Por Rangel Alves
da Costa*
Dizem que o
destino vive à frente do homem costurando o futuro, marcando reencontros e
acontecimentos, decidindo como será o amanhã. Junta retratos desde muito
separados, marca com fita o que não pode ser esquecido, cuida de assinalar no
calendário o inesperado e o desconhecido, coloca um espelho para que as imagens
passadas novamente reflitam. Mas principalmente escreve no diário do tempo cada
passo do homem.
Ao caminhar, o
homem sequer imagina que aquela estrada já lhe havia sido destinada. E também a
pessoa que encontra, o velho amigo que reencontra, a sorte e o desprazer. O
banco da praça já aguardava o visitante, a recordação surgida já estava
programada para afligir, a lágrima que desce do olhar já estava destinada a ser
assim. O pássaro que pousa no ombro também, e assim com a bala perdida, a pedra
jogada, a dor no peito, a morte.
Tudo obedece
ao destino. Ninguém nasce nas distâncias do mundo, crescendo puxando o cabo de
enxada para mais tarde fazer fortuna na cidade grande sem que a mão do destino
o conduza. Ninguém vai caminhando e adiante encontra mais dois caminhos e tenha
de decidir em qual direção seguir se não for transportado pelo destino. Ainda
que a estrada escolhida seja cheia de perigosos labirintos, mesmo assim não
seria outra sua opção. O destino faz com que experimente o perigo para que sua
recompensa seja garantida.
O que alguns
conhecem por sorte, deveriam chamar de destino. Se algo não estava predestinado
a acontecer, não foi por sorte que não ocorreu. Mas o que está escrito, aquilo
marcado nas letras do tempo para um dia existir, pode passar o tempo que for e
acontecerá sem precisar dar aviso. Tome-se, por exemplo, o fato de que a pessoa
toda semana faz aposta máxima na loteria e nunca ganha. Mas numa feita só tem
dinheiro para aposta mínima e mesmo desesperançado joga. E acaba ganhando
sozinho. O seu tempo era aquele ou não?
Na lição do
velho profeta, o destino é o próprio caminho do homem. Ainda que decida cortar
a estrada ou retornar, ainda assim terá sido pelo querer do fadário. E nada,
absolutamente nada, pode fugir ao que foi marcado para acontecer. Em tudo pode
haver esquecimento, descumprimento e inércia no fazer, mas não ao que está
destinado advir. Mais cedo ou mais tarde tudo acaba acontecendo.
O destino é
certeza tão importante na vida que vai além de sua mera conceituação. Com
efeito, tem-se o destino como uma força misteriosa que determina os acontecimentos
na vida das pessoas. Ou ainda a força sobrenatural que atua sobre o ser humano
e o coloca refém de uma sucessão inevitável de acontecimentos. Costumeiramente
também chamado de sina, fadário, estrela ou fortuna, o destino nada mais é que
a escrita do homem desde o seu nascimento. E mesmo antes de nascer já tem sua
vida predestinada.
Daí em diante
nada acontece ao acaso, nada ocorre sem que haja uma predestinação para tal. Os
fatos acontecem não por coincidência ou circunstância, mas simplesmente porque
a vida humana é assentada em forças que interferem nas ações. Mas as pessoas
também podem ajudar ao destino. As pessoas, numa relação de causa e efeito, são
também responsáveis pelo que de bom ou ruim possa lhe acontecer. Ninguém vai
reparar fios de alta tensão sem a devida proteção achando que o destino lhe é
favorável.
Logicamente
que a concepção do destino enquanto força que comanda a vida confronta os
princípios do cristianismo, segundo os quais somente Deus possui o comando de
tudo, somente os planos divinos para fazer com que as coisas e os fatos
aconteçam de determinado modo. Mas não se afasta o destino como dádiva
divina. Na verdade, não há outra força que comanda o destino senão a divina.
Quando alguém
diz que algo aconteceu por vontade de Deus, igualmente está se referindo ao
destino. Este não força nenhum acontecimento, apenas tem o fato como um marco,
como algo que deve acontecer. Como um caderno ou agenda de Deus, o destino
apenas faz cumprir o que for determinado a ocorrer. Do contrário, tudo na vida
seria ao acaso. E nada acontece por mera casualidade.
Poeta e
cronista
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