segunda-feira, 4 de maio de 2015

FOLGAS (EVOLUÇÃO)

Por Valberto Barbosa de Sena
 

Nas horas de folga quando o tempo passa,
Quanto mais for lento, melhor pro folguista.
Ao olhar a frente do tempo, ele avista
Trabalho a espera para que o faça.
Assim o coitado na mente retrata
Seu parente próximo, o velho primata.
Sem luta, labuta, sem labor, sem lida,
Se alimentando no maior sossego.
Desde sua origem, nunca teve emprego.
Nunca passou fome um dia na vida.

Sem construir casa pra sua morada.
Nos arranha-céus arbóreos da selva
Habita, e caminha nas praças da relva,
Onde tem ração, já balanceada.
Não constrói dispensa pra fazer reserva.
Não tem geladeira pra guardar conserva,
E a comida avulsa, jamais se estraga.
Escolhe e recolhe no pomar nativo
O fruto adequado ao seu pão furtivo.
Tudo lhe é grátis, por nada ele paga.

No centro da mata não tem hospital,
Nem laboratório pra fazer remédio.
Mais há uma fórmula pra curar o tédio
De qualquer doença. Tudo é natural.
Encontra nas cascas, folhas e raízes,
Baseado em cores, em tons e matizes,
A cura correta pras doenças certas.
Só pega os produtos, mastiga e aplica.
A farmácia básica, para o público fica
Vinte e quatro horas de portas abertas.

Também na floresta não existe escola
Para dar diploma de mestre e doutor.
Cada ser mais velho é um professor
E no aprendizado ninguém se enrola.
Na própria linguagem tudo se entende.
Tudo quanto quer, ao ar livre aprende,
Sem certificado de graduação.
O próprio currículo da floresta cria
Uma nova aula de geografia,
Muito necessária pra locomoção.

Não conta dinheiro. Não ganha salário.
Também não desconta I. N. S.S.
Não se aposenta, pois não envelhece,
Seu tempo não passa, não tem calendário.
Não pega transporte pra ir ao serviço.
Não corre no tempo para compromisso.
Na mãe natureza de um jeito etéreo,
De um a árvore a outra, mesmo sem ser ave,
Faz seu longo vôo sem aeronave.
É grande perito em transporte aéreo.

Pra dar um cochilo na hora da cesta,
Escolhe um cantinho entre o matagal,
Bastante adequado ao sono real
Com todo conforto dentro da floresta.
Sua vizinhança respeita esse instante,
Passando de largo e o mais distante.
Pois são necessários descansos diurnos.
Com a permissão de Deus que o valha:
- descansar de que, se ninguém trabalha,
Nessa rigidez de alternados turnos?

O seu governante é um líder nato,
Imposto por força de força maior.
Mais do que o outro ninguém é melhor,
Mas, há liderança no reino da mata.
Hora da partilha com toda humildade,
O chefão se achega com voracidade,
Pega um bom pedaço escolhido e basta.
Por sob uma sombra num tronco se encosta,
Enchendo a barriga de tudo que gosta,
Impõe seu respeito e do grupo se afasta.

Retorna a morada na hora que quer,
Sem transportar feira para os filhos seus.
No próprio pedaço é o próprio Deus,
Sem temer ninguém, nem mesmo a mulher.
Diferentemente do primo Hominídeo,
Que repassou tudo em forma de vídeo,
Vendo cada cena do filme em ação.
Na realidade do quotidiano,
Retorna magoado ao seu mundo humano,
SENTINDO O DESPREZO DA EVOLUÇÃO.

(V. B. S. – 06/06/2012).

Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso

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