sexta-feira, 22 de maio de 2015

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE GLOBALIZAÇÃO E GEOGRAFIA TEORÉTICO-QUANTITATIVA

Por José Romero Araújo Cardoso[1] e Marcela Ferreira Lopes[2]


Em 1944 houve definição de uma nova ordem econômica mundial, quando da conclusão das conferências de Bretton Woods, ensejando o mais ousado e impressionante capítulo do processo de globalização sob a égide capitalista.

Seis anos mais tarde, surgia a Geografia Teorético-Quantitativa, a partir dos estudos fomentados pela Escola de Chicago a fim de viabilizar o planejamento público e privado, visando maximizar lucros e minimizar custos principalmente das empresas transnacionais.

A fundamentação teórica, como na Geografia Tradicional, novamente alicerçava-se no positivismo, mas a diferença estava na forma rígida como passou a tratar conceitos-chave, sobretudo espaço, submetendo-os à análise matemático-estatística.

Houve comemoração, pois propalava-se que finalmente a ciência geográfica atingia status máximo em razão que a proposta de Comte se estabelecia de forma efetiva, tendo em vista a vinculação com as ciências naturais e exatas.

Espaço passou a ser visualizado como uma planície isotrópica e sua correlação matricial, quando todos os níveis poderiam ser analisados de maneira homogênea, impedindo que subjetividade atrapalhasse a condução científica.

Seleções espaciais começaram a definir exclusão e marginalização, pois a inserção na nova ordem econômica mundial só poderia ser feita caso a garantia de sucesso empresarial estivesse plenamente satisfeita.

Diferenças inter-regionais recrudesceram-se espantosamente, tendo em vista que somente onde houvesse condições de ampliar-se a reprodução do capital tornou-se alvo do processo de globalização iniciado pós segunda grande guerra.

O sudeste brasileiro, a título de exemplo, tornou-se espaço privilegiado para a penetração do capital externo, conforme orientação dos geógrafos teoréticos-quantitativos. Enquanto isso, a região Nordeste não apresentava-se com nenhum atrativo, suscitando a formação do GTDN (Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste), embrião da SUDENE.

Começaram a ser formadas as ilhas de excelência do desempenho do capitalismo globalizado, a exemplo dos Tigres Asiáticos. Insurgências como a verificada no Vietnam do Norte passaram a ser tradas como casos de polícia internacional, dando ênfase a tragédias terribilíssimas que marcaram indelevelmente a história da humanidade.

No Brasil, ecos importantes da geografia teorético-quantitativa estão presentes principalmente no campus da UNESP de Rio Claro/SP. A Associação de Geografia Teorética representa a profunda influência na produção científica nacional da corrente geográfica surgida a partir de 1950.

O retorno do nacional-populismo Varguista em 1950 impediu por seis longos anos que as pretensões externas se consolidassem, dificultando extraordinariamente os planos traçados para a inserção do cone sul na fase da globalização definida antes do término do segundo conflito mundial do século XX.

Monopólio do petróleo e a intransigência quase draconiana das portarias da Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), que protegiam o meio circulante de brasileiro de troca, são exemplos do desafio lançado pelo nacional-populismo à proposta de internacionalização da economia nacional.

Indícios de posturas nacionalistas passaram a ser tenazmente perseguidas e desmobilizadas em quase todo planeta, usando-se para tal da indispensável e eficiente política externa do grande porrete (Big stick).

A atuação fanática por várias partes do globo, reprimindo ferozmente qualquer motivação contrária à fase da globalização que tinha como carro-chefe a atuação marcada pela ubiquidade das grandes empresas transnacionais, talvez tenha levado importante teórico da corrente geográfica a serviço do capital externo e da globalização marcada pelo avanço impressionante da revolução técnico-científica-informacional a mudar radicalmente de posição e de pensamento acerca dos rumos que devem nortear a ciência geográfica.

David Harvey (Gillingham, Kent, 7 de dezembro de 1935) tornou-se figura basilar da geografia teorético-quantitativa, mas desencantou-se com os rumos dessa vertente geográfica e, a partir de 1969, começou a produzir trabalhos com influência no materialismo histórico-dialético, fomentando denúncias sociais.

Servindo magistralmente a interesses dominantes e dominadores, a geografia teorético-quantitativa consagrou-se em beneficiar os donos do gigantesco capital representado pelas grande empresas transnacionais a firmar nova etapa na história da humanidade, cuja marca impressiona em razão da permanência das contradições acintosas a nível de escala que ainda perduram em função da ganância desmedia que assinala o comportamento das maiores potências do globo em sua sanha cotidiano nos desafios para situar a hegemonia do planeta enquanto condição sine qua non de status e de poder.

[1] José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UERN).

[2] Marcela Ferreira Lopes. Geógrafa-UFCG/CFP. Especialista em Educação de Jovens e Adultos com ênfase em Economia Solidária-UFCG/CCJS. Graduanda em Pedagogia-UFCG/CFP. Membro do grupo de pesquisa (FORPECS) na mesma instituição.

Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso

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