrificadas,
os barulhos que já se elevam, a pressa nos passos, a frieza em tudo.
Mecanizada e
burocrática é a manhã da cidade. O relógio que marca e avança, o tempo que
passa, o medo de se atrasar, a correria desde aquele momento.
Na cidade,
poucas são as pessoas que despertam para a manhã. O citadino não conhece o
sentido do encontro matinal com a vida, sequer sabe o que é colher uma fruta no
quintal.
Mas todas as
manhãs, sejam no campo ou na cidade, possuem uma significação que poucos dão
importância. Há de saber que amanhecer é também despertar para nova vida.
Nova vida por
que o bom ou ruim do dia ou da noite passada não persistirá do mesmo modo. O
que for bom será aprimorado, o que foi difícil será transformado.
As manhãs da
vida são como chances de fazer diferente. Por isso mesmo que nascem
esperançosas. A pessoa sempre acorda com um pulsar diferente, mais ânimo e
confiança.
Amanhecer é
construir o mundo desde que levanta ao abrir a porta. O que passou ficou para
trás. Então é preciso viver significativamente a partir da nova caminhada.
Caminho novo
surgido a cada manhã. Mas é preciso sorrir para a vida desde o abrir a janela.
Ninguém procura a felicidade levando sombras no coração.
Então tenha um
bom dia!
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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