Por Lucivânio
Jatobá
Elas chegaram, antecipadamente anunciadas por um forte calor e pela
direção Nordeste assumidas pelos ventos, ao território potiguar, neste ano de
2015. De súbito, os céus, quase que permanentemente azul por
imposição de um anticiclone inclemente, assumem uma coloração acinzentada e
ficam atapetados por enormes nuvens cúmulo-nimbos. Logo, esses gigantescos “flocos
de algodão celestial” se desfazem em pesados aguaceiros de caráter
convectivo, enchendo os rios temporários e alimentando com água os solos rasos
sertanejos. São as chuvas de outono.
As chuvas de outono, na parte centro-setentrional do Nordeste, área-core do
trópico semiárido brasileiro, decorrem dos avanços meridionais de
um importante e imponente sistema atmosférico, conhecido no jargão
climatológico como Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Trata-se de uma
faixa de baixas pressões atmosféricas para a qual convergem os fluxos dos
alísios de Nordeste e de Sudeste, caracterizada pelos elevados índices de
umidade atmosférica e pela presença constante de nuvens de notável
desenvolvimento vertical. Esse sistema migra para o norte ou para o sul do
Equador geográfico, de acordo com a marcha aparente anual do Sol na
Eclíptica. Sua migração extrema para o sul ocorre exatamente no outono.
Há anos em que essa migração para o sul é mais enérgica. E´ nesse momento
que a ZCIT , que não respeita as imposições orográficas, ultrapassa
facilmente a chapada do Apodi e penetra pelos principais vales fluviais
do sistema hidrográfico potiguar. Percebe-se a presença da ZCIT
quando os céus, mesmo à noite, ficam iluminados pelos raios e
pelos estrondos imensos das trovoadas, que fazem lembrar o início
de um cataclisma que se anuncia, mas que não se consuma.
A ZCIT é fortemente influenciada pelas temperaturas das águas do Atlântico
norte e do Atlântico sul. Nos anos em que as águas do Atlântico norte estão
mais fria do que o normal, na faixa de latitudes correspondentes ao
Senegal e Cabo Verde, os alísios de Nordeste adquirem mais energia, com o
fortalecimento impressionante do Anticiclone dos Açores, e, no embate com
os alísios de Sudeste, conseguem, para a alegria do sertanejo, impelir para o
sul a massa de nuvens que acompanham a ZCIT. As chuvas, mesmo com a lamentável,
às vezes, irregularidade espacial, fazem brotar, logo o feijão e o
milho plantados pela agricultura familiar, no dia consagrado a São José.
Ao largo das plantações renasce a flora agonizante das caatingas, parafraseando
um pouco Euclides da Cunha.
O ano de 2015 promete... Promete, pelo menos no que tange ao
regime de chuvas de outono. O Atlântico Norte está anomalamente frio, ao
contrário do ano de 2014, quando a situação era inversa. O quadro
pluviométrico, que começou a dar sinais vitais, é animador. O sertanejo
fixa o olhar no horizonte e renova as esperanças. A dinâmica da natureza se
revela favorável `as atividades agrícolas.
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