Conforme
enfatizado pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação,
desertificação é entendida como um processo de degradação das terras das
regiões áridas, semiáridas e sub-úmidas, resultante de diferentes fatores,
encontrando-se entre esses as variações climáticas e as atividades humanas,
estando ligados a esse conceito as degradações de solo, fauna e recursos
hídricos (Cf. Mendes, 1997).
No Brasil, as
áreas semiáridas e sub-úmidas do Nordeste Brasileiro são as mais suscetíveis à
Desertificação, pois possuem condições edafoclimáticas ímpares. De acordo com o
Plano Nacional de combate à Desertificação, cerca de 181.00 km2, correspondente
a 20% da área semiárida da região Nordeste, encontram-se inseridos nesse
acelerado processo.
Predominam no
semiárido Nordestino solos das classes Bruno Não-Cálcico, Litólico e
Planossolo, rasos e sujeitos à erosão, com cobertura vegetal de caatinga
hiperxerófila, adaptada às condições ambientais rigorosas. Esse fenômeno
recente vem despontando como desafio premente, tendo em vista que as secas
periódicas que vem assolando a região tem agravado consideravelmente a situação
ambiental extremamente preocupante, tendo em vista que a explicação de Milton
Santos para o conceito de região ter sido vendido como um edifício estável,
sobretudo no que concerne à natural, aplica-se com rigor para o semiárido
nordestino.
A crise deflagrada
no início dos anos 80 do século passado, quando do advento da praga do bicudo,
a qual responsabilizou-se pela queda lastimável da produção algodoeira,
responsabilizou-se, em grande percentual, pelo início do esvaziamento do campo
no semiárido Nordestino (Cf. Mendes, 2003).
É reconhecido
o relativo sentimento telúrico que o homem sertanejo nutria pela terra e por
tudo que a ela pertencia. Quando da convivência no campo, havia certo respeito
pelo bioma e pelos ecossistemas que a integravam, não obstante sabermos que
diversas espécies animais e vegetais estão em processo de extinção graças à
caça predatória e ao desmatamento criminoso.
Abandonando-a,
a terra ficou à mercê dos interesses do capital. Apenas meio de acumulação é o
que vem sendo enfatizado na relação forjada sob a égide do atendimento as mais
imediatas exigências de um processo que não respeita a fragilidade do
semiárido.
A antropização
excessiva foi-se definindo como principal protagonista no ensejo da utilização
das terras na zona rural, impactando-as formidavelmente enquanto premissa ao
fomento para o processo de desertificação que vem se consumando como paisagem,
diferenciada de épocas pretéritas.
Diversos núcleos de desertificação surgiram enquanto produto das atividades
humanas indiscriminadas, estando entre essas o desmatamento, as queimadas e o
sobrepastejo de caprinos e ovinos. Os mais preocupantes núcleos de
desertificação encontram-se em Irauçuba, localizado no noroeste do Estado do
Ceará, o qual abrange uma área de aproximadamente 4.000 km². Inclui os
municípios de Irauçuba, Forquilha e Sobral; Cabrobó, localizado no Estado de
Pernambuco. Totaliza uma área de 5.960 km². Abrange os municípios de Cabrobó,
Belém do São Francisco e Floresta; Seridó, está localizado na região centro-sul
do Estado do Rio Grande do Norte e centro-norte da Paraíba. Abrange área de
aproximadamente 2.341 km². Envolve diversos municípios em torno de Parelhas
(RN) e Gilbués, localizado no Estado do Piauí. Ocupa uma área de
aproximadamente 6.131 km2. Envolve os municípios de Gilbués e Monte Alegre.
Recentemente, o Raso da Catarina (BA) também vem apresentando processo de
desertificação (Cf. Accioly).
O desmatamento
indiscriminado, intuindo abastecer olarias com material lenhoso retirado da caatinga
vem penalizando consideravelmente os núcleos de desertificação localizados em
Irauçuba e no Seridó, enquanto a mineração tem relação direta com esse processo
em Gilbués.
Nas áreas de
agricultura irrigada, casos do vale do São Francisco, vale do Jaguaribe e vale
do Assu, a desertificação tem relação direta com a salinização. A área do
núcleo de Cabrobó, próxima ao São Francisco, vem se destacando devido a isso.
Animais
astutos e bem adaptados às condições mesológicas do semiárido, caprinos são
criados em todos os Estados Nordestinos, invariavelmente de forma
ultra-extensiva. Isso ocasiona impactação formidável. A participação
desse rebanho no processo de desertificação vem sendo acelerada
consideravelmente, tendo em vista o percentual de participação do Nordeste,
sobretudo o semiárido, no conjunto nacional.
Na região
oeste potiguar, a exploração petrolífera também se destaca no que tange à
responsabilidade para a desertificação do semiárido. O Prof. Dr. Benedito
Vasconcelos Mendes implementou pesquisa que resultou na recuperação de áreas
degradadas pela técnica do “inóculo”. O lócus da implementação da pesquisa foi
na localidade Canto do Amaro.
Embora obtendo
sucesso na implementação da técnica do “inóculo”, não houve respeito do capital
para com a natureza, pois a descoberta de novo lençol petrolífero levou a
Petrobras a devastar a área recuperada assim que houve necessidade de dinamizar
a produção.
Desafio
extraordinário, articulado ao ensejo das estratégias de transição para o século
XXI, a desertificação no semiárido vem se concretizando como a mais espetacular
demonstração da irresponsabilidade antrópica para com biomas frágeis e
suscetíveis a mudanças catastróficas.
Bibliografia:
ACCIOLY, L. J.
O. Degradação do solo e desertificação no Nordeste do Brasil. Disponível em
.< http://www.diadecampo.com.br/zpublisher/materias/Materia.asp?id=22136&secao=Arti>.
Acesso em 21 de abril de 2015.
BRASIL.
Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos
da Seca. Disponível em .< http://www.mma.gov.br/gestao-territorial/combate-a-desertificacao/convencao-da-onu>.
Acesso em 21 de abril de 2015.
MENDES, B. V.;
ALCÂNTARA, A. Q.; XAVIER, I. D. Recuperação de áreas degradadas pela “técnica
do inóculo”. Mossoró/RN: Igramol, s.d.
MENDES, B. V.
Biodiversidade e desenvolvimento sustentável do semi-árido. Fortaleza: SEMACE,
1997. 108 p.
_____________,
. Reflexões sobre o Nordeste. Mossoró: Fundação Vingt-Un Rosado, 2003. 90 p.
il. (Coleção Mossoroense. Série C, 1358).
[1] José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo.
Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e
Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista
em Geografia e Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB).
Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UERN).
[2] Marcela Ferreira Lopes.
Geógrafa-UFCG/CFP. Especialista em Educação de Jovens e Adultos com ênfase em
Economia Solidária-UFCG/CCJS. Graduanda em Pedagogia-UFCG/CFP. Membro do grupo
de pesquisa (FORPECS) na mesma instituição.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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