Por Clerisvaldo B.
Chagas, 12 de março de 2015 - Crônica Nº 1.385
Após as
cheias periódicas do rio Ipanema, as águas formavam poços no seu leito arenoso.
O mais famoso era o poço dos Homens, por trás do comércio de Santana. A pesca
era livre com destaque para alguns elementos da sociedade local. Assim
encontrávamos sempre a fisgar mandim, Toinho Baterista (depois Toinho das
Máquinas) que só pescava de anzol. Seu Quinca, alfaiate, o mais antigo
profissional que conheci, também fazia ponto pescando de anzol. Dizem até que
quando ele chegava ninguém conseguia pescar mais nada. Havia tarrafeiros em
busca de bambás (denominadas Xiras no rio São Francisco). No poço havia um
peixe pequeno chamado piaba e o corrupto do “submundo” conhecido como carito ou
chupa-pedra. Não passava de cinco centímetros, feio, boca de sapo, ignorado por
todos. Mais tarde surgiram no Ipanema o cará e o pitu.
Carito
do rio Ipanema. Foto: (Clerisvaldo).
Nós, meninos,
antes, pescávamos piabas, com litro de vinho, do fundo virado para dentro,
tendo como isca um pouco de farinha.
O que nunca
pude entender era o modo de pesca de um cidadão da Rua e Bairro São Pedro,
chamado Joaquim Reis. Não queria outra coisa; nem piaba, mandim ou bambá.
Preferia pegar à mão os corruptos caritos jogados pelas águas nas pedras do
poço.
Joaquim Reis
tinha nobreza no nome. Eu já percebia isso, mesmo com idade pouca. Era pobre,
está certo, mas por que aquela miserável preferência pelo peixinho desprezado
por todos?
Existem na
Câmara Federal, no Senado, nas Câmaras Municipais, pessoas de altíssima
qualidade moral que honram os seus eleitores, familiares, mandato e o seu país.
Os seus salários já são uma exorbitância e contam ainda com as mordomias dos
antigos déspotas europeus. Tudo é imoral, mesmo sendo legalizado. Enquanto isso
o povo geme como gemia na França da Idade Medieval.
Esses pelos
menos pescam gordas bambás, robustos mandins e gigantes pitus.
Mas por que
outros nobres nos títulos insistem em buscar os caritos do submundo?
Talvez Freud
não explicasse essa tendência aberta para a corrupção escalonada e contínua,
mas com certeza se Joaquim Reis ainda fosse vivo, no instante resolveria esse
mistério.
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